segunda-feira, 26 de abril de 2021

Um Oscar histórico para o bem e para o mal

Não consegui assistir a cerimonia do Oscar, só fragmentos, hoje, durante a tarde.  Tinha que cuidar da minha criança que dificilmente vai dormir sem mim.  Fui seguindo pelo Twitter a cerimônia e percebendo algumas mudanças muito incômodas na ordem dos prêmios.  Melhor direção e filme, as últimas categorias, que geram uma enorme ansiedade, foram anunciadas antes de outras e deixaram melhor ator para o final.  Tudo parecia armado para uma homenagem para Chadwick Boseman, mas estragaram a festa e foi o final mais anticlimático que eu já vi.

Quem leu o que eu escrevi ontem, sabe que eu defendia que Chadwick Boseman recebesse um prêmio honorário, afinal, a morte dele foi traumática, ele era um grande ator e trabalhou até o último momento possível apesar de estar sofrendo com um câncer e seu tratamento que o debilitava.  Esses detalhes sobre ele deveriam ter um peso a mais, ele foi um gigante e acredito, estou atribuindo-lhe um ar heroico, mas acredito que ele fez o que fez para entrar na história e abrir caminho para outros astros negros e honrar aqueles que vieram antes dele.  Sim, estou sendo super romântica mesmo.  Só que a categoria melhor ator, a última, algo inédito, até onde eu sei, foi Anthony Hopkins que sempre trabalha muito bem, mas foi muito elogiado por Meu Pai.  A câmera girou na hora para a mesa onde estavam, acredito, a viúva de Boseman e uma outra mulher, talvez a mãe, ou a sogra dele, e a moça mais nova cobre o rosto e a outra toca seu ombro com carinho.  Foi feio, sabe?

Hopkins sequer estava presente na cerimônia, não pré-gravou seus agradecimentos, nada, seu agente avisou até que estava dormindo.  Hoje, ele postou em seu Instagram um tributo à Boseman, reconhecendo seu talento, trabalho que deveria ter sido feito pela Academia.  Quando foi a vez de Heath Ledger, na apresentação dos atores concorrentes, ele foi homenageado.  Porque foi diferente?  Um amigo que acompanha cinema muito mais que eu, ressaltou ainda que encurtaram as apresentações dos atores e atrizes antes das premiações, algo que poderia dar conta da homenagem ao Chadwick Boseman e o In Memoriam, que poderia render um programa inteiro, foi curto e sem a emoção de outros anos.  E isso em ano da morte de Enio Morricone, Olivia de Havilland, Sean Connery etc.  Senti falta de Kirk Douglas, mas ele, que morreu no meu aniversário de 2020, tinha entrado no ano passado. Consegui assistir ao In Memoriam, o vídeo está aí embaixo, e achei desrespeitoso.

O In Memoriam teve 4 minutos e 40 segundos, 1 minuto e 23 segundos dos quais ocupados pela fala da apresentadora.  As fotos passaram tão rápido, que qualquer distração, você perdia.  Nada de um espaço especial para Enio Morricone, talvez usar de fundo uma das suas músicas.  Houve um destaque mínimo para Sean Connery e Chadwick Boseman.  Já Olivia de Havilland foi mais uma da multidão.  Alguém listou no Youtube algumas ausências Jessica Walter, Tanya Roberts, James Lipton, David Prowse, Adam Schlesinger, Kenny Rogers, Anne Beatts, John Saxon, Jeremy Bulloch, Larry King, Larry Flynt e tantos outros.  Foi o pior dos In Memoriam.  E, outra coisa, apesar da lembrança das vítimas do COVID-19 no mundo feita pela apresentadora, ninguém usava máscara.  Faltou consciência.

Falando em coisas boas, Chloé Zhao fez história e levou melhor filme, melhor direção e melhor atriz para Frances McDormand por Nomadland.  McDormand agora só perde para Katharine Hepburn, que levou quatro vezes por melhor atriz.  Eu tinha apostado contra ela e perdi.  McDormand também fez história por ser a primeira atriz a ganhar como produtora, também, ela ajudou a bancar Nomadland.  O filme, aliás, perdeu duas estatuetas nas quais era favorito e que colocariam Zhao em um grupo ainda mais diferenciado, Montagem, que ela mesma fez, foi para O Som do Silêncio e roteiro adaptado ficou com Meu Pai.

Achei engraçado, não, ridículo mesmo, que O Globo desse a seguinte chamada "Chloé Zhao é a primeira mulher não branca a vencer o Oscar de direção".  Crianças, quantas mulheres ganharam o Oscar de direção?  DUAS.  Uma branca, a outra, não.  50% é uma representatividade enorme, mas eu fui atrás dos números gerais.  Vamos lá!  "De 1928, o ano do primeiro Oscar, até 2019, houve 455 indicações para Melhor Diretor. Destes, 18 deles foram para homens não brancos. Apenas 5 deles eram mulheres." As da foto, aí em cima.  Este ano, foram duas indicadas, porque, além de Zhao tínhamos  Emerald Fennell. Percebem o buraco?  E esse artigo não computa os latinos como não-brancos, porque se fossem computados, teríamos 8 latinos foram indicados o Oscar de melhor direção, foram cinco vitórias, Cuarón duas vezes, Del Toro uma vez e Iñárritu duas vezes. Dentre eles, dois brasileiros, Fernando Meirelles e Hectos Babenco. Este ano, entraram mais duas mulheres e dois homens de cor.  Detalhe, nenhum homem negro, porque mulher negra não foi indicada ainda, recebeu Oscar de melhor direção até hoje, 93 edições do Oscar.  Spike Lee já mereceu pelo menos umas três vezes, provavelmente mais, e só lhe deram uma estatueta de roteiro adaptado por Infiltrado na Klan.  Percebem o absurdo do título do artigo do Globo?

Mas não terminou, não.  Chloé Zhao migrou para os EUA aos 14 anos.  Não sei detalhes da vida dela, mas ela fez comentários negativos ao país de origem, ou que poderiam ser interpretados como tal.  Por conta disso, seu nome, ou as menções ao seu prêmio, foram bloqueados na internet chinesa.  Sim, lá a coisa é controlada e censurada pelo governo.  Talvez, a própria estreia do filme por lá, que poderia ser celebrada, talvez nem aconteça mais.

Ah, sim!  A atriz coreana Yuh-Jung Youn venceu o Oscar de melhor atriz coadjuvante surpreendendo ZERO pessoas que acompanham a premiação e estavam de olho na trajetória de Minari.  Por qual motivo digo isso?  Normalmente, esta categoria premia veteranas e estreantes, as atrizes mais jovens premiadas e as mais idosas.  A sul coreana era a favorita, até porque Minari estava muito bem cotado.  OK.  Daí, alguém vem e me diz "Fernanda Montenegro concorda com sua análise." Essa conversa me cansa, para dizer o mínimo.  É aquela coisa, Fernanda Montenegro precisava de um Oscar para ser Fernanda Montenegro.

Para quem não conhece a história, em 1999, Fernanda Montenegro foi indicada ao prêmio de melhor atriz por Central do Brasil e quem ganhou, em confronto também com gente como Cate Blanchett, foi Gwyneth Paltrow.  Injusto, sem dúvida, mas ela estava indicada à melhor atriz e eram outros tempos mesmo.  ainda hoje, aliás, o prêmio é do cinema norte americano e eles abrem concessões para filmes e profissionais de outros países, simples assim.  A indicação de Fernanda Montenegro já era uma espécie de premiação por um trabalho memorável.

De resto, quando a pandemia terminar, poderemos voltar aos cinemas e as cerimônias do Oscar serão mais legais e não estou reclamando dos concorrentes, mas do formato da cerimônia mesmo. Sim, eu não acredito na morte do cinema e quero poder voltar a fazer uma das coisas que mais gosto nessa vida.  E acabou meu post sobre o Oscar que eu não assisti e o primeiro em muito tempo com tão poucos filmes assistidos.

1 pessoas comentaram:

Nossa que legal ver um blog sobre shoujo ativo
Eu estava procurando sobre o anime Utena, a garota revolucionária e percebi a notícia recente sobre o oscar
Parabéns!!

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