quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Melhor sacada de Nos Tempos do Imperador até agora: Tonico foi o responsável pela Questão Christie


Os capítulos #38 e #39 de Nos Tempos do Imperador, os primeiros a estarem totalmente depois do salto no tempo de oito anos continuaram com os problemas de sempre, mas trouxeram uma trama interessante.  Tonico tornou-se  um deputado bem sucedido e o espinho na carne do imperador.  Dono do jornal O Berro, ele difama sua majestade D. Pedro II todos os dias.  Vive criando "fake news" e citou o versículo "E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará." (João 8:32).  Fica cada vez mais claro em quem Tonico se inspira, mas ele é melhor que o excrementíssimo e Alexandre Nero está deitando e rolando com o seu vilão. 

Já no capítulo de segunda, Caxias comunica ao imperador do naufrágio do navio inglês Prince of Wales, ocorrido em fins de 1861 (*as datas não estão sendo levadas à sério aqui pelas minhas contas*), D. Pedro II, mais preocupado em dar seus pulinhos com a Condessa, parece ignorar o caso.  Este é o ponto de partida da importantíssima Questão Christie (1862-1865), que levou ao rompimento das relações entre Brasil e o Reino Unido.  A novela colocou Tonico como o responsável por atiçar tanto o embaixador britânico, William Dougal Christie, interpretado pelo excelente e subaproveitado na Globo Guilherme Weber, e o imperador.  Se quiser saber o que foi a Questão Christie, tem um pedaço da minha aula aí embaixo:


Olha, essa trama está uma delícia, porque é o tipo de encaminhamento que funciona em uma trama de história alternativa.  Você pega uma personagem ficcional e a costura em um evento real lhe dando uma atuação preponderante, mesmo que possa ser escondida.  Caso de Tonico.  E descobrimos que Nélio sabe inglês, aliás, está previsto que Nélio se apaixone por Dolores.  Eu tinha apostado nesse encaminhamento e, ao que parece, ele irá acontecer.  Espero que Nélio acolha Dolores, de repente, ensine coisas para ela, ler melhor, por exemplo, e coloque os chifres e m Tonico.

Falando em Dolores e Eudoro, Daphne Bozaski está muito bem e continuando o excelente trabalho que a menina Julia Freitas já vinha fazendo.  As duas são fisicamente parecidas e muito talentosas.  José Dumont nem se fala, ele é um dos destaques da novela desde o início.  Vamos lá, eles tiveram duas cenas importantes e relacionadas à revelação do casamento eminente da moça com Tonico.  Dolores está desesperada, o pai vai lhe levar o que comer.  A cena é bonita, carinhosa, crível e, ao mesmo tempo, horrenda e absolutamente norteada pelas desigualdades de gênero. 


Eudoro se preocupa com Dolores, ele não etá mentindo, mas para dominá-la, ele minou qualquer capacidade de autodeterminação da menina.  Ela é dependente e submissa, ela tem medo, ela é ignorante de tudo, inclusive como as crianças são feitas.  Dolores será capaz de se revoltar e tomar seu destino nas mãos?  Agora, há quase um repeteco da mesma cena, com o pai lhe levando mingau.  É estranho, porque fica parecendo que os dois estão na penúria.  Uma casa vazia, sem escravos, Dolores cuidando do pai doente, ele reclamando das mãos calejadas da menina.  Mas eles eram ricos!  Sim, o acordo de casamento era para unir fortunas e o próprio Tonico disse no capítulo de ontem que Eudoro foi esperto e enriqueceu com a venda do algodão aproveitando-se da Guerra de Secessão (1861-1865).  E fica já sugerido que Tonico não foi esperto, ele é que deve estar à beira da falência, isso se Nélio não está responsável por suas finanças e tentando manter as coisas em ordem.  

O capítulo de ontem tentou, em vão, na minha opinião, fazer uma analogia entre D. Pedro e sua amante alma gêmea, amor de sua vida, e Tonico que, de casamento marcado, diz que vai se divertir ainda mais com prostitutas depois de passar a viver com Dolores.  Desculpe, Pedro II é o mocinho, ele deveria ter um pouco de compostura, já Tonico, bem, o vilão pode fazer o que quiser.  D. Pedro histórico tinha muitas amantes, mas era discreto.  O da novela está todo errado.  Voltando para Eudoro, acredito que a reconciliação dele com Pilar virá quando a jovem o curar de sua doença.  Aguardem.  


Falando da subtrama ruim, agora.  A Lupita de Roberta Rodrigues é uma personagem simpática.  Trambiqueira, mas do bem.  Os autores, no entanto, decidiram deslocá-la para o mal sem apelação.  Como isso está sendo feito?  Ela é uma escrava que tem escravos.  Primeira coisa, poderia afirmar com quase 100% de certeza que como escrava ela não poderia ter escravos.  Se fosse  forra, sim.  Segundo, se as escravas fossem alugadas de Borges, vilão assassino e dono de Lupita, até iria, mas não é o caso.  Terceiro, ela, uma escravizada, que tem condições de comprar sua liberdade, mas cujo senhor se recusa a ceder, fez discurso contra os abolicionistas e foi mostrada examinando os dentes de outras mulheres negras como ela, avaliando a mercadoria.

Que Lupita seja ambiciosa, que se torne amante de Batista por interesse, que dê uns pegas em Bernardinho, o filho mestiço do amante que acabou de aparecer na novela, OK, que se alie à Borges, não.  Que se tornar mesmo escravizada, senhora de outras mulheres é destruir a personagem.  Estão mesmo recebendo alguma orientação de especialistas nas questões afro-brasileiras?  Sabe o que fica parecendo?  Coisa do pessoal que quer ficar repetindo que Zumbi não pode ser herói, porque ele, um negro, (supostamente) teria tido escravos.  Está me enojando essa manobra dos autores, muito mesmo tanto por ecoar essas bobagens racistas, como por manchar uma personagem que tinha muito potencial.  O que vai ser de Lupita?  No final da novela será punida junto com os vilões?.


Já concluindo.  Samuel continua chato.  Pilar continua chata.  As crianças de Clemência e Quinzinho são insuportáveis.  Guebo (Maicon Rodrigues) pode ser interessante, vamos ver como ele se insere dessas novas tramas.  E, vejam bem, continua ridícula a história de Samuel se sentindo pai dele, quem deveria ter assumido o garoto era D. Olú.  O ator que faz Bernardinho, Gabriel Fuentes, é muito bonito, e o que faz Guebo, também, mas ele é um safado e deve estar enganando os pais, gastando seu dinheiro e mentindo sobre estar na Marinha.  Eu não li spoilers neste caso, estou só apostando.  Consegui rir genuinamente de Lota no último capítulo, a história dos três esqueletos está divertida, muito mesmo.  

E figurino?  Gastaram todo o dinheiro com a Barral e economizaram com as outras atrizes.  É uma pobreza de dar dó.  Não precisavam fazer um figurino gigantesco, não estou pedindo Bridgerton, mas o cuidado que a Globo sempre costuma ter com suas novelas de época.  Querem ver?  Passaram-se dois dias pelo menos entre a segunda-feira e ontem, mas a imperatriz, Pilar, as princesas, continuam com a mesma roupa.  Pilar, aliás, continua com o amarelo, até as anáguas são amarelas.  As anáguas!  E eu imaginando que iriam colocá-la com um cabelo belamente trançado, qual nada!  E chapéu, claro, só quem usa regularmente é a Condessa e isso porque só a Mariana Ximenes mereceu um figurino completo.


Concluindo, a novela continua muito mais ou menos.  Tonico pontua alto, o núcleo do Recôncavo é excelente.  Lupita continua boa, porque a atriz é ótima, mas sua trama está caminhando para o abismo.  E vamos ver o que fazem de Nélio e Dolores.  Assistir novela para ver inconsistências históricas, falar mal do figurino, elogiar o vilão e torcer por um punhado de coadjuvantes  é triste.  Ah, sim!  D. Pedro pede que Pilar sorria em uma foto.  As pessoas normalmente não sorriam em fotos antigas, porque era preciso esperar um longo tempo na mesma posição antes de bater a foto, é mais difícil manter um sorriso, do que um rosto neutro.  Pedir para sorrir pareceu gentil da parte do imperador, mas não fazia muito sentido na época.

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