sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

Este não é um post de "Feliz Ano Novo", mas eu torço para que você faça diferença em 2022

AVISO: Este é um post abertamente político, os demais também são, porque sempre me coloco, mas este é conscientemente direcionado.  Se você não quiser ler, pule, há centenas de outros no Shoujo Café que podem ser do seu agrado.

Neste exato momento, o Sul da Bahia e outras regiões, particularmente na região Nordeste, estão debaixo d'água.  Há mais de duas dezenas de mortos no momento, fora os milhares de desabrigados.  O governo do Estado da Bahia abriu um canal para doações, mas existem outras vias para ajudar, recomendo acompanharem o trabalho que o Carlito Neto, do canal O Historiador, está fazendo.  A família dele é de Itabuna. 

Enquanto isso, nosso presidente está de férias, ainda que não tenha passado o poder ao vice-presidente, conforme a lei exige, e suas redes sociais postam diariamente seus passeios e interações com populares.  Ontem mesmo, ele foi ao Beto Carreiro, um grande parque de diversões, brincou de drift com um carrinho enfeitado como um Hot Wheels, como se fosse um menininho.  Depois, passou em uma das lojas da Havan e recebeu o kit patriota que trazia uma bola de futebol, toalha de praia, cooler para bebidas e uma bandeira do Brasil de funcionários (aparentemente) bem empolgados.  

Tente agora imaginar qualquer líder de um país, de Biden à Putin, passando pela Rainha Elizabeth II, ou um de seus parentes na linha de sucessão ao trono, ou o primeiro-ministro de Israel, fazendo algo do tipo.  É inimaginável.  É monstruoso.  Ainda assim, há quem o defenda, quem justifique a falta total de empatia, além de gasto de dinheiro público, isto é, do nosso dinheiro..

O professor Michel Gherman, que foi meu calouro no curso de História da UFRJ, comentou no Twitter ontem que a falta de interesse do presidente pelo drama na Bahia, era uma mensagem sobre quais brasileiros realmente importam. Estar em Santa Catarina neste momento e, não, em outro estado qualquer da federação, é um código para seus apoiadores. São os brasileiros que contam, os que se consideram brancos e trabalhadores. Já os baianos, os nordestinos em geral, são brasileiros sem importância. Lembrando que há material suficiente apontando para ligações antigas entre sites neonazistas e o apoio à Bolsonaro e recomendo a entrevista da antropóloga Adriana Dias ao The Intercept para maiores detalhes.

Outro analista, infelizmente não me recordo quem agora, mas que não trabalha com questões ideológicas diretamente, apontou que a Bahia seria território absolutamente perdido para Bolsonaro nas próximas eleições, logo, nas estratégias do presidente, não seria interessante nem tentar recuperar o território.  Que a Bahia seja varrida pelas águas, então.

Ao ler isso, eu só lembro que, caso tenhamos eleições em 2022, a Bahia é um dos cinco colégios eleitorais estratégicos para levar o Brasil, os outros são Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro e, citando matéria do Globo de hoje: "Juntos, São Paulo, Minas, Rio, Bahia e Rio Grande do Sul concentram 53,5% (78,4 milhões) do total de eleitores do país. São esses locais que os presidenciáveis devem priorizar nos próximos meses para construir a rede de sustentação que os permita chegar ao Palácio do Planalto."  Em 2010, Dilma ganhou, porque levou o Rio, os votos dos evangélicos migraram de Marina para ela no segundo turno. Em 2014, Aécio perdeu em Minas Gerais, estado que ele próprio governara.  Perdeu, porque é isso, ele perdeu as eleições prsidenciais e Dilma não ganhou, pois o golpe já estava em andamento, sendo Aécio figura central nessa tragédia, ao não garantir Minas Gerais. 


Será que Bolsonaro pode abrir mão da Bahia?  Será?  E o Norte de Minas, ao lado do Sul da Bahia, também está sendo castigado pelas chuvas e precisando de ajuda.  Será que Minas também pode ser descartada?  Subestimar Minas Gerais é sempre um erro.  A não ser, claro, que exista alguma carta na manga, ou expectativa que não está no radar da maioria da imprensa no momento.  E recomendo o texto do Prof. Vinicius Vieira chamado Ao ignorar enchentes, Bolsonaro indica que golpe ainda é carta na manga.  Leiam e guardem com carinho, porque ele pode ser assustadoramente lúcido à respeito do futuro que nos espera.

Todas essas análises são válidas. Já o Portal do José bate todo o dia que na TV aberta, em especial no Jornal Nacional, não se dá destaque a esse desprezo do presidente pelo seu próprio povo, a esta falta de empatia. A tragédia no Sul da Bahia é amplamente divulgada, assim como foram os picos de contaminações e mortes do COVID-19, mas sem fazer um link direto e abertamente c´ritico ao presidente.  É como se ele não existisse.  Mostrar na Globo News, que tem uma base de audiência muito pequena e selecionada, ou nos jornais impressos, não repercute como colocar na TV aberta para todos verem. 


O que isso indica? Que o projeto econômico por trás de Bolsonaro ainda é o projeto da grande imprensa. Eles até poderão abrir mão do mito, caso tenham alguém melhor, mas, caso não seja possível, caso não tenham um candidato mais civilizado, eles vão continuar acobertando Bolsonaro, batendo leve nele, até o fim.  2022 será infernal, não tenham grandes esperanças.

Enfim, se você está lendo este post, você sobreviveu ao segundo ano de pandemia.  Teremos um terceiro e, espero, não um quarto.  Neste exato momento, continuam tentando sabotar a vacinação, eu tenho uma filha de 8 anos e me sinto particularmente atingida por esse desejo governamental de atrasar a imunização do grupo entre 5 e 11 anos.  O problema é que a COVID-19 não é o único mal que assola nosso país.  2022 é um ano chave para tentar mudar a situação, começar a colocar as coisas em um eixo melhor.  

Se você tem idade para tirar o título, tire.  Se você tem o título, vote.  Não estou sugerindo em quem votar, mas que o faça conscientemente.  Agora, sou muito clara em dizer que temos, sim, o pior dos governos, porque nunca se viu gente tão competente em destruir a economia e agredir os valores mais básicos daquilo que nos torna humanos.  Repito, 2022 será um ano fundamental para o futuro do Brasil e você pode fazer diferença para que a barbárie seja contida.

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