sábado, 16 de abril de 2022

Comentando Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore (UK/EUA/2022): Mais uma Decepcionante Incursão ao Universo de Harry Potter

Como Júlia insistiu, fui assistir Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore (Fantastic Beasts: The Secrets of Dumbledore).  O filme é ruim?  Não.  O filme é bom?  Longe disso.  Resultado?  Tenho certeza de que me esquecerei dele com a mesma rapidez com a qual me esqueci dos dois anteriores.  Agora, sou velha o suficiente para ter visto filmes ruins e poder dizer que boa parte da carga pesada contra o título deriva da antipatia mais que merecida contra J.K. Rowling.  Ela é a roteirista e autora da façanha, se ela se saia muito bem escrevendo livros, o mesmo não se aplica aos filmes.  São mídias diferentes, há quem se vire bem nas duas profissões, há quem não dê conta do recado, o fato é que a prequel Animais Fantásticos não faz justiça ao universo de Harry Potter, fora as mudanças e erros, como colocar a Prof.ª Minerva na Hogwarts da nova série.

Vamos ao resumo do filme (*encontrei por aí*):  O professor Albus Dumbledore (Jude Law) sabe que o poderoso bruxo das trevas Gellert Grindelwald (Mads Mikkelsen) está se movendo para assumir o controle do mundo bruxo. Incapaz de detê-lo sozinho, ele confia ao magizoologista Newt Scamander (Eddie Redmayne) para liderar uma intrépida equipe de bruxos e bruxas. Eles logo encontram uma série de feras antigas e novas enquanto enfrentam a crescente legião de seguidores de Grindelwald.

Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore atrasou por causa da pandemia e a ansiedade que alguns sentiam por ver a continuação da saga de Newt Scamander e do jovem Albus Dumbledore foi arrefecendo desde a escalação de Johnny Depp para o papel de Grindelwald e se agravando conforme a autora, J.K. Rowling se tornava cada vez mais uma militante contra as pessoas trans.  E, não, eu não vou discutir isso, nem vou publicar comentários de quem venha dizer que não é bem assim.  Aqui, esse tipo de ladainha não tem espaço.  

Com atraso, com problemas, o fato é que a franquia seguiu e o filme finalmente foi para o cinema contando com a presença da brasileira Maria Fernanda Cândido como a Ministra da Magia dos Estados Unidos do Brasil e candidata ao posto de chefe supremo do conselho mundial de bruxos e bruxas.  Papel pequeno, quase sem falas, mas a atriz é sempre uma presença marcante com sua beleza e elegância.  E o outro candidato, o chinês, Liu Tao (Dave Wong) falou menos ainda.

Infelizmente, pouca coisa acontece em um filme tão longo, 142 minutos.  E, pior, haveria muita história para contar e explicar.  O fato é que é o tipo de filme de meio de franquia, ele não consegue finalizar nada com qualidade e ainda corre para dar um desfecho para a trama da personagem Credence (Ezra Miller).  Talvez, a pedido do ator, talvez, por pressão da Warner, mas Credence que era um dos protagonistas da trama teve sua importância obliterada.  O problema é que o final de Credence é corrido e parece ignorar o que tinha sido sinalizado anteriormente.  

O que estava indicado no segundo filme é que Credence seria Aurelius, irmão perdido de Dumbledore.  Por qual motivo ele fora escondido?  A rejeição o tornara um obscurus?  Neste terceiro filme, ele continua um Dumbledore, mas sua origem é alterada.  Não darei spoilers, mas digo que e o "segredo" sobre como Credence foi gerado e por qual motivo foi rejeitado, poderia fazer sentido, afinal, toda família tem seus esqueletos no armário.  O fato é que Credence não volta em um próximo filme, porque tem que haver pelo menos mais um, e, se voltar, ele nada terá a fazer na película a não ser morrer.  (*se quiser saber o spoiler sobre a origem da personagem, está depois do trailer*)


De resto, fica claro qual o teor da relação entre Dumbledore e Grindelwald.  O fato de terem sido amantes aparece mais de uma vez no filme, o problema é que o diálogo entre ambos pareceu frio, distante, sem nada que sugerisse que, um dia, houve afeto entre eles e tenha sobrado somente rancor da parte do vilão e arrependimento da parte do mocinho.  Só que eu assisti dublado, então, não tenho como avaliar atuação de ninguém e nem vou tentar.  Posso estar sendo injusta.  Aliás, Grindelwald virou GERARDO.  Traduzir nomes é uma m****. E antes que alguém fale que isso já foi comum, eu marco que em Harry Potter isso é seletivo, ou Harry seria Henriquinho e Ronnie seria Naldinho.

O filme pedia pelo menos três flashbacks: um mais longo explicando o nascimento de Credence; outro para a morte de Ariana, mais outro para a relação de Dumbledore e Grindewald.  E não pensem que estou pedindo cenas de intimidade dos dois, a série Animais Fantásticos não apresenta muita coisa no sentido afetivo e/ou sexual mesmo e não começaria com um casal formado por dois homens, estou simplesmente pontuando que contar o que foi narrado não é o suficiente, é preciso mostrar.  É cinema, não é literatura e o filme longuíssimo poderia ter cenas cortadas e outras acrescentadas.

De resto, nada é realmente bem desenvolvido ou explicado neste filme.  Grindelwald é perdoado de todos os seus crimes pelo chefe supremo da comunidade bruxa, assim, sem maiores explicações.  O que ele fez em Nova York, em Paris, antes até, nada.  E ninguém faz um escândalo sobre o ministérios alemão estar contaminado e/ou dominado por Grindelwald; Por exemplo, Theseus (Callum Turner), chefe dos aurores do Reino Unido, é preso e colocado em uma masmorra clandestina do ministério alemão e dá em nada, como se fosse muito normal um negócio desses e não fosse gerar um incidente internacional. Se Newt não o tivesse salvado, ele seria morto.

Já a tal eleição, além de aceitar Grindelwald como candidato (*de qual país mesmo?*), ninguém votou em ninguém e é um bichinho fofo que decide quem vence.  Não faz sentido mesmo.  Eu ainda tinha a esperança de que Queenie (Alison Sudol) fosse uma espiã entre os seguidores de Grindelwald, plantada lá por Dumbledore, ou pela MACUSA (Magical Congress of the United States of America), correndo perigo, mas nem isso!  Como ela passou para o lado do bruxo das trevas, suas motivações, não houve explicação no filme 2, nem neste agora.  Ela voltou para o lado dos bonzinhos sem ter que justificar nada.  Já Tina (Katherine Waterston), mal aparece, ainda que seja referenciada várias vezes.  Yusuf Kama (William Nadylam), escolhido para a equipe de Newt, tem poucas cenas importantes, menos do que poderia ter.

Pontos positivos: Mads Mikkelsen tem mais presença como Grindelwald do que Johnny Depp, mas eu não ouvi sua voz, então, estou falando somente da figura mesmo. Eulalie Hicks (Jessica Williams) é uma personagem bem legal, simpática, inteligente, e os melhores feitiços são os dela, além de ter um figurino bem elegante, eu diria.  Ela fez um bom par com Dan Fogler, já que Jabob é uma das melhores coisas da franquia inteira.  Gostei da participação da secretária do Newt, Bunty (Victoria Yeates) com sua visível paixão enrustida por ele, que fica mais esquisito a cada filme.  E o Callum Turner estava bem elegante, diria que quase bonito, eu o achei bem horrivelzinho no filme Emma.

Uma crítica que vi por aí e não se sustenta é que os feitiços não são explicados, ou gritados.  Não sei se as pessoas esqueceram, mas já no final da série Harry Potter, a partir do livro 6, se não me engano, já fica dito que bruxos e bruxas adultos e competentes não precisam falar o feitiço.  Isso é coisa de aprendiz, por assim dizer.  Aliás, não é somente em Harry Potter que esse tipo de coisa é dita apresentada.  Lembro na minissérie Merlin com o Sam Neill, quando ele ainda era um principiante e Morgana (*acho*) lhe explicando que no início o mago usa palavras e gestos, depois, somente os movimentos são necessários, já o feiticeiro experiente, usa o pensamento.  Mesmo no mundo de HP, a varinha é somente um potencializador da magia, não sua fonte.  Então, as coisas explicadinhas da série original não fariam sentido na atual, PORÉM tem que ter roteiro, personagens com boas motivações e tudo mais que torna um filme bom e isso falta em Animais Fantásticos.  

Concluindo, o filme tem poucos momentos realmente interessantes, é visualmente menos impressionante que os dois anteriores, o figurino também é menos rico e criativo.  Aliás, a ideia é de que o filme tenha um ar mais pesado, escuro, opressivo.  O problema é que o roteiro não acompanha, não aprofunda, não oferece motivações convincentes ao vilão e os que se aliam a ele, além, claro, de ter anulado o que aconteceu no filme anterior, e meio que resetado o vilão junto com a dispensa de Johnny Depp.  Se eu tivesse que dar uma nota ao filme, seriam duas estrelas e meia de cinco.  E, sim, há a necessidade de pelo menos mais um filme.  Espero que a tortura não siga até o quinto.  

Ah!  Coisa importante!  Pela primeira vez, a sala de cinema estava cheia.  Eu fui na primeira sessão e a parte mais alta, estava lotada.  As quatro fileiras da frente eram somente para a Júlia e para mim.

Credence não é irmão de Dumbledore, é sobrinho.  Lá pelas tantas, é explicado que Aberforth (Richard Coyle), o irmão caçula de Albus Dumbledore, engravidou uma namorada (*espero que tenha sido desse jeito, porque o filme nem explica*) quando ambos ainda eram estudantes em Hogwats.  

A moça foi expulsa do colégio (*explicação ZERO, também*) e esses bruxos e bruxas da Rowling são tão moralistas e hipócritas quanto os humanos comuns.  Não se fala o destino da garota, ou como e onde Credence nasceu.  Não se fala se Aberforth não quis assumir o filho, ou se foi impedido pela família.  Tudo aconteceu na época da morte de Ariana.  Enfim, ele e Dumbledore sentem culpa.  Vejam que dava para ser desse jeito, um segredo de família, daqueles feios, sujos, o problema é que tudo foi jogado no filme sem nenhum desenvolvimento.  Sabe o que ficou parecendo?  Havia uma história traçada para Credence e a autora decidiu mudar tudo e ficou esse remendo sem a estrutura que o filme pedia.  Triste?  Seim, muito.

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