quarta-feira, 8 de junho de 2022

Comentando Koujou Yakei, outro acerto da autora de Perfect World

Em breve, a Newpop publicará Perfect World  (パーフエクトワールド), o maior sucesso de Rie Aruga até o momento.  Em fevereiro, comentei que ela iria lançar um mangá seinen chamado Koujou Yakei (工場夜景).  Enfim, achei que seria uma série, mas é um one-shot com sete capítulos.  Muito curto, muito mesmo, a história poderia render uns bons volumes, mas mesmo tão pequeno, é uma história muito intensa.  

Quando comentei o lançamento, a única informação que tínhamos era a imagem de dois adolescentes com uma fábrica ao fundo e a vinheta "Verão dos 17 anos.  Aquele incidente mudou tudo.".  Esqueci de ir atrás dos capítulos, mas o Manga Mogura comentou o lançamento do encadernado e minha curiosidade foi aguçada: "Um drama humano sobre dois amigos adolescentes tentando manter a amizade após o pai da menina ser acusado de estuprar a mãe do menino.".  Sim, é isso. Pesado?  Bastante, acabei de comprovar.  Dois amigos, Takaomi e Ao, que na verdade se amam e estão prestes a se formar no ensino médio, quando o rapaz decide finalmente se declarar, vem a bomba: sua mãe foi violentada.  A mãe que cuida dos filhos sozinha e era uma profissional competente, um modelo para o garoto, sofreu uma grave violência.

Aa menina está de saída para o encontro, eles irão ver a silhueta das fábricas à noite, e o nome do mangá é literalmente "visão noturna da fábrica", chega a polícia.  Ele embebedou e violentou uma mulher.  Seu pai é preso.  Cidade pequena, todos comentam, a notícia corre, a mãe de Ao desaba.  Ela havia largado emprego e carreira para se casar.  Ao pedir o divórcio, não tem como se sustentar.  Tem que morar de favor na casa de um irmão que já sustenta a mãe de ambos.  O irmão caçula de Ao passa a ser agredido na escola, sofrer bullying.  Ela mesma é atacada por um colega, se ela é filha de um estuprador, deve estar acostumada.

Estou comentando somente o início de um mangá demasiado curto, mas que consegue colocar uma carga de drama e discussões muito pertinentes em pouquíssimas páginas.  A vítima de estupro, mesmo que veja o criminoso punido, o que ocorre na história, pode nunca mais ser a mesma.  Fica o trauma, fica o estigma, ela não tem como continuar vivendo como antes, mais ainda em uma cidade pequena. A família do agressor, também é vitimada.  Em um país com uma rede precária de seguridade social, uma mulher divorciada sem profissão, ou grande experiência no mercado de trabalho, não tem muitas escolhas.

A autora se preocupa em ensinar, porque tenho certeza que a curta cena tem função didática, o que  uma vítima de estupro precisa fazer para ter as provas da violência.  Para isso, ela introduz o tio do protagonista, um advogado e para quem sua mãe liga em primeiro lugar quando consegue ter calma e ainda está no lugar onde o crime ocorreu.  Ela vence (?), mas a pena, no entanto, é baixíssima.  O criminoso pegou 1 ano de prisão, mesmo com todas as provas.  Só isso.  Já a vítima carregará o peso por toda a vida.  A mãe do protagonista nunca conseguiu superar o ocorrido.

Mas há um casal, certo?  Um romance adolescente que foi abortado pelas circunstâncias.  Muito bem, a história se passa em dois momentos.  Começa no presente, retrocede oito anos ao fatídico verão e  retorna para os nossos dias.   Takaomi sempre foi um aluno exemplar, um filho modelo, trabalha para ajudar nas despesas, conseguiu a nota máxima em um exame de proficiência em inglês.  Já Ao, uma menina privilegiada dentro daquela pequena cidade, não sabe o que quer da vida.  O pai, machista do tipo "amoroso", lhe diz que ela precisa estudar para não terminar sem saber fazer nada como a mãe.  

Depois do ocorrido, Ao não consegue entender o motivo de Takaomi não conseguir odiá-la, ela sente culpa pelo pai, ela sente o dever de prover a mãe e o irmão.  "Os filhos não são responsáveis pelos crimes dos pais."  A mãe do rapaz não consegue olhar para Ao com os mesmos olhos, ela sofre e eles se separam.  A autora, no entanto, não vai nos entregar uma história de desgraça absoluta.  Em sete capítulos, ela consegue falar de perdão, ela consegue falar de cura e deixar a mensagem de que é preciso tentar viver cada dia de uma vez.  Takaomi é um menino de ouro realmente, só tenho isso a dizer.

Termino registrando que Rie Aruga volte para o josei.  Aliás, Koujou Yakei poderia estar em uma revista josei sem problemas, mas, com o sucesso de Perfect World, certamente a mangá-ka recebeu convites que possibilitariam ampliar ainda mais o seu público.  Muito bem, ela acertou de novo, entregou uma obra redondinha.  Só lamento que ela não tenha construído a história em pelo menos quatro volumes, pois isso permitiria dar ainda mais profundidade as personagens.  Koujou Yakei poderia tranquilamente virar um pequeno dorama, ou um filme, sem grandes ajustes de roteiro.  Tem scanlations, em inglês, achei somente três capítulos, mas em português achei vários sites com o mangá inteiro.

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