quinta-feira, 13 de abril de 2023

Filme sobre a esposa mais esperta de Henrique VIII competirá pelo prêmio principal em Cannes e ele é dirigido por um brasileiro (!!!!!)

Acabei de descobrir que teremos três representantes do Brasil competindo no Festival de Cannes este ano:  A Flor do Buriti, do português João Salaviza e da brasileira Renée Nader Messora (*Mostra Un Certain Regard*), Kléber Mendonça Filho (*O Som ao Redor, Bacurau, Aquarius, Recife Frio*)[1] estará presente no festival com a exibição especial (fora de competição) de Retratos Fantasmas e na mostra principal temos Firebrand dirigido por Karim Aïnouz (A Vida Invisível).  E, gente, Firebrand é a cinebiografia de Catherine Parr, a última esposa de Henrique VIII, a esposa que ele quase matou, e foi quase mesmo, mas que conseguiu virar a mesa na última hora (*literalmente*) e o papel é da Alicia Vikander, com Jude Law fazendo Henrique VIII quando ele já estava caindo de pobre (*eu não consigo imaginar o ator desse jeito, mas tem que ser*).

Eu sabia de Firebrand pelo site Frock Flicks, achei ótima notícia, mas nem tinha me ligado que o diretor era brasileiro.  Realmente fiquei surpresa e me perguntei "Será que o trailer já saiu e eu não vi???".  Não, não saiu.  Nem imagens do filme é fácil de encontrar (*tem duas ruins neste site*).  Ficarei de olho.  

Para quem não conhece Catherine Parr (1512-1548) casou-se com Henrique VIII em 1543, depois dele ter mandado matar sua quinta esposa, a adolescente Catherine Howard (c.1524-1542).  Parr era duas vezes viúva e ela caiu no radar de Henrique VIII quando o monarca tinha aterrorizado as famílias nobres que o enganassem levando para a corte moças que lhe despertassem o desejo (*de casar*), mas não fossem virgens (*caso de Howard*).  Parr estava na corte, era bonita, elegante e culta (*muito mesmo e Henrique curtia essas coisas, também*), mas estava apaixonada por outro homem, Thomas Seymour (*boy lixo da pior qualidade*). Seymour era irmão da terceira esposa de Henrique, mãe de seu herdeiro, Jane Seymour. Para proteger o amado, ela termina se casando com o velho rei.

E Parr teve um efeito maravilhoso sobre a família disfuncional de Henrique.  Ela cuidava da saúde dele pessoalmente, ela conseguiu reconciliá-lo com suas filhas, Elizabeth e Mary, ela se dava bem com os três enteados.  Ela assistia as aulas que eram dadas à Elizabeth e Eduardo e se tornou ainda mais culta.  E ela exerceu a regência do país em nome do marido pelo menos uma vez.  Catherine Parr era protestante engajada e escreveu livros religiosos, além disso, ela fazia reuniões protestantes na corte, ela discutia teologia com o rei... E foi aí que ela quase foi condenada à morte, porque havia facções mais católicas, que achavam as ideias religiosas de Parr muito radicais.  E Stephen Gardiner (Bispo de  Winchester) e Lord Wriothesley conseguiram fazer com que o rei concordasse em assinar uma ordem para executá-la por heresia e traição.

Alguém avisou Parr e ela conseguiu ir até o quarto do rei (*a ordem de prisão era para o outro dia*) na calada da noite e se prostrou diante dele, humilde, e lhe disse que discutia teologia com ele para aprender mais, porque ele era um poço de sabedoria, e para desviar a atenção do rei de sua perna doente (*uma ferida que nunca fechava*).  O rei era vaidoso, ele perdoou Parr, e ainda passou um a descompostura nos dois lordes.  Fingiu que não tinha assinado coisa nenhuma,  E Henrique morreu em 1547 e ela casou com Thomas Seymour.

Como rainha viúva, ela contava com uma provisão muito generosa dada pelo velho rei, ela tinha bens e ainda ficou com a guarda da princesa Elizabeth, então uma menina de 13 anos, além de Jane Grey (c. 1537-1554), que seria rainha por uma armação das facções protestantes depois da morte de Eduardo VI.  E foi neste momento da sua vida, casada por amor pela primeira vez, que Parr acabou se enrolando, porque Seymour tentou seduzir Elizabeth, tomou liberdades com ela, e, bem, Parr, que estava grávida pela primeira vez em sua vida, pode ter sido conivente nessa situação sórdida.  A dúvida fica, porque as fontes divergem sobre se ela realmente sabia do que estava acontecendo, do que Seymour tentava fazer e porque como esposa de um homem perigoso e poderoso, grávida e apaixonada, ela poderia não ter muita opção mesmo.  Houve um escândalo, que marcou a princesa para sempre e Elizabeth foi tirada de sua guarda.  

O fato é que a relação de Catherine Parr com o marido se deteriorou e ela deu a luz a uma menina, Mary, em 1548, e morreu em virtude de complicações pós-parto, acredita-se que febre puerperal.  Seu marido foi condenado por traição e executado no ano seguinte.  Mary Seymour desapareceu dos registros em 1550 ela deve ter morrido, porque ela desaparece dos registros.  Não sei qual parte exatamente da vida de Catherine Parr o filme irá cobrir, mas espero que seja uma película interessante.  Segundo o diretor"Firebrand é o retrato de uma mulher singular, Katherine Parr, uma visionária que mudou os rumos da história da Inglaterra mas jamais teve sua vida contada no cinema, apesar de sua imensa e influente trajetória".

Não queria me empolgar, mas estou empolgada, e Parr é minha esposa favorita de Henrique VIII, junto com Catarina de Aragão.  Ambas merecem filmes, ou séries que lhes deem o devido crédito.  E, não, A Princesa Espanhola não é material que valha a pena.  Aliás, Catherine Parr se recebeu esse nome por causa da primeira esposa de Henrique, pois sua mãe, Maud Green, era dama de companhia da rainha e sua amiga próxima e decidiu homenageá-la.  E, só para constar, além da Wikipedia e da minha memória, eu usei como fonte o livro As seis mulheres de Henrique VIII da Antonia Fraser.  


[1] Já resenhei QUATRO filmes desse homem no blog. Não acredito nisso.

2 pessoas comentaram:

Pelo o que se fala na gringa, esse filme é baseado nesse romance: Xeque-mate da rainha https://a.co/d/dRsm3qf

No original Queen's gambit de Elizabeth Fremantle.

Eu já li o livro e outros da autora, ela tem um sobre as irmãs de Jane Grey inclusive; mas não querendo te desanimar, o negócio é meio pautado na fake news igual os da Gregory com direito pimenta na relação Paar/Thomas Seymour antes dela virar viúva...

Ou seja, eu vou passar raiva então.

Cada um escreve ficção como bem entende. O que me deixa muito indignada são as escolhas que certas autoras, porque eu até esperava mais de mulheres, fazem, comprando os discursos machistas sobre determinadas personagens femininas como se fosse algo libertador, feminista, ou o que seja. Eu detesto o que a Gregory produz.

Related Posts with Thumbnails