Abri o Youtube mis de duas semanas atrás (*para vocês verem quanto tempo estou com este texto parado por aqui*) e ele me sugeriu um docudrama chamado "L'évasion de Louis XVI" (A Fuga de Luís XVI), curiosamente, estava com título em português, aquelas traduções automáticas que a plataforma faz, e legendas geradas em nossa língua. Como estava já no embalo, afinal, tinha assistido ao especial da Rosa de Versalhes (*que pretendia resenhar e não sei mais se o farei*) e estou falando exatamente de Revolução Francesa com as minhas turmas no trabalho (*agora, já cheguei em Napoleão*), acabei assistindo.
O que me pegou foi, logo no início, o tal docudrama propor mostrar o Luís XVI para além da "legenda negra", do homem indolente, lento de raciocínio e GORDO, mostrando um rei comprometido com seu povo, culto, inteligente e que amava sua família. "Vem bomba por aí!" E veio, claro! Não tinha como um negócio como esse dar certo. 🤗 Mas comecemos com o resumo oficial do filme: "Para salvar seus filhos do terror e sua esposa, Maria Antonieta, da condenação popular, o rei Luís XVI, disfarçado de bom burguês, foge incógnito do Palácio das Tulherias, onde é prisioneiro. Mas nada sairá como planejado. O fracasso de sua fuga terminará um ano depois com a decapitação do rei e da rainha da França."
"L'évasion de Louis XVI" faz parte de uma série histórica do canal France 2 chamada "Ce jour là, tout a changé" (Naquele dia, tudo mudou) e que tinha como objetivo enfocar pontos de virada na história da França. Aparentemente, foram somente cinco episódios, todos exibidos em horário nobre, entre 2009 e 2010. Sim, achei que era coisa nova, mas não era. O foco dos episódios é sempre nos "grandes homens" (Henrique IV, Napoleão, De Gaulle, Carlos Magnos etc.) e, ao que parece, deixando um rastro de controvérsias, especialmente, este episódio sobre Luís XVI. Quando comecei a escrever este texto terminei tropeçando em uma carta aberta de historiadores e historiadoras apontando os erros (*ou falsificações*) do episódio e, o que é mais importantes, condenando a autoridade educacional parisiense à época por endossar o material e promover sessões especiais para o público escolar.
Mas o que foi a Fuga para Varennes? A Revolução Francesa começou (*oficialmente*) em 14 de julho e a partir de outubro de 1789, a família real foi obrigada a residir no Palácio das Tulherias, bem no centro de Paris, e estava sujeita a todo tipo de pressão por parte do povo da cidade e da Assembleia. O rei mantinha os poderes executivos em um sistema tripartite (*Executivo-Legislativo-Judiciário*), mas não tinha condições de vetar nenhuma lei. Em 12 de julho de 1790, a Constituição Civil do Clero obrigou os sacerdotes a jurarem obediência às leis do Estado francês; o papa reagiu ameaçando os que se submetessem de excomunhão. Ao não vetar a lei, o rei perdeu o apoio de muitos membros da nobreza, vários de seus parentes deixaram a França, e Luís XVI se viu pressionado pelos revolucionários a não aceitar os serviços religiosos de sacerdotes não-jurados.
O rei e sua família eram vigiados de perto, seus papéis revistados e se encontraram indícios de que eles tocavam cartas com inimigos da França (*emigrados, líderes estrangeiros*). Diante dessas pressões, o rei finalmente aceita um plano de fuga planejado pelo Conde Fersen (*amante, platônico, ou não, de Maria Antonieta*) e do General Bouillé, única pessoa citada por nome na Marselhesa e que resistia à Revolução na região de Montmédy. A fuga durou pouco, 20 a 21 de junho de 1791, e, depois de vários erros, o rei foi reconhecido em Varennes, a família capturada e trazida de volta para Paris. A partir daí, a monarquia estava com os dias contados, pois o rei seria acusado de traição por tentar sair da França e de se aliar à tropas estrangeiras. Na verdade, a rota fora planejada para evitar que a fronteira fosse cruzada, mas já era tarde e o furor revolucionário estava a todo vapor.
"L'évasion de Louis XVI" conta a história da Fuga para Varennes pelo olhar de Luís XVI, interpretado por Antoine Gouy, um ator bonitão e magro. Aliás, um dos pontos de partida do filme seria negar a obesidade do rei, afirmando ser difamação. Só que o monarca era chamado pelo povo revoltado de "Luís, o gordo", em determinado momento do docudrama, o Duque de Orleans (Erick Deshors), um dos vilões dessa história, chama o primo de "gordo", também, o que é ridículo, porque o ator em questão não é gordo. Foi como no filme A Revolução em Paris, aliás, há muito em comum entre os dois filmes, que estão em espectros políticos diferentes, mas buscam reconstruir a imagem de Luís XVI.
Olha, vamos começar por essa gordofobia mal disfarçada? Falando dos irmãos do rei, a tomar por seus retratos de antes da Revolução Francesa, Madame Elisabeth e o Conde de Artois (*futuro Carlos X*) não eram gordos para os padrões da época, já o Conde de Provence (*futuro Luís XVIII*) e Madame Clotilde eram, assim como Luís XVI. Gordos eram discriminados? Sim, isso já ocorria, mesmo que não da forma doentia do século XX e XXI. Há um livro inteiro o Georges Vigarello discutindo como a obesidade foi tratada no Ocidente, e, bem, ela não era impeditivo para que um sujeito fosse um bom rei. Daí, é curiosa essa preocupação do docudrama em negar a obesidade do rei, ou tomá-la como ofensa, ou algo que o diminuísse como governante e, muito provavelmente, homem.
O Luís desse filme não é gordo, é magro e elegante, charmoso, bonito, decidido, um homem cheio de virtudes e pacifista. O filme repete, sabe-se lá quantas vezes, que ele jamais lançaria tropas contra o seu povo, nunca se aliaria à potências estrangeiras contra os franceses, além de sonhar com uma monarquia constitucional, mas não com aquela constituição já aprovada. O problema, e a carta dos professores reclamando do episódio foi enfática nisso, é que o filme ignora a cronologia da Revolução Francesa. Não havia constituição ainda, ela só viria em setembro de 1791, da mesma forma que não havia Terror, ele só começaria em meados de 1793.
Atropelaram tudo e foi de propósito, segundo a carta dos professores, trata-se de um projeto da extrema-direita católica monarquista (*ficou meio redundante isso aqui*) do país de demonizar a Revolução Francesa desde as suas origens. Por exemplo, há o flashback, uma das várias recordações de Luís XVI, da Marcha das Mulheres sobre Versalhes (5 de outubro de 1789). O rei está caçando como se nada estivesse acontecendo, tal e qual o rei na Rosa de Versalhes (ベルサイユのばら), mas não com um ar cômico, porque esse rei é uma figura séria, e chega alguém comentando que as mulheres estariam marchando sobre Versalhes para exigir que ele vá para Paris. Luís XVI diz que se recusa a abandonar a residência de seus ancestrais e ri do fato de serem mulheres.
O cara que vem avisar se apressa em informar que a maioria eram homens vestidos de mulher. Mentira, havia homens vestidos com roupas femininas, ou não, mas a maioria eram mulheres mesmo e armadas. E o próprio filme mostra que havia muito mais mulheres do que homens, mas colocam os representantes do sexo masculino como muito violentos, parecendo aqueles saídos de delírios transfóbicos sobre sujeitos que se vestem de mulheres para cometerem crimes. Já as mulheres, várias tem cabelos desgrenhados, olhar esbugalhado, parecidas com as saídas de ilustrações difamatórias sobre bruxas. E elas vociferam insultos contra a rainha, o que realmente aconteceu. Uma delas chega a cortar o braço, lamber o sangue e dizer que faria o mesmo com Maria Antonieta. O filme não mostra a intervenção de Lafayette (*porque no filme, ele é vilão*) para salvar a família real, nem a rainha se curvando no balcão, a ênfase é no retorno de Luís XVI, o pai e marido protetor, para acalmar todo mundo e acabamos não sabemos como a turba é contida. Corta a cena para a carruagem levando a família real para Paris com cabeças enfiadas em pedaços de pau e o povo cantando Ça Irá.
No docudrama, o rei é um democrata exemplar, ainda que acredite (*eles não conseguem fugir disso*) ser rei por direito divino. Durante a sua fuga, é sempre enfatizado que os ideais revolucionários são compartilhados por poucos, que o rei é amado e respeitado, que a monarquia é sólida e inquestionável. Em um dado momento, um camponês reconhece o monarca , que não nega quem é, beija-lhe as mãos, recomenda que tenha cuidado e lamenta os tempos sombrios nos quais vivem e que "todo mundo se sente explorado". Sim, pessoal, esta fala é colocada na boca de um camponês, é como o escravizado em Força de um Desejo defendendo o senhor e sua necessidade de ter escravos.
Que o rei era menos odiado que muitos membros da nobreza e da família real, é fato, demorou muito para que o ódio popular, ou parte dele, se voltasse contra o monarca. Luís era visto mais como um fraco, alguém inadequado para ocupar o lugar de rei, do que alguém que deliberadamente prejudicasse o seu povo. Enfim, ele seria um sujeito que, se não tivesse nascido na família real ou da alta nobreza, talvez pudesse ter sido um bom padre, um excelente mestre escola, um cientista ou intelectual de respeito. O problema é que ele era rei, não foi devidamente preparado e fugiu de suas obrigações mínimas. Sim, estou falando de sexo aqui e terei que comentar como o episódio foi vil com Maria Antonieta.
O Luís XVI do filme é apaixonadíssimo por sua rainha, as imagens que escolhi apontam para isso, mas faz questão de enfatizar que ela não cumpriu com suas funções de rainha e esposa. Em um flashback, Antonieta mostra ao marido os panfletos difamatórios; ele comenta que o chamam de corno com um olhar significativo para ela, depois, pontua que aquele tipo de material não representa nada, mas que eles não existiriam se ela se comportasse melhor, gastasse menos (*todos na corte gastavam muito*) e fosse caridosa (*Antonieta era caridosa dentro dos padrões da sua época*). Ela diz que abandonará o Petit Trianon, seu palácio particular onde a etiqueta não era seguida. Neste momento, o narrador diz que Antonieta cometeu um erro ao alijar a alta nobreza ao se isolar no Trianon, e que era alvo de toda a atenção negativa do povo, porque seu marido não tinha amantes. Duas pequenas verdades.
A seguir, o rei pontua que o povo a veria como uma mãe se ela agisse como uma rainha de verdade. Assim como na Rosa de Versalhes, o rei estava entregue ao seu hobby, fazer chaves, enquanto o mundo desabava ao seu redor, só que o rei desse docudrama se dá ao direito de dar lições de moral em todo mundo, porque ele era um modelo de virtude e cumprimento do dever. Mais tarde, durante a fuga, ele a acusa mais de uma vez de odiar o povo francês, logo, o ódio que sentiam contra Maria Antonieta seria justificado. Bem, Maria Antonieta fez o possível para ser francesa e ser amada por seu povo, mas, desde o início, foi chamada de L'Autrichienne, a austríaca, mas, também, um trocadilho para autri-chienne, cadela austríaca. Acusá-la e não amar os franceses é endossar a difamação feita contra a rainha, ou seja, para elevar Luís XVI, se deve vilanizar, ou rebaixar, sua esposa.
Em outro flashback, não se sabe por qual motivo, o rei, que está no meio de uma caçada, recebe uma carta e amor de Fersen para a rainha por engano (!!!). Ele quase desmaia, é segurado pelos seus acompanhantes. Em seguida, entra em um frenesi sanguinário, um negócio estranhíssimo, atiça seus cães contra um cervo abatido e se delicia em vê-los dilacerarem o animal. Depois, coberto de sangue, invade a tenda onde a rainha joga cartas. Expulsa todo mundo, a acusa de não ser caridosa com os pobres. Ela tenta fazer piada e ele fica violento, pensei que iria bater nela. Fala de Fersen, ela nega o romance. Ele diz que faz tempo que sua cama é usada somente para dormir.
Ora, quem deve ser ativo nesse caso? O rei. Há papéis de gênero a seguir e a produção faz questão de dizer que Luís cumpre todos, curiosamente, neste caso, joga a culpa na esposa. Uma rainha não deveria ir bater na porta do marido em busca de sexo, fora isso, apesar do filme dar a entender que só há uma cama, cada um tinha seus próprios aposentos, mesmo nas Tulherias, isso é mostrado. Luís XVI não tinha lá tanto interesse por atividades sexuais, aparentemente, nunca teve uma amante, mas deveria ter como prioridade gerar descendência. O casamento demorou cerca de sete anos para ser consumado e a culpa recaiu sobre Antonieta. Quando vieram os filhos, ela foi acusada em panfletos e cochichos de adultério, ou de tentar matar seus próprios filhos. O filme tenta fazer crer que ela se negava ao marido, que seria um homem amoroso e apaixonado. Não há evidência disso em fonte alguma.
O que Antonieta faz diante da acusação do marido? Tira a saia do vestido e se coloca diante do marido, se oferecendo a ele. Não sei se quem subiu o vídeo no Youtube jogou blur, ou se é do original, mas não vemos a nudez da atriz, porque o filme é fiel e ela está sem roupa de baixo. Aparentemente, eles fazem sexo. Ele todo sujo de sangue. Deve ser uma forma da película afirmar a virilidade do rei, mas eu sempre acho essas cenas de sexo com gente ensanguentada um negócio meio doentio; não tenho fetiche por essas coisas, não, mas cada um com seu cada um.
Durante a fuga, conhecemos Fersen (*fotos abaixo*) e ele tem uma cara de menininho, parece um adolescente mesmo. O ator que o interpreta, Martin Douaire, deveria ser bem novinho na época do filme e não tem biografia nem no IMDB, nem na Wikipedia. Tive que parar os créditos para localizá-lo. A ideia é clara, fazer o contraponto entre o rei, um homem adulto, e um menino, quando, na realidade, eles tinham mais ou menos a mesma idade. 😄 Aliás, assim como em Maria Antonieta de 1938, a atriz que faz a rainha, a lindíssima Estelle Skornik, é bem mais velha que o ator que faz o rei e o que faz Fersen. Fora isso, o conde sueco parece tímido e inseguro e está no filme para ser esculhambado por Luís XVI, o homem perfeito, um macho alfa, que o olha de cima e com ódio e desprezo. Durante suas poucas cenas, Fersen troca olhares apaixonados e amedrontados com Antonieta, que se encolhe diante do marido.
Sim, o Luís XVI do filme deve bater nela, a pegou pelo braço de forma rude, teve a cena violenta dele ensanguentado, a gente só não viu a agressão se concretizando em tela. Maria Antonieta, segundo fontes da época atribulada que eles estavam vivendo, se comportava como o homem da família. Sim, é um elogio machista para ilustrar que o rei estava apático e chocado e ela, a rainha, é que tinha que tomar a frente das coisas. O filme inverte essa relação e reforça hierarquias tradicionais de gênero, na Fuga, ela se atrasa e o rei vai sozinho buscá-la, porque, segundo ele, ela vive se perdendo e se atrasando. Uma desastrada que precisa de uma mão masculina forte. Aliás, Antonieta não sabe de nada da fuga, o rei esconde tudo dela, porque, claro, não confia na esposa, afinal, ela não ama a França (*segundo ele*) e é uma absolutista e, não, um democrata como o rei. 😏
Enfim, o bonitinho do Fersen é dispensado logo no início da fuga, o que é historicamente correto, porque o rei, neste filme, não aguenta mais olhar para ele e, claro, tudo termina muito mal. Aliás, o rei vai parando com a carruagem pelo caminho para testar sua popularidade com as lavadeiras e os camponeses e mostrar para a gente que a Revolução Francesa era mania de parisiense e que somente Maria Antonieta era odiada. Como digo para meus alunos e alunas, com mais de 80% de camponeses na população, não havia como fazer revolução sem o apoio dos camponeses, ou de parte considerável deles. Ah! Mas vamos falar dos vilões? Porque tem vilão de montão nesse filme e as caricaturas ficaram até bem divertidas.
Na leitura dessa produção, todos os que defendiam a revolução eram malvados, alguns, mais ridicularizados que outros, claro. O primeiro vilão a dar as caras é o Marquês de LaFayette (Patrice Juiff). Ele lutou na guerra de independência dos EUA (*e o rei se arrepende de tê-lo mandado para a América*), ele foi o principal redator da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, ele garantiu a vida da família real quando da marcha das mulheres, mas no docudrama, ele é o sujeito mau, porém inteligente e calculista. Ele ameaça Léonard (Xavier Aubert), o cabelereiro de Maria Antonieta, e tenta obrigá-lo a espioná-la. O afetado Léonard pergunta assustado "O senhor está me ameaçando de morte.", no que Lafayette se chega mais para perto e diz sem mover um músculo "É óbvio que estou.". É o tipo de vilão sincero que eu aprecio.
Léonard, aliás, é colocado no filme como um estereótipo de afeminado em oposição a modelos de virilidade militar (*e muito mais modernos do que típicos do século XVIII*), quando, se muito, ele era um fop. Fops eram homens com grande senso estético, que se vestia de forma muito apurada e que faziam um enorme sucesso com as mulheres, alguns tinham várias amantes. E o fato de serem fashionistas não os impedia de serem muito competentes nas artes da guerra, uma coisa não obstruía a outra. O Léonard histórico era casado e tinha vários filhos. Enfim, Léonard não trai Antonieta e a família real e cumpre um papel importante na fuga, mesmo sendo tratado com desprezo pelos soldados, que não querem um ser abjeto (*esta é a construção do filme*) e irritante ao seu lado.
O outro vilão, e este eu considero mesmo, era o Duque de Orleans, primo do rei, que acredita que irá tomar o trono para si. Há uma conversa ótima entre ele, deslumbradíssimo, outro fop, e Lafayette, na qual o marquês expõem toda a fragilidade do plano do duque. Por qual motivo a Assembleia faria do Duque de Orleans regente, ou mesmo rei? Com a queda de Luís XVI, viria a república, esclarece Lafayette. Outra cena ótima do Duque de Orleans, sempre fazendo dobradinha com Lafayette, é quando ele se transforma em "Philippe Egalité" (Filipe Igualdade), cidadão modelo. Ele está com uma capa super espalhafatosa e sai de dentro dela vestido com um pretinho básico e discreto (*para os padrões dele*) e ostentando a cocarde (*a símbolo tricolor*) no peito. Sim, Orleans, que iria parar na guilhotina, é um vilão bem bandeiroso.
Como no filme das origens dos Kingsman, o docudrama nos oferece uma sequência deliciosa em que vários ícones da revolução todos juntos tramando contra Luís XVI. Robespierre (Renaud Garnier-Fourniquet), Marat (Franck de la Personne), Camille Desmoulins (Franck Victor), Danton (Frédéric Cuif), Orleans. Para mostrar diversidade, incluem a esposa de Demoulins, Lucille (Lucile Desmoulins), e Madame Roland (Alexandra London).
A interação entre os vilões é divertida, porque havia gente naquela sala que nunca iria conversar, como diz o Reinaldo Azevedo, eles não eram da mesma enfermaria, mas estão todos lá tramando juntos o futuro da França pós eliminação de Luís XVI. Camille Desmoulins, o que eu demorei mais a identificar, parece ou gago, ou semianalfabeto, porque trava o tempo inteiro lendo uma mísera carta. Marat vociferando enlouquecido, Danton sendo já sugerido como traidor. E as mulheres, ambas com um ar malicioso, nunca seriam chamadas pelos homens daquele grupo para discutir um tema tão importante em pé de igualdade. E o destaque, como não poderia deixar de ser, é para o ator que faz Robespierre.
O ator entendeu muito bem a ideia do docudrama e dá um ar bem traikçoeiro e cruel para a personagem. Ele tem olhinhos pequenos, olha todo mundo de baixo para cima, parece impassível e sugere que Orleans não estava entendendo os acontecimentos. Ele é inteligente, calculista, cruel e quer o poder. Eu adoraria um filme sobre esse Robespierre com este enfoque distorcido e em um embate com LaFayette, como seu antagonista na luta pelo poder durante a Revolução. Seria super interessante.
Outras personagens com algum destaque são Madame Elisabeth (Adélaïde Bon), a irmã caçula do rei, e alguém que o ama e compreende, está em sintonia com ele. Ela era assim mesmo. No filme, colocam Luís ajudando a empurrar a carruagem atolada e ela descendo para empurrar junto. É uma cena um tanto surreal. O menininho que faz Luís Carlos (Morgane Rouault), o filho caçula do rei, e que teve que se vestir de menina na fuga, é bem fofo. O docudrama também mostra a morte de Luís José (Timothy Sebag), o filho mais velho, e a tristeza de seus pais, ainda que o foco seja maior no rei. E temos Madame Royale (Sophie Nounouhi), a princesa Maria Teresa, e mesmo que a conversa tenha sido o blá-blá-blá de que o rei era um democrata, foi legal colocarem Luís XVI chamando a filha de Musseline, seu apelido em família.
E o filme termina com a morte do rei e qual seria o destino dos malvados que o levaram à morte. Deles todos, o único que sobreviveu à revolução (1789-1799) foi LaFayette, o mais calculista e pragmático dos vilões do filme. E o docudrama termina com um grande elogio ao pobre rei, que poderia ter sido grandioso, mas acabou sendo um mártir. É mais grandioso ser mártir?? Não sei.
O fato é que este filme, que tem um figurino muito bom, pelo menos acho que tem, me surpreendeu negativamente e me mostrou que Revolução em Paris está longe de ser a primeira tentativa de mudar a imagem que os franceses tem de Luís XVI e de como esses esforços terminam, pelo menos na minha percepção, por serem ridículas e até ofensivas, fora, claro, que terminam por vilipendiar Maria Antonieta como se para compreendermos melhor seu marido, tivéssemos que apequená-la e difamá-la de novo. É um filme muito enviesado no seu esforço de exaltar o rei e abordar a Revolução Francesa como um grande mal que não tinha apoio popular, mas era coisa de gente perversa e ambiciosa. É isso, finalmente, terminei esta resenha. O filme está aí embaixo:
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