sábado, 2 de setembro de 2023

Comentando The Flash (2023): Um filme mediano, mas que consegue ser satisfatório

Domingo passado, para vocês verem como ando atrasada, parei para assistir The Flash, o filme do universo de super-heróis da DC que parecia que não ia sair nunca.  Na verdade, os atrasos foram tanto por causa da pandemia, das confusões do protagonista (Ezra Miller) com a Justiça, quanto do que parece ser a incapacidade da DC em fazer um planejamento sequer de médio prazo para os seus filmes de super-heróis.  De qualquer forma, levando-se em consideração a minha má vontade para com o ator protagonista e meu conhecimento quase ZERO sobre o Flash, achei o filme bem razoável.  As referências ao cinema dos anos 1980 e ao seriado Downton Abbey me fizeram rir, as participações especiais foram muito bem-vindas.  Resumindo, ainda que a película não seja excelente, ele é o que um filme de super-herói precisa ser, divertido.  Vamos para uma tentativa de resumo: 

Barry Allen vive atormentado pela sua incapacidade de salvar o pai da condenação, ele foi acusado injustamente de assassinar a esposa. Allen era uma criança e nunca conseguiu superar a situação, isto é, o encarceramento do pai e o assassinato da mãe.  O rapaz é também o Flash, um dos membros da Liga da Justiça e alguém que precisa esconder sua identidade secreta, o que, às vezes, pode ser muito complicado.  Um dia, ao descobrir que usando sua super velocidade ele pode viajar no tempo, Allen decide retornar ao passado e impedir o assassinato de sua mãe.  Mesmo advertido por Bruce Wayne (Ben Affleck) de que não seria uma boa ideia, ainda assim ele se arrisca e, claro, acaba bagunçando aquilo que a gente já aprendeu a chamar de multiverso.  Com consertar as coisas?  Seria possível fazê-lo?

Gosto de histórias de viagem no tempo e consigo lidar com elas e forma tranquila.  É algo teoricamente possível e sempre prefiro que as produções, sejam elas quais forem, optem pelo simples, porque, bem, é menos complicado manter a coerência interna da história.  Estou falando da narrativa mesmo.  O que temos visto nos vários filmes e séries, especialmente de super-heróis, é como as tramas de viagem no tempo se tornam cada vez mais complicadas e não necessariamente melhores, mais divertidas ou de falto mais complexas.

Por exemplo, mais uma vez, tivemos aquele papo de que eventos canônicos não podem ser mudados. A morte da mãe do herói é um evento canônico, logo, ao impedir que ela seja morta, ele instala o caos no multiverso e pode gerar a destruição de tudo.  Há recursos que não me agradam na ficção, um deles é esta história de eventos canônicos, ou destino, porque dá na mesma.  Parece uma amarra ficcional muito grande e, claro, apelativas.  Vamos ver se a segunda parte do filme 2 do Aranhaverso rompe com isso.

O fato é que, ao o voltar no tempo, Allen começa a viajar entre mundos diferentes do seu, trata-se de mais do que linha temporais diferentes, são mundos mesmo. Para voltar para seu plano original, ou pelo menos tentar, o herói contará com a ajuda do seu "eu" mais jovem, um rapaz de 18 anos e imaturo (*Viu?  Ele é o filhinho da mamãe!*) e o Batman, só que o herói não é o de seu mundo, mas uma versão sua envelhecida e interpretada por Michael Keaton.

Keaton, agora oscarizado e reconhecido como excepcional ator, foi o Batman dos filmes de Tim Burton de 1989 e 1992.  Eu assisti o filme de 1989 no cinema, acredito que foi a primeira vez em que não contei com a supervisão de um adulto, eu é que estava responsável pelo meu irmão menor, que quase foi barrado na porta, porque a velhinha bilheteira não acreditava que ele já tivesse 10 anos.  Ele tinha 11.  O primeiro Barman foi um grande evento não tanto por Keaton, que muita gente acreditava que não parecia de forma alguma com o herói, mas pelo Coringa de Jack Nicholson.  Na época, era quase como que um deus descesse do Olimpo ter um ator da grandeza dele em um filme de super-herói.  Os tempos mudaram, ainda bem!

Como Barry Allen desencadeou uma grande confusão no multiverso, algo que o Batman explica usando um prato de macarrão (*e eu não faço questão nenhuma de fingir que entendi*), no universo em que está o Super-homem ainda não se revelou e o general Zod (Michael Shannon) está invadindo a Terra como fez no filme Homem de Aço (2013), que, até hoje, eu não  assisti.  Desesperado, ele precisa descobrir onde o Homem de Aço está, porque ele está em algum lugar.  E acaba rastreando o kriptoniano em uma prisão subterrânea russa, ou soviética (*será que a URSS acabou naquele universo?*) e convence o Batman a ajudar os dois Flash a salvá-lo.

E eis que não é o Super-Homem no subterrâneo, mas sua prima, Kara (Sasha Calle).  A jovem, neste universo, tinha sido enviada à Terra para proteger o bebê Kalel, mas o menino nunca chegou ao seu destino.  Eu realmente considerei o resgate de Kara uma sequência muito boa, inclusive, a transformação realizada nela ao ser exposta ao sol.  E é preciso registrar, que a atriz está muito bem, mas é um filme que não cumpre sequer a Bechdel Rule. Há mais de uma personagem feminina, mas elas não conversam entre si, e a única que tem real importância é Kara.  

Faora-Ul (Antje Traue), a braço-direito de Zod, tem pouco a fazer na película.  Já Iris West (Kiersey Clemons), interesse romântico de Allen, ou Nora (Maribel Verdú), a mãe da personagem, cumprem papéis de gênero bem convencionais.  Nada de realmente memorável, mesmo que uma das sequências entre Allen e sua mãe, já perto do final do filme, seja bem tocante, dentro da lógica do filme, claro.  De qualquer forma, se ao invés da Super Moça fosse o Super Homem em cena, não faria grande diferença, porque aquele universo estava condenado.

Enfim, adorei as referências aos filmes dos anos 1980, que eu assisti na minha infância e adolescência, e como eles deram a pista para o Allen da Liga da Justiça de que havia algo errado.  Eric Stoltz foi Marty Mcfly em De Volta para o Futuro, Michael J. Fox protagonizou Footloose, Kevin Bacon foi a estrela daquele filme com "aviões, voleibol e gays", Top Gun.  E a gente que viu esses filme stodos fica pensando  como poderia ser.  Já a referência à Downton Abbey, as muitas campainhas na cozinha, foi boa, mas um neurótico como o Batman jamais deixaria estranhos entrarem em sua casa.  Haveria armadilhas em todo lugar.

E, sim, tivemos as participações preciosas, algumas delas, como a de  Christopher Reeve e Helen Slater, foram geradas por computador.  Fiquei pensando nas discussões recentes sobre a propaganda de carro com Elis Regina, porque mesmo legal, aquela presença me eixou desconfortável, sabe?  O acidente e a morte desse ator tão competente me parece doída até hoje.  E não fui eu somente a ver problema.  De resto, Nicholas Cage de Super Homem foi divertido, ele quase foi a personagem, matou a vontade agora.

Enfim, é um filme razoável, mas há problemas concretos.  Achei muito estranho, a não ser que a minha memória esteja falhando, só vi Liga da Justiça uma vez, Barry Allen não era aquela criatura meio nerd, retraída e sem nenhuma experiência amorosa-sexual (*isso é piada no filme*).  Parecia outra personagem, será que eu perdi alguma coisa?  Tropecei até em textos reclamando que ele seria um incel (involuntary celibates, "celibatários involuntários") neste filme.  Não sei se seria o caso, mas ele não era um sujeito desastrado e cheio de frustrações no filme da Liga da Justiça.


Outra coisa, a sequência de abertura do filme me pareceu longa demais, cheia de lances bobos, e algumas piadas envolvendo Allen e Iris, ou o protagonista e seu eu mais jovem não foram lá muito inspiradas.  Dava para economizar em piadas desnecessárias, ou colocá-las de forma mais consistente no roteiro, como foi com as referências aos filmes dos anos 1980, que foram pistas para o protagonista.  O povo reclamou muito do CGI, mas eu realmente não presto lá muita atenção para essas coisas.  Se a história me pegar, eu relevo essas coisas, como relevo um traço preguiçoso em um mangá.

De resto, ainda que eu não tenha desgostado do filme, considero que foi um grande erro não terem tirado Ezra Miller do papel de protagonista.  E não é por ele ser mau ator, ele é competente, pode não estar no seu melhor, mas não é esta a questão.  O problema, e tomo as palavras de um amigo, acredito que o Pedro Bouça, é que ele está se esforçando por gabaritar todo o código penal.  Havia outras opções para a Warner/DC, não precisavam forçar a presença o ator.  E este fator pode, sim, ter impactado a recepção do filme.  

É isso.  Uma história mediana, verdade, mas com participações especiais muito especiais mesmo e algumas piadas realmente boas referenciando os anos 1980 realmente boas, por isso, não aprovo o filme, está um tiquinho acima da média.  Agora, como a DC não tem planejamento nenhum de futuro, vai ficar tudo desse jeito mesmo, qualquer dúvida ou ponta solta vai ficar assim para a eternidade.  E eu consegui evitar os spoilers, olha só!   Enfim, segundo vi por aí, o filme é inspirado na HQ "Flashpoint", achei em inglês no Amazon, mas deve ter em português, também.

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