Estava eu faz alguns dias com uma tremenda curiosidade de dar uma olhadinha em Codex 632, nova série do Globoplay em coprodução com a rede portuguesa RTP. Temos no elenco brasileiros e portugueses. Logo de cara, já imaginei que seria uma série de historiador passando vergonha, pedi as bênçãos de São Yan Wen-Li, mas eu não estava errada, é ruim mesmo e é um negócio meio Código Da Vinci com quase vinte anos de atraso, pensando a partir do filme, que é de 2006. Segue o resumo do início da história:
Tomás de Noronha (Paulo Pires), um professor universitário especialista em criptologia, descobre as possibilidades de mudar nossa memória coletiva e percepção da história mundial, iniciadas por seu falecido professor Martinho Toscano. E ele termina seno contatado por uma organização ítalo-brasileira para continuar a investigação de Toscano. Ele conta detalhes para sua amiga, a professora Vitória (Ana Sofía Martins), que lidera secretamente um grupo de ativistas que destroem estátuas e símbolos do colonialismo em Lisboa (*Lembram o Black Lives Matter? Pois é...*). Tomás é casado com Constança (Deborah Secco) com quem teve Margarida (Leonor Belo), uma menina com síndrome de Down e uma saúde um tanto delicada. Constança abandonou a carreira (*acho que ela é paisagista*) para cuidar da filha e decide retomá-la e terminar o casamento, que está em crise.
Codex 632 é baseado em um bestseller do português José Rodrigues dos Santos e 2006, mesmo ano do filme Código Da Vinci. Ao que parece, a edição portuguesa está esgotada, achei edições em inglês e francês no Amazon, mas não uma brasileira. Se não saiu, sai agora. A série conta com a participação de Alexandre Borges, que faz o representante da tal organização interessada em estudar as viagens de Colombo, algum segredo relacionado a elas, quer dizer, e Betty Farias, como a esposa do professor assassinado e que está sendo perseguida por causa dos segredos que o marido descobriu, ou estava para descobrir.
Farias aparece de cara limpa, sem maquiagem alguma. É bem impactante, mas é só o que me impactou mesmo. Agora, Deborah Secco está em um papel diferente aqueles que são empurrados para ela nas últimas novelas, vide a atual Elas por Elas. Constança não é uma perua escandalosa, mas uma mulher séria, triste até, que se vê em um casamento infeliz e sem receber sequer o amor da filha, pois a menina parece muito mais apegada ao pai.
Ao logo do episódio, temos uma série de afirmativas sem muita conexão com o fazer historiográfico atual, como uma discussão entre a personagem de Alexandre Borges, que é super dúbia e se chama Moliarti (*MORIARTY, lhes diz alguma coisa?*), sobre se Cabral chegou ao Brasil por acaso, ou foi algo planejado. Há também o protagonista acusando os cristãos de terem proibido o uso dos hieróglifos, que eram de amplo domínio entre os egípcios, vocês sabem, e mataram essa forma de escrita. Daí, me aparece uma aluna bolsista de mestrado vinda de Macau, Elena (Bia Wong), muito bonita, decotada, sem saber nem o que iria estudar e visivelmente tentando seduzir o protagonista, que ela quer como orientador.
"Sabes que historicamente as Helenas têm sempre culpa?" Isso na boca de uma historiadora negra, a defensora do Black Lives Matter, professora em uma universidade de Lisboa, me fez mal. Vitória e Tomás chegaram a discutir sobre a derrubada de estátuas de escravocratas. Ela é a favor, mas nada se fala dela estar metida em atos, porque a própria deixa claro que professores não podem se posicionar de forma mais explícita, porque podem ser demitidos, e ele é contra. Nesta parte do episódio, já estava ficando traumatizada.
Por fim, já no final do episódio, o protagonista está indo para o Rio, pesquisar no Real Gabinete Português de Leitura (*vai ar palestra no IFCS? É do lado e ele é o maior historiador português vivo. 😄*), baixa a Zambelli nele. Tomás acha que está sendo seguido pelas ruelas de Lisboa, puxa de um revólver e aponta para um HOMEM NEGRO no meio da rua! Como é o porte de armas em Portugal? Segundo um amigo meu, que é português, pode ter arma, se houver motivo justificado o governo autoriza, mas NÃO PODE PUXAR ARMA NA RUA, ainda que ele tenha dito que dificilmente a polícia vá chegar para intervir. Enfim, o troço me pareceu muito WTF. E acabou o episódio. Foi o suficiente para mim.
Para quem se interessar, é possível assistir com o áudio original, ou com os portugueses dublados, porque eles nos entendem bem, pois consomem nossas novelas e outros programas, mas, nós, temos certa dificuldade em acompanhá-los, pois são duas línguas portuguesas diferentes e, às vezes, muito distintas mesmo. Eu estava assistindo com o áudio original e há a possibilidade de legenda, também. Curiosamente, os brasileiros do elenco estão evitando usar os gerúndios e outras marcações do nosso português, o que soa um tanto falso. E é isso, acabou a resenha.
2 pessoas comentaram:
O livro é uma desgraça, lotado de cenas de sexo fetichistas entre o professor e a aluna decotada, que ali é do leste europeu, *o que me cheira a uma bela xenofobia*.
A investigação descamba numa teoria da conspiração envolvendo os templários, Cristóvão Colombo com origem judia e italianos falseando a história
Nossa, Júlio! Eu achei esse primeiro episódio o sub Código Da Vinci e muito atrasado.
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