Segunda-feira, assisti Patos! (Migration), nova animação da Illumination, com a Júlia e preciso dizer, com dor no coração, que, como entretenimento, funciona muito melhor que Wish da Disney. Trata-se de uma reconfiguração do filme de férias, que a minha geração assistiu na Sessão da Tarde estrelados pelo Chevy Chase, com o pai desastrado que tem que se provar e mostrar sua liderança, a diferença é que isso de fato ocorre em Patos!. De bônus, temos o amadurecimento do filho adolescente. Ou seja, apesar de serem patos, o filme gira em torno das personagens masculinas, na verdade da discussão das masculinidades, pois, como vocês sabem, apesar de serem bichinhos, são a boa e velha família WASP (branca, anglo-saxã e protestante) norte-americana. Desculpe me estender aqui, vamos para o resumo:
O pai de uma família de patos da Nova Inglaterra tem horror à ideia de sair para qualquer lugar. Para conter os filhos, ele tenta assustá-los contando histórias horríveis sobre o que está além da copa das árvores que cercam o lago. Um dia, um bando de patos em migração passa pelo lago a caminho da Jamaica. Sem conseguir conter a curiosidade da esposa, filho e filha, o patriarca tem que ceder e partir em migração durante o inverno. Só que ele não tem experiência e acaba errando o percurso e indo parar em Nova York, metendo da família em muitas confusões.
Patos! não se distingue muito de Os Croods, por exemplo, ou tantos outros filmes nos quais temos um pai, porque, normalmente, se trata de um patriarca que, por dever de ofício, deve proteger sua família. Curiosamente, temos um material com ponto de partida semelhante à recém-estreada continuação, tardia e desnecessária, do excelente A Fuga das Galinhas. Mas a mãe de A Fuga das Galinhas é alguém que tem traumas reais, ela viveu o confinamento na granja, uma metáfora dos campos de extermínio nazistas, já em Patos! é só aquela necessidade de reafirmar "não há lugar melhor que o nosso lar" para, felizmente, romper com isso no final.
Ainda assim, o filme rompe com o clichê e oferece uma galeria de personagens divertidas. Temos as garças, que eram personagens de vários dos contos macabros do pai pato para a aterrorizar sua família. Há os pombos de Nova York, que se organizam em gangue e entram em disputa com o tio-avô pato, que meio que rejuvenesce na jornada forçada, afinal, ele concordava com o sobrinho, ele não queria migrar. Há a arara jamaicana aprisionada e que eles precisam libertar para chegar até o seu destino. E ainda temos o encontro com uma seita de patos, que não sabiam que seu destino é a panela. Aqui, temos até um parque aquático que lembra o do novo Fuga das Galinhas. As semelhanças, aliás, não faltam.
O vilão do filme, porque ele existe, é um chefe de cozinha. Ele compra patos da granja, ele aprisionou a arara em uma gaiola exígua por anos somente para seu prazer e ele quer vingar-se do pai pato, que, mesmo sem querer, o humilhou, atrapalhou seus negócios e libertou seu prisioneiro. E, podem acreditar, todo esse rolo é muito divertido, a gente torce pelas personagens e alguns clichês não se concretizam, além disso, como é da Illumination, em alguns momentos a película dobra a aposta e apresenta umas situações muito loucas e inesperadas. Não perca os créditos e confirme. Aliás, eu queria ver a continuação só de ver as fotos que aparecem no final.
Como sinalizei no primeiro parágrafo, trata-se de um filme protagonizado por machos. O pai pato termina por ganhar a admiração de seu filho e recuperar o respeito e o amor da esposa, consolidando-se como o líder de seu núcleo familiar. Já o filho passa a ter um modelo masculino inspirador, deixa de ver o pai como covarde e incapaz. A mãe, antes ocupando uma posição de comando em relação aos filhos, termina por aceitar que, sim, o marido sabia o que era o melhor para todos, mesmo com todas as confusões que temos em tela.
Eu imagino que o filme deva, sim, fazer uma bela bilheteria e deve agradar parte do grupo (pseudo) conservador que não vê inimiguinhos em todo lugar e não se ressente por termos fêmeas, sejam elas de qual tipo sejam, com falas em uma película. Seria um filme totalmente limpinho para esse povo que só sabe falar de "cultura woke", salvo por um detalhe, mas ele é tão escandaloso que talvez não consiga passar batido, acontece uma revolução. Os patos são fracos, mas, unidos, derrotam o capitalista inescrupuloso, no caso, o chefe de cozinha. 😉 Sendo assim, acredito que vá ser condenado pela conservapedia.
De qualquer forma, comparado com o novo Fuga das Galinhas, Patos! me pareceu bem mais divertido. Claro, não há condenação aberta do capitalismo, uma reflexão mais profunda sobre isso, simplesmente, Agora, são essencialmente o mesmo filme, o/a filho/a quer sair e conhecer o mundo, o/a pai/mãe tem medo do que está além do horizonte. E o inimigo, claro, é o capitalismo que está à espreita. É mais evidente em A Fuga das Galinhas: A Ameaça dos Nuggets, mas a ideia central é a mesma.
Enfim, trata-se de um filme divertido e que pode agradar adultos e crianças. Queria alguma participação de personagens da Vida Secreta dos Pets quando eles passam por Nova York, mas não vi nenhuma delas. Há um curta metragem dos Minios no início do filme com um dos vilões de Meu Malvado Favorito passando por situações dignas do coiote de Papa-Léguas. Poderia ser mais curto. E, concluindo, é o primeiro filme que vejo em muito tempo exaltando uma família tradicional e dando protagonismo absoluto aos homens. E é somente uma constatação, assista ao filme e confirme.
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