sexta-feira, 25 de julho de 2025

Comentando Tamaki to Amane: Um história agridoce sobre duas almas que se reencontram através dos tempos

Nestas minhas curtas férias, que já terminam no domingo, finalmente li Tamaki to Amane (環と周), mangá em um volume de Fumi Yoshinaga que foi publicado na revista Cocohana, em 2022.  É a primeira incursão da autora em uma revista josei.  Tamaki e Amane, este seria o título em português, é uma obra madura e agridoce de Fumi Yoshinaga. O volume de contos evoca uma série de sentimentos, mas mesmo com um final feliz, eu terminei a leitura me sentindo um tanto triste, mas de um jeito bom... Como explicar isso?  Não sei, só sei que vale a leitura.  Vou colocar o resumo abaixo, ele foi feito com base do que está no Amazon, eu comprei a edição americana, não tinha como deixar passar.  Deve ter scanlations.

Família, romance, amizade — o amor assume muitas formas. Dias Atuais: Tamaki fica chocada ao ver sua única filha beijando uma colega de classe. Mas, seu marido, Amane, acaba se recordando que seu primeiro amor foi um colega de classe do ginasial... Período Meiji: Tamaki e Amane, duas alunas de uma escola feminina, tornam-se amigas íntimas. Mas quando Amane fica noiva, as duas são obrigadas a se separar... Década de 1970: A doença de Tamaki a deixou sem muito tempo de vida. Enquanto tenta aproveitar ao máximo os dias que lhe restam, ela conhece um garotinho que também parece estar passando por momentos difíceis... Pós-guerra: Amane, um soldado dispensado, reencontra Tamaki, seu antigo líder de esquadrão, e se junta às suas operações no mercado negro. No entanto, Tamaki tem um segredo... Período Edo: Tamaki matou o marido de sua amiga de infância, Amane. Na juventude, os dois se amavam, mas não puderam se casar.  Quando ela o procura novamente para se vingar, a roda do destino começa a girar em uma nova direção...

Nas resenhas que eu havia lido de Tamaki to Amane, só se falava daquela que se passava em nossos dias, em que Tamaki e Amane precisam lidar com o primeiro amor da filha. Amane, o pai, lembra que seu primeiro amor, não correspondido e nunca confessado, por um colega de classe. Esta primeira história, que é em duas partes, porque ela abre e fecha o volume, mostra um casal que já está junto faz muito tempo e que vivem em uma harmonia que parecer monótona, mas que é resultado de um longo ciclo de reencarnações, de duas almas que, finalmente, puderam ficar juntas, elas finalmente conseguiram se encontrar, depois de várias vidas  marcadas pela tristeza, tragédia e toda uma sorte de dificuldades que iremos conhecer.  São cinco histórias ao todo. Então não se deixe enganar, vá de Tamaki e Amane e você verá que Fumi Yoshinaga irá te surpreender.

Nos outros contos, Amane e Tamaki podem ser mulheres ou homens, amigos, amantes e até inimigos, duas almas lutando contra as restrições, as dificuldades e as possibilidades da sociedade na qual estão inseridos. Todas as histórias são comoventes a sua maneira.  A das duas amigas mostra que mesmo separadas, elas continuavam unidas através de cartas trocadas entre elas.  O destino de Amane, que parecia ter sido o mais sofrido, afinal, ela, uma moça da mais alta nobreza, mas falida, foi "vendida" em casamento pelo pai para um novo rico viúvo e vinte e quatro anos mais velho, acabou tendo um destino melhor — dentro das possibilidades da época — do que a amiga que se casou com um homem jovem e, aparentemente, gentil.

A história que se passa nos anos 1970, e há várias referências culturais explicadas por notas no fim do volume, mostra uma mulher que sempre viveu pelos outros e que, quando tudo parecia bem, é surpreendida por uma doença, que lhe abreviará os dias.  Acredito que seja câncer, mas o mangá não diz.   E é interessante ver como Amane é acolhida como filha pela dona do prédio no qual mora e no impacto positivo que ela tem sobre Tamaki  e sua mãe, uma mulher abandonada pelo marido e obrigada, muito provavelmente, a se prostituir para alimentar seu filho e pagar suas contas.  Essa mulher é uma mãe abusiva, mas Yoshinaga não a julga, ela cria condições para que ela possa ser resgatada.  Amane é fundamental para isso, mas, também, a bronca que ela toma da velhinha dona do prédio.

A história do pós-guerra é a mais intrincada, eu diria.  E exige mais atenção.  Amane queria tirar sua vida, pois, ao voltar da guerra, descobre que sua única filhinha morreu de tifo (*acho*), sua esposa fugiu com outro homem e seu negócio não existe mais.  Viver para quê?  Por qual motivo não se matou como tantos quando da derrota do Japão na 2ª Guerra?  Tamaki o resgata, o ajuda a encontrar um o novo sentido na vida e, no final, um pequeno "milagre" acontece.  É uma história que mostra, também, as dificuldades do pós 2ª Guerra no Japão no qual uma xícara de café era um luxo enorme.

E a última história, assim como a das duas amigas, é de dilacerar a gente.  Quando folheei o volume, cheguei a imaginar que era um gaiden de Ōoku (大奥), mas era somente a impressão.  Cronologicamente, trata-se do primeiro encontro das duas almas, Tamaki e Amane se amam, mas ela está destinada a se casar com um homem de uma nobreza anterior.  Antes de se casarem, trata Tamaki muito mal, acredito que por esperar que ele, contra todas as convenções sociais, fugisse com ela, é a única coisa que eu posso imaginar.  É a história que tem mais flashbacks.  Vemos a infância dos dois, esse encontro na adolescência e o duelo entre Tamaki, um mestre espadachim, e o marido de Amane, que o provoca e diz que bate nela e a humilha por se sentir traído em pensamento. Não é Tamaki que puxa a espada primeiro, mas acaba se tornando um assassino e precisa fugir.  Anos depois, Amane vem atrás dele trazendo seu filho para executar a vingança, mas as coisas não saem bem como ela desejava.  Amane é muito orgulhosa, porém, e acaba desperdiçando sua chance de amar.

Todas as histórias me tocaram de alguma maneira, a do pós-guerra foi a que menos mobilizou meus sentimentos, porque ela é muito bem executada, mas não me tocou pessoalmente. Por exemplo, vi em Akari, a filha dee Amane e Tamaki nos nossos dias, um pouco da minha menina.  Júlia não é mais criança e a adolescência traz conflitos novos.  Amane lembra que pouco tempo antes ela era uma garotinha e a própria menina, já no final da história, deseja poder voltar a infância, um lugar de segurança, porque crescer, tornar-se adulto, é uma experiência assustadora.  Fato é que qualquer uma dessas histórias poderia render um mangá mais longo com, no mínimo, uns três volumes.

E é isso.  Fumi Yoshinaga já deveria ter vindo para o Brasil faz muito tempo.  É uma das grandes e tristes lacunas do nosso mercado editorial.  Tamaki e Amane talvez não seja seu melhor cartão de visitas, mas, se conseguisse chegar ao público certo, pessoas adultas, seria um sucesso.  Sei que Yoshinaga será lançada aqui e, às vezes, fico imaginando qual será o mangá escolhido e a editora que irá apostar nela.  Espero, somente, que não demore muito mais do que já demorou.  Procurando imagens para a resenha, acabei tropeçando em duas entrevistas da Fumi Yoshinaga.  Acho que vou traduzir as duas.

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