sexta-feira, 3 de outubro de 2025

Série animada com personagem trans faz com que Netflix receba ataques, inclusive no Brasil

Dead End: Paranormal Park é uma série da Netflix que estreou em 16 de junho de 2022 e que foi cancelada em janeiro de 2023 contando com duas temporadas.  Continua no catálogo, mas é somente isso.  Segundo a Wikipedia, "A série acompanha Barney e Norma, os mais novos funcionários do parque temático local, Phoenix Parks, um parque no estilo Dollywood criado pela famosa celebridade Pauline Phoenix.  Acompanhados por Pugsley, o cachorro de infância de Barney, e Courtney, um demônio de mil anos, eles descobrem o mundo do Paranormal e também aprendem coisas novas sobre si mesmos."  O cachorro é um fantasma, enfim?  Nunca vi Júlia, minha filha de 11 anos, assistindo essa série.

Muito bem, AGORA, somente AGORA, o empresário e mega vilão, empresário e quase homem mais rico do mundo, Elon Musk, que está sumido desde que foi chutado do governo Trump, decidiu iniciar uma campanha contra a Netflix, estimulando o cancelamento de assinaturas e acusando a empresa de usar desenhos animados para colocar a "Agenda Woke", essa coisa que não existe, dentro das casas das famílias de bem.  Motivo?  Barney, o protagonista, é trans e gay.  Para Musk, o cancelamento deve ser feito, porque a Netflix dá  espaço para personagens LGBTQIAPN+ em suas produções.  Como ele é inteligente demais para ter descoberto isso somente agora, imagino que haja mais alguma coisa por trás desse interesse repentino.

Gente, a perseguição às pessoas trans é real, a tentativa de transformá-las em párias, em novos ciganos ou judeus ou XXX (*ou escolha qualquer minoria que tenha sido desumanizada, perseguida, privada de qualquer direito e até da vida*), ela não é uma cortina de fumaça.  Por outro lado, temos outros interesses na mesa, quando Trump anunciou que iria taxar em 100% qualquer produção cinematográfica (*e seriados, também, imagino*) feita fora dos EUA, na semana passada, e que eu não comentei ainda por aqui, as ações da empresa despencaram.  Agora, a ação de Musk em 1 de outubro jogou as ações da empresa ainda mais para baixo.  Certamente, há alguma estratégia econômica em andamento em conjunto com a perseguição às pessoas trans e qualquer material que as mostre como o que são, pessoas, seres humanos, como quaisquer outros.

Como desdobramento da campanha, Hamish Steele, o criador da série, se pronunciou acreditando que a coisa merecia umas boas risadas, afinal, a série está cancelada há tempo.  Só que, o bom humor do autor logo se deteriorou, pois ele passou a comentar que estava recebendo e-mails homofóbicos, antissemitas e ameaças de morte (*sugerindo que ele merecia receber uma morte semelhante à de Charlie Kirk ou que ele celebrou a morte do ativista cristão nacionalista de  extrema-direita*).  Por fim, Steele veio a público dizer que iria se retirar da internet por algum tempo pelo bem de sua saúde mental.

Muito bem, segue a tradução das postagens de Steele no Bluesky:  Primeira imagem: "Post 1: "Provavelmente este vai ser um dia muito estranho."; Post 2: "Elon Musk: Isso não é OK"; Post 3: "Libs of TikTok: "OMG ["Oh, meu Deus!"]. Dead End Paranormal Park, um programa na Netflix, está forçando pró-transgênero em CRIANÇAS.  Esse programa é anunciado para CRIANÇAS DE 7 ANOS.  Está sendo promovido agora no @netflix kids.  Pais – CUIDADO."" Segunda imagem: "Post 1: "Eu só vou dizer que hoje está muito, muito pior e eu basicamente vou ficar fora de cena por um tempo. Minhas desculpas."; Post 2: "Meus comentários no Instagram agora estão cheios de respostas dizendo que EU SOU O CHARLIE KIRK e que eu comemorei a morte dele (o que eu nunca fiz) e tudo em que consigo pensar é na Yvie Oddley gritando 'O QUE ISSO TEM A VER COM QUALQUER COISA?'"; Post 3: "Eu estive basicamente muito bem hoje e achei tudo até meio engraçado, enquanto realmente aprecio todos que me procuraram, mas os e-mails extremamente desagradáveis, homofóbicos e antissemitas começaram a aparecer e isso está ficando um pouco assustador, então peço desculpas se demorar mais para responder às coisas.""  

Só para constar, a animação é recomendada para maiores de 10 anos.  Eu fui checar.  E não pensem que a extrema-direita, por ser pró-Israel, não é antissemita; são coisas separadas e recomendo o último livro do Prof. Michel Gherman sobre o tema: O não judeu judeu: A tentativa de colonização do judaísmo pelo bolsonarismo.

Muito bem, aqui, no Brasil, no dia em que a isenção do IR para quem recebe até 5 mil reais foi aprovada por unanimidade, algo que é importantíssimo para a maioria das pessoas desse país (*e não somente para o governo atual*), Nikolas Ferreira foi para a internet não falar do que realmente importa e até lucar com isso, mas para apoiar essa campanha repulsiva.  Segundo esse adolescente de quase trinta anos, que eu espero ver pagando por pelo menos algum dos seus crimes antes que eu morra, foi mostrar para seus milhões de seguidores que cancelou sua assinatura da Netflix.  Essa é a agenda da extrema-direita twitteira, falar de tudo que não importa de verdade e alimentar pânico moral, porque eles não têm propostas para o Brasil real.

Dentro do cercadinho dos progressistas, a Crunchyroll também está sob ataque.  O Sugoi Lite, perfiil do Twitter que é muito importante, porque consegue antecipar os anúncios de animação, fez uma série de postagens apontando que a Netflix estaria migrando de um programa de legendagem de código aberto para outro que é israelensse: "A maioria da equipe de legendagem da CR utilizava o Aegisub, um software de fonte aberta (OSS), mas recentemente houve várias mudanças. Agora, todos foram forçados a abandoná-lo e migrar para um software baseado em nuvem. Chamado de "OOONA", é um software totalmente israelense. Muitos funcionários ficaram muito chateados com a decisão.".  Não achei muito mais do que isso, mas deve haver coisa em português por aí.  Fora, claro, que o pessoal está falando em cancelar a Crunchyroll em protesto e "voltar" para a pirataria.  Houve, também, quem apontasse que isso é coisa velha.  É isso.  A gente não morre de tédio nesse mundo, mas eu preferia não ter que ler essas coisas, não.

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