terça-feira, 28 de dezembro de 2004

Meninas alimentam explosão do mangá nos EUA


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Meninas alimentam explosão do mangá nos EUA - HQs japonesas viram mania com tramas voltadas para as mulheres
George Gene Gustines
Em Nova York


Naum Kazhdan/The New York Times

Os desenhos japoneses exploram o universo feminino e fazem sucesso

As vendas de histórias em quadrinho japonesas --mais conhecidas como mangá-- estão explodindo nos EUA. Grande parte da expansão se deve aos esforços dos editores em estender seu alcance para muito além dos rapazes.

"Os produtores de mangá nos EUA conseguiram um novo público para as histórias em quadrinho --o consumidor do sexo feminino", disse Milton Griepp, que fundou a ICv2, publicação online que cobre a cultura pop para os lojistas.

Nas livrarias, as coloridas coleções de mangá em geral ficam ao lado das prateleiras de personagens consagrados como Batman e Homem Aranha.

O mangá muitas vezes celebra personagens femininos fortes em contos de aventura ou histórias que se concentram em amor e relacionamentos. Os títulos algumas vezes são até divididos entre temas para meninas (shojo manga) ou para meninos (shonen manga).

Parte do apelo do mangá, sugeriu Griepp, também pode ser atribuído à aceitação da cultura pop japonesa pelos EUA, personificada pela anima em videogames e filmes. Ele disse que as vendas do mangá foram de US$ 50 milhões a US$ 60 milhões (entre R$ 150 milhões e R$ 180 milhões) em 2002 e aumentaram para US$ 90 milhões a US$ 110 milhões (entre R$ 270 milhões e R$ 330 milhões) em 2003. Este ano apresentou "um crescimento forte de dois dígitos", disse ele.

Os pioneiros americanos do mangá foram a Viz e a Tokyopop, mas a expansão nas vendas atraiu uma nova onda de editores, incluindo a Del Rey, Hyperion Books for Children e Penguin Group USA.

A Dark House, que já está no setor de quadrinhos, publica mangá, e a DC Comics acaba de entrar no setor. "Haverá em torno de 1.000 volumes sendo lançados neste ano", disse Griepp.

A Penguin Group USA formou uma parceria de três anos com a Digital Manga, de Los Angeles, e planeja publicar entre oito e 10 títulos na primavera. Doug Whiteman, o presidente da Penguin Young Readers Group disse que foi fácil fazer a decisão de publicar mangá.

"Nós editores estamos sempre procurando formas de crescer", disse Whiteman. "Quando encontramos algo que agrada uma ampla faixa de jovens de hoje, sentimo-nos compelidos a levar nossas publicações nessa direção."

Whiteman disse que 75% dos títulos iniciais seriam voltados para meninas.

Desde o final dos anos 50 que não há histórias em quadrinho americanas populares para meninas, disse Trina Robbins, autora de "From Girls to Grrlz: A History of Women's Comics" (Chronicle Books, 1999). Antes, as meninas podiam escolher títulos como "Millie the Model", "Patsy Walker" e "Betty & Veronica".

"O mangá está trazendo de volta os mesmos assuntos, mas com uma modificação, a sensibilidade japonesa do século 21", disse ela. "As meninas são bonitinhas, educadas e nunca são peitudas", disse Robbins, referindo-se às jovens excessivamente dotadas das histórias de super-heróis.

Robbins conhece bem o mangá e vai criar o diálogo para quatro títulos shojo publicados pela Viz. Fundada em 1986 e distribuída por Simon & Schuster, a Viz publica mangá para meninos como "Dragon Ball Z" e "Yu-Gi-Oh!" (ambos também são cartas, brinquedos e desenhos animados) e uma enorme quantidade de títulos com estrelas femininas, inclusive "Boys Over Flowers", sobre a vida de uma academia de prestígio, e "Imadoki", sobre os perigos da amizade, do namoro e da escola.

O sucesso da Tokyopop, fundada em 1996 por Stuart Levy, começou com "Sailor Moone", uma série de mangá e um desenho animado sobre uma menina de 14 anos com poderes mágicos.

Apesar de o mangá ser produzido no Japão há mais de 50 anos, Levy disse que a Tokyopop geralmente publica material dos últimos cinco. A empresa recentemente publicou "Pincess Ai", uma nova série criada em parte pela estrela de rock Courtney Love, inspirada em sua vida.

Em maio, Del Rey, uma subsidiária da Random House, começou sua linha de mangá com quatro séries. Outras duas foram acrescentadas em outubro e sete começarão no ano que vem. A linha inclui "The Wallflower", sobre dois meninos que fazem amizade com uma menina tímida. As séries da Del Rey ainda são produzidas no Japão pela Kodanshar, uma das maiores editoras de histórias em quadrinhos do país.

Hyperion Books for Children, divisão da Disney Publishing Worldwide, publicará seu primeiro mangá original no ano que vem. A história está sendo escrita e desenhada por Misako Takashima, artista japonês que mora nos EUA.

As empresas que publicam quadrinhos nos EUA não poderiam estar mais felizes com a popularidade do mangá. Ajuda as pessoas a se interessarem pelo gênero em geral.

"É muito animador porque ajudou a criar um público e uma rede de distribuição", disse Dan Buckley, editor da Marvel Comics. Buckley disse que era interessante o apelo do mangá para as meninas "porque significa que a ficção gráfica é algo que elas querem."

A Marvel já tentou atrair as mulheres, inclusive publicando coleções em tamanho de mangá das séries de "Emma Frost" e "Mary Jane", que têm personagens femininas fortes.

Até a DC Comics, lar de Batman e Superman, criou uma editora separada para sua linha de mangá, a CMX, inaugurada em outubro.

John Nee, vice-presidente de desenvolvimento de empresas da DC, disse que "o maior desafio é crescer cuidadosamente". Com esse fim, a CMX programou seus lançamentos espaçados. Três títulos começaram em outubro, dois no mês passado e a próxima série só sairá em fevereiro. Diferentemente da Tokyopop, a CMX planeja mergulhar fundo no passado.

"O mangá é publicado há tanto tempo no Japão, mas só fez sucesso nos EUA nos últimos cinco anos", disse Nee. "Nem tocamos na ponta do iceberg em termos do material disponível."

"Swan", uma história de 1979 sobre uma bailarina que atingindo a maturidade, é um dos títulos que Nee aprecia. A série foi tão popular no Japão que provocou um aumento nas inscrições em escolas de balé. "Ficamos impressionados com a resposta das jovens a esse título", disse ele. "Elas estão achando tão atual quanto era quando foi introduzido no Japão."

"Acho que o melhor é que há décadas que os quadrinhos não são um meio significativo para o sexo feminino", acrescentou Nee. "Estamos alcançando leitores que não atingimos com nossas revistas regulares, e isso é ótimo."

Tradução: Deborah Weinberg

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