quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Maria-sama ga Miteru é Especial


O artigo que segue é uma tradução da tradução e com certeza houve perda. Por exemplo, não me parece muito claro quando o autor fala de mangá e quando está falando dos romances. A versão em lingua inglesa está no site Manga News e veio do blog japonês Something Orange. O que está entre colchetes é opinião minha. Gostei do texto no geral, levando-se em conta que é um homem falando de yuri, mas um homem que se coloca não como neutro, mas tendo um olhar masculino sobre a questão. Palmas para ele! Surpreende-me que esta falação toda esteja na Margaret, porque é uma discussão séria demais e acredito que o autor não respondeu a pergunta colocada, mas fez reflexões das mais interessantes. Espero que vocês apreciem.

A equipe editorial da Margaret, a revista que publica Maria-sama ga Miteru, traz uma coluna chamada "Yorinuki Book Consultation Room," que consiste em uma série de respostas dadas por especialistas para as perguntas dos leitores. Entre as perguntas, uma dizia “Há montes de novelas BL (Boy’s love) por aí; por que não há tantas GL (girl’s love)? Eu quero poder ler.”. Eriza Azuma escreveu a resposta para esta pergunta:
A série Maria-sama ga Miteru, escrita por Oyuki Konno, é um bestseller entre as novelas (romances) GL. A história se passa na Lillian Academy, um colégio católico feminino particular, e foi transformada em mais do que uma série de romances da linha Cobalt Bunko da Shueisha. Eu ouvi dizer que existem muitos leitores aficionados, mas eu devo me desculpar porque não li nenhum livro por inteiro. Falando em histórias de amor entre lésbicas, eu penso nos trabalhos de Kaho Nakayama. Pensando nisso, há um novo romance que acabou de ser lançado, Marakeshu Shinchuu (Kodansha Bunko), que é uma história de amor tão pura que se coloca alam do gênero e fez meu coração doer. Mas Maria-sama é considerado o que de mais representativo existe entre as novelas GL.
Satoru Nagasawa transformou as novelas de Maria-sama ga Miteru em mangá. Neste momento, há um total de 6 volumes lançados. Eu acredito que para um mangá baseado de uma série de romances, a história está muito bem arrumada. Como não é possível transformar uma novela em um mangá como ela foi escrita, é preciso alterar alguns aspectos do romance. Entretanto, o mangá retrata as partes que precisam ser retratadas, e corta as partes que precisam ser cortadas, e o resultado é um mangá excelente. Maria-sama ga Miteru é muito interessante neste formato.
Apesar de tudo, o yuri teve uma longa história antes que Maria-sama ga Miteru aparecesse.
Entre as chamadas celebridades do gênero yuri, Nobuko Yoshiya, uma ancestral distante de Oyuki Konno, foi uma autora popular durante as eras Taisho e Showa, cerca de meio século atrás. Furuya foi uma autora que ganhou popularidade dando vida aos relacionamentos entre garotas. Suas novelas eram às vezes muito sentimentais, mas elas ainda podem ser muito interessantes. Recentemente, Nobara Takemoto mostrou respeito por suas novelas, então há um grande número de pessoas que reconhecem seus trabalhos nos dias de hoje. No entanto, depois de Furuya, a produção de trabalhos yuri decresceu, e o conteúdo das histórias se tornou preconceituoso.
Yukari Fujimoto escreveu sobre este problema em Watashi no Ibasho wa Doko ni Aru no? (Onde é o meu lugar?). No tempo de Nobuko Yoshiya, as escolas femininas eram um depósito de garotas até o casamento, que era via de regra forçado pelos pais. Lá, as meninas provavam a fantasia do amor com outras maninas enquanto ainda podiam escolher a quem amar, antes do casamento. Mas, conforme o “Amor Livre” ["amor livre" soa de outra forma em português, mas mantive como estava em inglês] se tornou popular, amor com o sexo oposto passou a ser algo que as mulheres deveriam perseguir, e a assim chamada “ideologia Moderna do Amor Romântico” se formou. Esta forte fantasia excluiu outras fantasias. O ponte é, como poderiam as fantasias que existiam antes do estabelecimento do “amor livre” entre homens e mulheres se formar afinal? Se o “amor livre” entre homens e mulheres era o sol deslumbrante, então outras fantasias – as pequenas estrelas ao redor – perderiam seu brilho. (Apesar de ser exatamente como o Boy’s Love se formou)
Como o livro é uma análise do shoujo mangá, Fujimoto então passou a escrever sobre como o yuri passou a ser ilustrado dentro do shoujo mangá. De acordo com Fujimoto, os primeiros yuri tinham algumas características em comum. Primeiro, as duas personagens principais eram bonitas e deslumbrantes; uma era a impetuosa, do tipo super mulher e a outra era o tipo infantil e de aparência frágil. Segundo, as suas famílias estavam em algum tipo de conflito, e quando os rumores de um relacionamento lésbico se espalhavam, era recebido como escândalo. Como resultado, a garota do tipo “super mulher” terminava morrendo de alguma forma. De qualquer forma, os yuri mangá desta épica não podiam evitar o fim catastrófico. [Isto se aplica como uma luva à Maya’s Funeral Procession, mas não a outros mangás, Oniisama E não se deixa enclausurar na fórmula, nem tampouco Claudine. Mesmo o primeiro yuri mangá, Shiroi no Heya no Futari não cumpre todos os requisitos. Acredito que essas características estejam presentes, mas não necessariamente todas elas. E antes dos anos 90 a coisa começou a virar, exemplo forte é Paros no Ken. Mas é tradução da tradução, então pode ter algum erro.]
Essas fórmulas começaram a enfraquecer durante os anos 90: Romances como Jukkaime no Jikkai de Wakuni Akisato [Tomoi] e Kaguyahime de Reiko Shimizu começaram a dar vida a temas yuri inovadores (embora Kaguyahime tenha mudado seu curso no meio do caminho). E essas obras se colocavam lado-a-lado com os doujinshis, desde que Bishoujo Senshi Sailor Moon (parece ter) causou um verdadeiro boom. Nesta época, eu não tinha nenhum ligação com os doujinshis então eu não sei exatamente o que aconteceu, mas Sailor Moon é uma parte essencial da história dos mangás yuri (algumas pessoas dirão mesmo que Sailor Moon mudou tudo). Fujimoto não escreve sobre romances yuri contemporâneos ou romances lésbicos como os listados acima, mas, pensando, Natural Woman de Rieko Matsuura, publicado em 1994, vem a mente. Foi então (meados dos anos 90) que os trabalhos com tema lésbico se tornaram aceitáveis.
Bem, eu deveria parar aqui porque sinto que as pessoas vão começar a reclamar se eu continuar a ser vaga. Mas, finalmente, tudo isso conduz à Maria-sama ga Miteru. Como sou um cara que não se interessa muito por temas lésbicos, vocês podem não dar crédito ao que eu tenho a dizer sobre a questão; mas eu vejo alguma originalidade em Maria-sama ga Miteru. A partir da citação do início do romance, o livro é categorizado como uma “novela GL”, mas isso não é inteiramente correto. No entanto, Maria-sama ga Miteru teve um grande impacto nas novelas e mangás yuri que foram publicadas mais tarde.
O novo em Maria-sama ga Miteru – que chamam a atenção para o que foi escrito na época de Nobuko Yoshiya – era que o relacionamento entre as mulheres era muito positivo. [Yesss!!! Ela agora pegou o ponto certo!] No mundo de Maria-sama ga Miteru, mulheres não brigam entre si por causa de um homem. Kashiwagi, o “príncipe”, que é talentoso em todas as coisas, é posto para fora do reino pelas garotas logo no primeiro volume. As mulheres criam um relacionamento positivo entre elas sem nenhum tipo de ciúme ou competição. Este é exatamente a temática interessante trazida por Maria-sama ga Miteru.
Nesta história, você pode ver valores que são diferentes dos trabalhos yuri da geração anterior, que dava finais trágicos para personagens clichê. [Há exagero e generalização aqui!] No fundo, deve ter havido uma mudança na forma como autoras e leitoras percebem a identidade feminina. E o fato dos livros terem sido aceitos não somente pela mulheres, mas, pelos homens pode indicar que existe uma mudança na percepção da identidade masculina, também. Pelo menos no sentido de que os leitores podem gostar da leitura do romance como ficção mesmo que o ponto de vista masculino não exista na história. [Outra grande sacada!] Isto também expressa uma mudança que estava se processando por um longo tempo.
Eu acho que tal aceitação contribuiu para a criação de trabalhos como Azumanga Daioh, que não é uma série yuri, mas tem poucas personagens masculinas. Kazuo Kumada discute essas idéias em seu livro, Otoko Rashisa to Iu Byouki? Pop-Culture no Shin Danseigaku (A Masculinidade é uma Doença? O Estudo da Nova Masculinidade na Pop-Culture). Sobre a aceitação dos trabalhos yuri por leitores homens, Kumada escreveu “Homens que gostam de yuri não olham para o material de um ponto de vista externo; eles sentem o que a personagens femininas na história sentem. Como esperado, sua masculinidade se transformou e deu um passo adiante, tendo uma espécie de ‘disfarce de feminilidade.’”. [Será? Acho que aqui o autor força muito a barra.]
Aqui foi onde eu comecei a pensar, e eu? Eu não “sinto o que as personagens femininas estão sentindo” quando eu estou lendo trabalhos yuri. Embora, pensando nisso, quando eu estava lendo o meu primeiro Maria-sama ga Miteru, eu devo ter pensado, “Eu queria pertencer a este círculo,” mas isto era mais um caso especial do que qualquer emoção geral e profunda em relação aos trabalhos yuri. Talvez um homem poderia desejar ser uma mulher se o protagonista masculino mudasse o seu sexo e criasse um triângulo eterno, como em Kashimashi. Entretanto, pessoalmente, eu penso que a opinião de Kumada é um pouco otimista. Eu sinto que os otaku estão avançando mesmo é rumo à misoginia. [É duro, mas quando vemos a onda MOE, os hentai cada vez mais hardcore, o excesso de fanservice e o lolikon, faz sentido.]
De qualquer jeito, eu penso que nos afastamos muito do primeiro tópico, Maria-sama ga Miteru. [Com certeza... e eu me surpreendo que essa falação toda esteja na Margaret. ^_^] O que eu tenho na cabeça escrevendo tanto assim?
Faz muito tempo que eu não lia Maria-sama ga Miteru. Quando eu li de novo, para minha surpresa, eu achei o mangá divertido. Quando leio este volume, eu penso mais uma vez que a grandeza desta obra está na idéia de que apesar de as tragédias acontecerem, o tempo com certeza trará um novo começo. Há uma cena na qual Shimako lamenta ao imaginar que pode romper com Sei. Apenas esta cena é muito trágica; mas as leitoras sabem que ela encontrará Noriko na próxima primavera, e como conseqüência colocará em evidência emoções muito complexas. As nuances do estado mental nesta cena só é possível em trabalhos yuri.

4 pessoas comentaram:

"as duas personagens principais eram bonitas e deslumbrantes; uma era a impetuosa, do tipo super mulher e a outra era o tipo infantil e de aparência frágil..." o mesmo disfarce dos yaoi encobrindo os papéis heterossexuais, não é? olha só como é complexa e complementar a sexualidade humana: de yaoi e yuri culturalmente héteros, vamos passando a histórias mais reais, como Brokeback Mountain, e aceitando o sexo como um todo. será um dia glorioso...

"Homens que gostam de yuri não olham para o material de um ponto de vista externo; eles sentem o que a personagens femininas na história sentem. Como esperado, sua masculinidade se transformou e deu um passo adiante, tendo uma espécie de ‘disfarce de feminilidade.’”. [Será? Acho que aqui o autor força muito a barra.] "
vc acha? pode ser, mas MEU DEUS, como seria bom se ele estivesse certo, não? os homens abrindo um pouco essa cabecinha e descobrindo a verdadeira sexualidade do mundo, deixando a violência e preconceito um pouco de lado...

"Eu sinto que os otaku estão avançando mesmo é rumo à misoginia. [É duro, mas quando vemos a onda MOE, os hentai cada vez mais hardcore, o excesso de fanservice e o lolikon, faz sentido.] " PUTAKEPARIU, eu fui procurar "misoginia" no dicionário e vi que é "aversão a mulheres". Que horror!! seu comentario eh completamente adequado! quer dizer, essa degradação da imagem feminina na mídia e nos mangás, e tudo mais...porra, só não esperava esse japinha usar uma palavra tão técnica e forte! Credo, até onde vai o machismo? chega a ser pateticamente contraditório...

Valeria! vc acha que o novo shoujo da panini vale realmente a pena?=/ uma garota na comunidade falou que era horrivel,to querendo comprar mas tenho medo de me arrepender...

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