Drácula "Made in Brazil"

Fazia tempo que queria fazer um post sobre esta obra, aliás, toda vez que alguém vem com o papo de mangá nacional, sinto vontade de falar de Drácula. Primeiro, porque não acredito que exista mangá brasileiro, mas quadrinho nacional ou gibi, com influência de mangá. Agora, no futuro, com meninos e meninas crescendo lendo principalmente ou somente mangá, bem, a coisa vá se aprimorando a tal ponto que tenhamos, sim, mangá nacional. Posição minha.

Eu confesso que via de regra não me empolgo com material feito no Brasil. Minha sensação é que “falta” alguma coisa. Acho Holly Avenger bem competente, acho que o Estúdio Seasons faz um trabalho muito bom, mas o único quadrinho brasileiro que realmente me empolgou foi Drácula de Ataíde Braz e Neide Harue. Nem preciso dizer que o desenho era de Harue e que ela conseguiu fazer um quadrinho com influência de mangá, sem pegar os clichês bobocas e vazios que povoam o quadrinhos com influência japonesa que vemos por aí.

Era início dos anos 90 e eu voltava do curso de inglês. Passando pela banca de jornal, vi uma revista com capa azul. O título “Drácula” me chamou a atenção, afinal, eu gosto muito da personagem em si e de vampiros em geral. Comprei e devorei a revista rapidamente... A história era empolgante, a narrativa bem dinâmica, o traço bem agradável e o Drácula era trágico e romântico. Só não gostei do preto e branco... Bem, na época quadrinho para mim tinha que ser em cores. Daí eu ter pintado vários quadros, em especial as moças que eram muito bem desenhadas.

Demorou muito, chegou um segundo número com capa vermelha. Foi o último que vi. Não sei se a editora Nova Sampa faliu com o Plano Collor, não sei se era uma reedição, o fato é que nunca mais chegou número algum à minha cidade. Já na faculdade, uma colega disse ter lido até o volume 4. Já meu marido disse ter lido, emprestado, um volume encadernado com a história inteira. Pessoas de sorte! Também vi imagens do quadrinho, cenas que se passavam já no século XX, em uma revista ensinando como fazer roteiros de HQ, mas foi só isso.

A história adapta o romance feito por Bram Stoker, com uma primeira história independente introduzindo Van Helsing, teorizando sobre os diferentes tipos de vampiros (*normalmente uso como referência*) e depois a história acompanha a chegada de Jonathan Harker ao castelo do Conde Drácula e o drama vivido ali. Os acréscimos dão brilho à história original e a Mina que aparece no volume 2, assim como o próprio Drácula, são bem mais interessantes que os do romance original e os do filme com o Gary Oldman. Queria poder ler o restante da história, pois ao término do volume 2, Drácula vampiriza Lucy, porque ela é a imagem de sua falecida esposa, mas é de Mina que ele gosta ou a quem deseja.

Já procurei no Mercado Livre, na Estante Virtual, em muitos lugares, nunca encontrei para vender. Na net, as informações são escassas, sei que Neide Harue continua fazendo trabalhos de arte-finalização o que é um desperdício já que ela desenha tão bem, sei que Ataíde Braz é roteirista de múltiplos talentos e que Drácula foi publicado até na França. E aqui? Nas mãos de quem estão os direitos de publicação? Para mim seria um prazer ler Drácula completo e sei que faria bem para muitos meninos e meninas que querem fazer quadrinhos dar uma olhada em um material que ilustra bem o quanto você pode ser influenciado sem fazer cópia ou paródia.

Bem, para ilustrar o que digo, fiz scans de uma seqüência do volume 1 e outra do volume 2. O download está disponível aqui. Quem quiser comentar, fique a vontade. Se você tem um volume de Drácula e quer vendê-lo, talvez possamos negociar. Queria muito saber, também, se Neide Harue tem site. Acho que seria uma pessoa muito interessante de se entrevistar, afinal, tenho muita curiosidade em saber que autores japoneses a influenciaram.