quinta-feira, 8 de maio de 2008

Filme supera estilização da HQ original



A crítica da Folha não foi tão positiva em relação à Speed Racer quanto foi com Homem de Ferro. Resta saber se está sendo justa, ou não. Agora, esta frase realmente me deixou preocupada:
"Mais do que disseminar hábitos pelo mundo, a indústria de diversão dos EUA formata todos os mundos à sua imagem e semelhança, até o superestilizado universo de "Speed Racer"."

Desenho clássico vai ao cinema - "Speed Racer", dos irmãos Wachowski, de "Matrix", casa atores reais e visual de animações japonesas

Susan Sarandon elogia diretores: "Se você vai fazer um filme desses [com cenários 100% digitais], tem que ser com esses caras"

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
ENVIADO ESPECIAL A LOS ANGELES


Toda a discrição que permeia a vida privada dos irmãos diretores Andy e Larry Wachowski desaparece quando eles expõem suas idéias nas telas de cinema -e, se isso já era verdade na espetaculosa trilogia "Matrix", é ainda mais evidente em "Speed Racer", que estréia amanhã no país.

Adaptação do célebre mangá e desenho animado japonês criados na década de 1960 por Tatsuo Yoshida (1932-1977), "Speed Racer" é escandalosamente colorido, brilhante, barulhento e rápido, muito rápido (menos na duração, 135 min.).

É também um dos principais lançamentos da atual temporada (estréia em 570 salas no país, cerca de 80 delas em São Paulo), onde vai enfrentar o atual campeão de bilheteria, "Homem de Ferro" (que estreou na semana passada, em 573 salas).

A muito aguardada volta dos Wachowski à direção (depois dos dois últimos "Matrix", de 2003) conta a história do jovem viciado em corridas de automóveis, Speed Racer, herdeiro de uma família com longa tradição no esporte -mas as corridas, aqui, são mortais, verdadeiras batalhas que os produtores apelidaram de "car fu" (mistura de carro com kung fu).

É também "um animê [desenho japonês] com atores", como define o produtor Joel Siver. De fato, o filme dos Wachowski mistura a lógica visual dos animês com atores reais, fazendo com os desenhos japoneses o que "Sin City" (2005) havia feito com as HQs. Para atingir isso, os irmãos basicamente trocaram as câmeras por computadores. "As filmagens, em si, não foram difíceis, foram 60 dias em um grande galpão verde. Mas este filme foi criado digitalmente, você não vê tomadas de câmeras", diz Silver.

Uma idéia na cabeça

Para os atores, que atuaram em frente a telas verdes, sem cenários reais -eles são inseridos depois, digitalmente- a experiência não foi tão simples. "Passei quase um ano filmando "Na Natureza Selvagem" [de Sean Penn] ao ar livre. Sair disso para um galpão fechado não foi tão legal", diz Emile Hirsch, que faz o protagonista.

"Eu recusei outros filmes desse tipo porque sempre pensei que me mataria se tivesse que ficar em frente a uma tela verde por mais de três dias. Não vale o dinheiro", afirma Susan Sarandon, que interpreta a mãe do herói. "Mas, se você vai fazer um filme desses, então tem que ser com esses caras."

A oportunidade de trabalhar com os Wachowski, que adquiriram status de inovadores geniais depois de "Matrix", é mencionada por todos como um dos principais fatores de atração do projeto.

"Eles são fantásticos. As coisas que eles imaginam...", diz Christina Ricci, que tem o papel da namorada de Speed, Trixie. "Conversando com eles, você nota que têm uma visão bem completa do que querem. Mesmo que você não entenda o que eles estão pensando, você apenas segue, porque tem certeza que é brilhante e que vai fazer sentido no final."

A sensação de estar trabalhando "dentro de um mundo que os irmãos têm na cabeça" também é citada por todos. "Me senti em boas mãos, como se toda a pressão fosse tirada de mim e eu só tivesse que me encaixar nesse mundo incrível que eles criaram", conta Matthew Fox (de "Lost") que faz o misterioso Racer X.

Para Susan Sarandon, "foi um exercício de deixar meu ego de lado em prol do filme". A oscarizada atriz, que aparece para a entrevista ao lado de John Goodman (que vive o pai da família Racer), vê, no entanto, importância fundamental nos breves papéis de ambos.

"O desafio do filme é que ele é tão massivo, saturado de cores e com tantas coisas acontecendo que você pode perder a atenção da platéia. Então, esse foi nosso papel, trazer a parte emocional do filme."

Será que ele é?

É pena que os próprios Wachowski não estivessem presentes nas entrevistas aos jornalistas. Notoriamente avessos a aparições públicas, eles têm ainda mais ojeriza a repórteres.

"Essa é a única parte em que eles não se envolvem", afirma Silver. "Em todas as outras etapas do filme, eles estão presentes." O produtor pode falar: já trabalhou com os irmãos nos três "Matrix" e em "V de Vingança", que eles produziram.

Como figura mais próxima da dupla, cabe a Silver responder sobre o assunto mais polêmico -e o que mais se falou à boca pequena entre os incontáveis repórteres presentes no lançamento: a suposta operação de mudança de sexo a que Larry teria se submetido.

A pergunta é, evidentemente, a que encerra a entrevista. "Qual é o gênero [no sentido de identidade sexual] atual de Larry?", pergunta um corajoso.
"Ah, por favor... eles são Larry e Andy para mim."

O repórter MARCO AURÉLIO CANÔNICO viajou a convite da Warner Bros.
PETROBRAS INVESTE US$ 3 MI NO LONGA

Se você piscar, não vai perceber, mas a marca da Petrobras está presente em "Speed Racer" -num dos carros de corrida, num dos zepelins que aparecem sobre os circuitos, em cenas de poucos segundos.

"O investimento direto foi de US$ 1 milhão, pelo direito de associação de marca. Também tínhamos o compromisso de investir US$ 2 milhões em ações promocionais, que vão acontecer agora em postos da empresa", diz Luis Antonio Vargas, gerente de publicidade da Petrobras. Para Vargas, o tempo da marca em cena no filme não é o que mais interessa.

"Tem gente que acha que essa ação nos dá participação no roteiro, a idéia não é essa. Não se discute como a marca vai aparecer, até porque a inserção de produto não é apenas a presença física no filme, mas os desdobramentos e as associações que isso permite para o anunciante."
Filme supera estilização da HQ original

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA


Enquanto "Homem de Ferro" optou por solução mais realista para adaptar HQ em forma de aventura contemporânea, "Speed Racer" seguiu caminho oposto: o desenho animado original é que talvez pareça mais realista diante da superestilização buscada no filme pelos irmãos Wachowsky.

Extensa paleta de cores e movimentação intensa contribuem para criar, em cenários futuristas de ambientação retrô, um universo de ação quase alucinógeno, como se os personagens do desenho adquirissem vida não em coordenadas como as nossas, mas em uma ambientação de videogame.

Esse compromisso com a procura de um código de imagens e sons que seja mais próximo do dialeto de outra mídia entra na conta da experimentação de caráter industrial, como em "Dick Tracy" (1990) e "Sin City" (2005), e tende a agradar a parcela do público jovem interessada em certa espécie de familiaridade.

Bom filme baseado em quadrinhos ou em animação seria, de acordo com essa lógica, o que se "parece" com quadrinhos ou animação. Em "Speed Racer", a tentativa de evocar o espírito ingênuo do original o tornou mais infantil do que juvenil, na contramão, por exemplo, de filmes como "Homem de Ferro" e até mesmo de "Homem-Aranha".

Há um toque sombrio na trama, relacionado à manipulação de resultados nas corridas e ao próprio desaparecimento (morte?) de Rex Racer, o irmão mais velho de Speed (Emile Hirsch, de "Na Natureza Selvagem"). Os vilões responsáveis por isso, no entanto, são interpretados de maneira caricatural pelos atores e, por tabela, soam infantilizados.

Família de cartum

Não é fácil a vida de atores em circunstâncias como essas, em que, além da referência de fundo ao desenho animado, a inserção de efeitos especiais na fase de pós-produção determina o resultado. No fundo, porém, talvez não seja tão difícil assim: basta, como na maior parte dos filmes, emprestar seu tipo físico aos personagens.

É o que fazem John Goodman e Susan Sarandon, nos papéis de Pops e Mom Racer, os pais de Speed. Essa família de cartum representa a cultura dos subúrbios da classe média norte-americana em uma espécie de mundo paralelo, também voltado para o consumo de televisão e comida, não necessariamente nessa ordem.

Mais do que disseminar hábitos pelo mundo, a indústria de diversão dos EUA formata todos os mundos à sua imagem e semelhança, até o superestilizado universo de "Speed Racer".
SPEED RACER
Direção: Larry Wachowski e Andy Wachowski
Produção: EUA, 2008
Com: Emile Hirsch, Christina Ricci e Matthew Fox
Quando: a partir de amanhã nos cines Anália Franco, Eldorado e circuito (censura livre)
Avaliação: regular

2 pessoas comentaram:

Bonitinho, deu para aguentar legal (só um bocejo durante o filme todo - nenhuma vontade de levantar) prende atenção por causa das corridas, efeitos especiais lindos (apesar de algumas cenas deixarem a desejar - como a que o Speed vai da escola para casa).

Enfim, um bom divertimento, não vai mudar a vida de ninguém mas é um bom filme para preencher duas horas de monotonia.

Um senão na minha opinião é de que o filme em televisão de 20 ou 14 polegadas não seria bom, ele é cheio de detalhes demais e parece ser feito sob medida para cinema mesmo, tantos pequenos detalhes não funcionariam na televisão do espectador mediano.

Mas é lindo, fofo etc. Não te dá sensação de uma integração real. Vc não fica querendo agredir o vilão, vc simplesmente aguarda o desfecho, não há espaço para ter os sentimentos tomados por sensação de angústia ou revolta. Um bom passatempo.

Como não li o mangá nem vi o anime mais que 4 ou 5 vezes não posso tecer outros comentários.

Acho que para Speed Racer, o que conta é o anime. Nem vale muito a pena correr atrás do mangá.

Talvez eu assista o filme amanhã, dapi, comento alguma coisa.

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