sábado, 15 de novembro de 2008

True Blood: Minhas Ponderações



Depois de dez episódios, acredito que já passou da hora de comentar True Blood. Enfim, não conhecia a séria até a matéria da Folha de São Paulo do sábado passado que postei aqui. Empurrada pelo papo de Twilight, acabei decidindo arriscar True Blood e gostei. O livro chegou ontem e comecei a ler. É narrado em primeira pessoa, então, provavelmente, Sookie, a protagonista não poderá ver tudo o que a série mostra. Até a décima página, está igualzinho, mas já li spoilers dos livros e sei houve muitas alterações e que, se seguirem os próximos livros, e a segunda temporada já está garantida, é possível que a fidelidade fique muito comprometida.

Desde lá os meus dez anos, ou menos, sempre gostei de histórias de vampiros. E sei que vampiro cada um cria o seu, há mitos suficientes para todo mundo, e a graça está em torná-los atraentes para o grande público. Com três décadas nas costas, já vi toda a sorte de vampiro em livro, filme e quadrinho. Sim, porque considero uma das melhores leituras dos mitos o quadrinho brasileiro Drácula que merecia ser republicado. O Drácula deste quadrinho era um sujeito atormentado, capaz de crueldades, mas sempre um cavalheiro.

Há os vampiros que parecem monstros sem coração, os que são humanos demais. Aqueles que nascem vampiros, os que morrem para virar vampiros, os que fazem a transição em vida. Às vezes, basta uma mordida, em outros são três, em alguns casos só bebendo o sangue do vampiro e por aí vai. Há os vampiros que são praticamente invencíveis e os de Buffy que se desfazem em cinzas com uma estacada na unha do dedo mindinho. Houve o glorioso Drácula de George Hamilton em Amor à Primeira Mordida que foi despejado pelos comunistas romenos de seu castelo e confundido com uma galinha preta por uma família de desempregados famintos. E já houve a época em que todos os vampiros eram over-sexualizados, vide A Hora do Espanto e o vampiro dançando (*Crianças que não assistiram, procurem isso no Youtube, porque deve ter*).

Depois, quase todos eram traumatizados e queriam sua humanidade de volta ou se agarravam aos farrapos dela. Aliás, este tipo de vampiro não sai de moda. Temos Angel em Buffy, Nick Knight em Maldição Eterna (*que eu torço para ver em DVD e poder comprar*) e o próprio Bill de True Blood parece ser assim. Eu estou com pouca paciência para esse tipo de herói/protagonista quando ele prefere ficar se lamuriando ao invés de aproveitar a graça da sua vida ou não-vida.

Houve a época dos vampiros andróginos da Anne Rice e se me lembro bem, eles não faziam sexo, ou o faziam ao morder a presa. Faz muito tempo que li Entrevista com o Vampiro (*não tem essa discussão no filme*), posso estar equivocada, mas não são somente os vampiros castos-vegans atuais que não fazem sexo. E, sim, concordo que morder é uma metáfora para o ato sexual e, como li sei lá onde, todo vampiro é por princípio bissexual. Mas antes que eu me perca, voltemos à True Blood, tentando fugir dos spoilers... se eu puder, claro”.

O universo de True Blood (*leiam a matéria da Folha*) é aquele do Sul profundo e racista dos EUA, cujas famílias empobrecidas vivem das glórias do passado confederado, no qual “lixo branco” e “lixo negro” convivem e a tensão é constante. Já vimos isso em vários filmes, mas não me lembro disso em uma história de vampiros. Fora do mundinho miserável e decadente, há uma questão maior discutida: o direito dos vampiros. Os japoneses (*viu? Não é tão off-topic assim*) inventaram o sangue sintético, o True Blood do título do seriado, e alguns vampiros querem se tornar cidadãos plenos, embora noturnos. Há a luta por direitos civis que lembra as lutas dos negros. O paralelo é explícito, da mesma forma que os debates na TV entre pastores e representantes dos direitos dos vampiros é feito nos mesmos parâmetros dos debates pelos direitos dos homossexuais. Nada é inocente, você usa uma coisa para falar também de outra. Jornada nas Estrelas, a série clássica, vivia disso.

Como nem todos os vampiros querem esta inserção a tensão existe também na sua sociedade. E ao longo da série somos apresentados lentamente às hierarquias deste mundo paralelo. Se os humanos são "racistas" (*a palavra é utilizada*), há vampiros que fazem o mesmo, são supremacistas que consideram os humanos inferiores. Neste último episódio foi possivel ver bem isso. Fica difícil saber, para mim que não li os livros, qual o papel real da liga dos direitos dos vampiros, quando as autoridades vampirescas desprezam tanto os humanos.

Temos o nosso par a nossa protagonista, Sookie, a caipira sulista, garçonete, com físico de líder de torcida, e poderes telepáticos que atrapalham sua vida. E ela conhece Bill, o vampiro fofinho que quer voltar a viver na sua cidadezinha natal e ter direito a sua cidadania. Algo os atrai, Sookie parece esperar por um vampiro para amar (*sim, é por aí mesmo*), seja por curiosidade, por desejar alguém diferente, seja porque o vampiro não pode ter seus pensamentos lidos, possibilitando que ela relaxe. Sim, imagino como deve ser angustiante a situação dela e como deve ser desagradável ler pensamentos de certas pessoas. Aliás, ao longo da história, detalhes traumatizantes da infância da menina são revelados. Engraçado, principalmente para quem é professor, é ver que ela foi diagnosticada com DDA, isto é, distúrbio de atenção e hiperatividade. Por que é engraçado? Porque é diagnóstico da moda por aqui, qualquer criança com problemas reais ou imaginários, mal educada ou super dotada, corre o risco de receber este singelo diagnóstico e remédios, claro. A mãe da protagonista se recusou a medicá-la.

Aliás, uma das grandes sacadas são os flashbacks. A transformação mais triste que eu já vi em filme (*e não li nada que fosse mais triste, também*) foi a do Bill. Sim, ele não queria virar vampiro, foi uma fatalidade. E como bom moço que era, ele perdeu o que mais amava, a esposa, os filhos, a família. Eu fiquei meio maria-mole nos últimos tempos, então quase chorei, como quase chorei no julgamento do Bill ou na cena da Sookie com a torta da avó. Abrindo um espaço para explicar: eu adoro a comida da minha avó materna, mais especificamente o seu frango cozido com arroz. É a comida mais sem graça do mundo, ninguém concorda comigo, mas é um elo afetivo que evoca tudo de bom da minha infância e adolescência, evoca a presença da minha avó. Vejam que um material pode tocar a gente das formas mais diferentes. É uma das minhas passagens favoritas.

O mundo de True Blood, não é muito diferente de um universo cheio de mutantes: vampiros, menades, shapeshifters (metamorfos, muito bem sacados), lobisomens e o que mais aparecer (*não posso comentar aqui sem grandes spoilers*). Os vampiros são a ponta do iceberg, com os que querem mainstream, se inserir, e os que desejam continuar tocando sua vida secreta ou de crimes. Neste sentido, é interessante a distinção apresentada neste episódio 10, o último até o momento, em que Bill é julgado e o magistrado diz que ele nunca foi um maker (criador). Ele não queria dar o mesmo destino a outros. E não confunda isso com matar outras pessoas, ou se alimentar delas.

True Blood tem vários aspectos interessantes. Há vampiros que querem provar que eles são uma variante humana fruto da contaminação por um vírus. Seria uma analogia com o HIV? Não sei. Aliás, vampiros podem ficar doentes e isso é enfocado em um episódio. Adoecem e isso os torna vulneráveis, como a luz do sol, mas não morrem. Outro aspecto é que o sangue de vampiro é usado como droga e vampiros são caçados por traficantes e/ou usuários. A droga age de várias maneiras, mas tem efeitos interessantes como aprimoramento dos sentidos ou mesmo uma ereção mais poderosa.

Eu gostei muito das personagens secundárias e espero vê-las bem desenvolvidas nos livros. Tara, a melhor amiga da protagonista, com suas angústias, mãe alcoólatra crente e seu orgulho (*”Você está falando assim comigo por ser negra ou mulher e negra?”*); a avó da Sookie que aprece uma versão contemporânea e idosa da Melanie Wilkes de “E o vento Levou”. Uma verdadeira dama em todos os sentidos. É uma pena que ela seja uma das vítimas, sim, porque acontecem assassinatos em série de mulheres que tiveram algum relacionamento com os vampiros e, claro, Bill é suspeito, e embora saibamos que ele não é o criminoso, quem é ele? Devem mudar o assassino do livro para surpreender a todos, eu suponho. Há também o Lafayette, primo da Tara, que é cozinheiro do bar onde Sookie trabalha, gay, prostituto, traficante de drogas e com um senso de humor ma-ra-vi-lho-so sem nunca levar desaforo para casa (*Quando ele tira os brincos e o avental, é melhor correr*). Enfim, ele é um dos pontos altos. Temos também o Sam, dono do bar e apaixonado pela protagonista. este daí guarda um grande segredo... E o irmão da Sookie que é burrinho, pensa com a cabeça errada e se mete em encrenca o tempo inteiro. Não sei se amo ou odeio ele, enfim... E temos o misterioso Eric, Sheriff dos vampiros naquela região. Frio, alto, louro e sueco, ele deve ser mais interessado na sookie do que deixa transparecer. Ah, e vampiros quanto mais velhos, mais poderosos (*bem lógico*). Bill com seus cento e poucos anos não é nada diante do Eric que tem mais de mil anos.

Até o momento, a série já pontuou muito alto comigo. Cenas ótimas especialmente com Bill (*ele sabe lidar com pedófilos*), Lafayette, Tara e a avó da Sookie, uma protagonista que às vezes é irritante e bobinha (*ela acha que porque é imune a hipnose dos vampiros, que eles chamam de "glamour", pode escapar das mordidas*), mas é decidida quando precisa ser. Ana Paquin, a Vampira do filme dos X-Men, é ótima atriz, mas me lembra um pouco as japonesas que não se preocupam com o sorriso. Seus dentes da frente são bem abertos e isso estraga um pouco a sua beleza. Poderia exagerar menos nos palavrões e no sexo gratuito (*não da protagonista com o Bill, a coisa aí é muito bem trabalhada e boa de se ver, admito*), mas não é material para menores mesmo.

Mal posso esperar pelos últimos episódios. Quem é o assassino? Como fica a cabeça do Bill depois do julgamento e da sua punição? Será que Tara vai virar alcoólatra, também? (*espero que não*). Devo comentar os outros episódios e o livro. Afinal, fazia muito tempo que não gostava de uma série americana, desde Bones, acho. Meu marido vai ficar contente de eu ter dado um tempo naquilo que ele chama de “séries paras solteironas inglesas”. Se bem que tenho algumas aqui por assistir e a BBC é muito mais certeira comigo do que qualquer rede americana.

6 pessoas comentaram:

Valéria, qual o nome do livro? É True Blood mesmo?

Me interessei, e como não tenho acesso á série vou correr atrás do material original.

Eu tinha errado o título, é Morto até o anoitecer, traduzido literalmente de "Dead Until Dark".

Também me interessei depois de ler seu post Valéria.


Vou comprar o livro... e esperar ter espaço no meu HD para baixar a série.

Obrigado pela dica.

Valéria eu acompanho a série desde o primeiro episódio, e no início achei ela meio sem graça, mas apostei e ganhei. Estou adorando a série e pra mim o episódio 10 é um dos melhores. Agora só queria saber uma coisa, a 1ª temporada terá apenas 12 episódios? Estou baixando ele e ele está como Season Finale. Valeu t+.

Alexandre, comentei no post mais recente sobre a série...

Gostei muito da série. Deu pra substituir bem Moonlight, que eu adorava. Muito bom seu texto.

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