domingo, 14 de março de 2010

Revista Época entrevista Tom Ford e Colin Firth



Mesmo passando batido pelos cinemas daqui (*sim, aqui em Brasília já está saindo de cartaz para ceder espaço para o novo filme do Robert Pattinson. Se eu não tivesse corrido semana passada...*), o filme está recebendo uma atenção muito legal da imprensa. A Single Man merecia mais, e nem vou dizer que ficaria mais em cartas se o Colin Firth vencesse, porque o filme argentino já rodou em várias salas, também para que o filme do Robert Pattinson entrasse. Enfim, segue a entrevista da Época. Era só apra assinantes.

"Quero ser mais diva e dirigir prima-donas"
Como uma estrela da moda virou diretor de cinema
Marcelo Bernardes, de Nova York

O drama Direito de amar marca não só a estreia do designer de moda Tom Ford como diretor de cinema. Ele também vem a ser a primeira vítima da atual crise econômica. Em 2008, quando ia rodar o filme, Ford perdeu o apoio de investidores por causa da queda do Banco Lehman Brothers. Coube a Ford investir US$ 7 milhões do próprio bolso. O dinheiro veio da fortuna que acumulou como diretor criativo da grife Gucci, de onde saiu em 2004. Baseado no romance Um homem só, de Christopher Isherwood (1964), o longa conta a história de um dia na vida do professor gay (Colin Firth), que, após a perda do amante num acidente, arquiteta (com estilo) o próprio suicídio. Ford e Firth - ambos em impecáveis ternos da grife Tom Ford - falam sobre o filme.

QUEM SÃO
Colin Firth (à esq.) nasceu em 1960 em Grayshott, Hampshire, Inglaterra. É casado com a produtora italiana Livia Giuggioli. Tom Ford nasceu em 1961 em Austin, Texas. Tem um relacionamento de 23 anos com o jornalista de moda Richard Buckley

O QUE FAZEM
Firth ganhou o Bafta (principal prêmio do cinema britânico) por Direito de amar. Ford foi diretor criativo das grifes Yves Saint Laurent e Gucci. Tem uma loja em Nova York

ÉPOCA - Tom, por que decidiu adaptar o livro Um homem só como primeiro projeto cinematográfico?
Tom Ford - O livro de Christopher Isherwood foi uma leitura que fiz quando tinha 20 anos. Eu tinha acabado de trocar a Universidade Nova York - pois vivia no nightclub Studio 54 e no dia seguinte ficava imprestável - pela vida de ator em Los Angeles. Naquela época, experimentei o livro como uma visão nostálgica e paranoica da Califórnia dos anos 60. Décadas mais tarde, ao procurar meu primeiro projeto para o cinema, reli o livro. E ele ressonou de maneira muito especial e diferente. Dessa vez, era uma história sobre a conexão humana, com que todo mundo poderia se identificar, independentemente da sexualidade do espectador. Também é um filme muito espiritual que tocou profundamente um lado meu que vinha negligenciando por muito tempo.

ÉPOCA - Por que vinha negligenciando seu lado espiritual?
Ford - Por ser designer de moda, eu vivia sempre no futuro, esquecendo de viver o presente e de prestar atenção e apreciar mais as coisas e as pessoas a meu redor. Todo o materialismo que vem do mundo da moda é aceitável, desde que você mantenha as ideias em perspectiva. Talvez, por um tempo, não tenha ficado tão focado assim.

ÉPOCA - Colin, o que o atraiu no personagem do professor gay, a ponto de você abrir mão de um alto salário e embarcar numa produção totalmente financiada por um diretor estreante?
Colin Firth - Nunca li um roteiro que me apresentasse o personagem da forma que Tom Ford o fez. O texto era mais sobre como George Falconer vê o mundo, menos sobre como ele aparece para o mundo. Algum outro roteirista talvez o tivesse apresentado como um homem de meia-idade, que usa camisa abotoada, que anda mancando e tem um tique nervoso. O roteiro de Tom era minimalista. Desconheço o mundo da moda, mas já tinha ouvido falar sobre a reputação de Ford e seu faro pelo brilhantismo em outras áreas, como fotografia e direção de comerciais. Mas isso não quer dizer que ele teria as ferramentas necessárias para dirigir um filme. O que me chamou a atenção foi o fato de Tom ter escolhido uma história sobre solidão e suicídio para sua estreia no cinema. Não me pareceu que ele estivesse querendo apresentar a coleção primavera-verão na tela (risos) .

ÉPOCA - No livro, o personagem George não tenta o suicídio. Tom, por que deu essa faceta tão trágica ao personagem?
Ford - Sem entrar em detalhes, porque muitas das pessoas envolvidas ainda estão vivas, a ideia do suicídio vem de uma experiência pessoal. Um familiar resolveu se matar. Lembro vividamente do dia da morte dele. Ele planejou tudo, inclusive colocar um saco de dormir em cima da cama e se ajeitar dentro dele, para não sujar a cama ao disparar a arma. Essa cena resulta cômica em meu filme, pois acredito que, até nos momentos mais profundos e de sombria depressão de nossas vidas, o horror sempre coexiste com o humor.

ÉPOCA - Você pediu que Colin Firth perdesse peso para o papel.
Ford - Não me lembro (risos) .
Firth - Tom e eu não chegamos a conversar sobre qual versão é correta (risos) . Mas o subtexto foi o mesmo, só acho que filtramos de uma maneira diferente. Tom tende a lidar com os atores de uma maneira muito paternal. No começo ele falou: "Colin, você está ótimo, mas se quiser que um personal trainer vá todo dia em sua casa, eu pago por ele". Para mim, isso significa dizer: "Você está gordo". Tom pode lembrar disso de forma diferente. Ele acabou me fazendo um grande favor, dando o último empurrão de que eu precisava.

ÉPOCA - Como vocês descrevem o clima no set de um diretor iniciante?
Ford - Sempre tive a imagem de que o clima no set de meu primeiro filme seria divertido e estimulante, o que se tornou uma realidade. Não tínhamos quase nenhum dinheiro para a produção e rodamos o filme em 21 dias. Todos os atores fizeram esse filme por amor à arte. Era uma atmosfera positiva e de camaradagem. Não houve espaço para ego. Espero que, em meus próximos filmes, eu possa ser mais diva, e também dirigir prima-donas!
Firth - Cheguei ao set num sábado. Por ser branquelo, no domingo fui submetido a um bronzeamento artificial, que consistia numa aplicação de um spray cor de laranja. Na segunda, estávamos filmando a primeira cena. Para uma pessoa como Ford, que é designer de moda e costuma ter total controle sobre os mínimos detalhes, foi um alívio ver quão pouco ele interferia no trabalho dos atores. Uma das cenas mais importantes do filme, quando George descobre, por telefone, que a família de seu amante não o quer no velório, foi rodada num dia histórico. Eram 9 da noite - lembro do horário porque Barack Obama tinha acabado de ser eleito presidente dos Estados Unidos. Também foi no dia em que a Califórnia aprovou a lei que proibia o casamento gay no Estado.

ÉPOCA - Direito de amar deve ser visto como um filme gay?
Firth - Acho que é muito importante a maneira como Tom Ford apresenta o filme. Existe uma familiaridade na relação afetiva do personagem que é muito inclusiva para gays e heterossexuais. E isso é também algo que admirava muito nos livros de Isherwood, porque ele jamais tentou sublinhar sua sexualidade. Nos livros de Isherwood, o amor entre duas pessoas do mesmo sexo é apenas uma coisa espontânea e orgânica, sem levantar bandeiras, o que vem a ser uma das grandes armas contra a discriminação sexual. Isherwood nunca foi um militante gay. Ele estava mais apaixonado pelo Bacardi.

1 pessoas comentaram:

Sábado eu ia ver esse filme com a galera da queer nerds do RJ só que o cinema lá de Botafogo tava sem ar condicionado!!! Aí não rolou...E essa entrevista foi bem deliciosa de se ler! Cada materia que eu leio desse filme só me deixa com mais desejo de vê-lo. E quase morri com a foto desses dois juntos! Aguenta coração!

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