sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Livro de Monteiro Lobato não será banido por racismo



Lembram da discussão sobre as expressões racistas relacionadas à Tia Nastácia e o possível corte de um livro de Monteiro Lobato da lista de recomendados pelo MEC? Pois é, o MEC decidiu: Monteiro Lobato pode ser racista, porque é Monteiro Lobato e seus livros são clássicos. Assisti a fala do ministro Haddad agora. Enfim, o caso não é esse. Quer dizer que um autor de peso do passado pode ser racista, porque é autor do que consideramos “clássico”? Se fosse a Maria da Silva ou o Zé das Couves o livro poderia ser “censurado”, mas Lobato, Machado, Alencar... Não? Pois é, parece que a coisa é por aí. Eu gostei da decisão, do livro Caçadas de Pedrinho não ser excluído, de saber que a editora vai incluir uma nota explicando o contexto do livro. Tudo isso é ótimo, era o que eu queria, MAS essa conclusão exaltando o cânone, sem questionar esses critérios de “grandeza” e “autoridade”, me deixam arrasada. Mas está aí, o barulho ajudou e o livro de Monteiro Lobato poderá continuar sendo lido pelas crianças nas nossas escolas públicas sem censura.

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É... mas segundo eu li por aí, uma série de desenhos animados do Sítio do Pica-Pau Amarelo está sendo produzida pela Globo e "a personagem Tia Nastácia foi cortada por fazer referência à escravidão".

Você pode achar a notícia em vários lugares, aqui é só uma delas:

http://www.anmtv.xpg.com.br/rede-globo-ira-produzir-seria-animada-do-sitio-do-picapau-amarelo/

Depois saíram falando que "só serão suprimidos trechos os trechos que fazem citações sobre escravidão"... mas vou dizer que eu sou bem íntima do Sítio do Pica-Pau e não faço a MÍNIMA ideia de que "trechos" sejam esses!

Como será que fica isso?

É por essas e outras que o racismo vai continuar entranhado no nosso modo de viver ainda por um bom tempo. Nunca seremos iguais enquanto a paranóia tomar conta. Quanto mais eles tentam consertar, mais se afogam.

Ai, Petra... Sítio sem Tia Nastácia não é sítio... Não é mesmo! :(

Pois é, eu fiquei sabendo dessa doideira há uma semana, em BH, durane o encontro de bibliotecas. Algo fora da realidade, loucura total. Vi uma reportagem na Globo News em que o Haddad disse que o livro não será censurado. Coitado do Monteiro Lobato. Por conta de duas frases isoladas um clássico quase vai parar no limbo da censura ( que parece estar ficando pior a cada dia por conta dos exageros do "politicamente correto").

O politicamente correto se mostra cada vez mais imbecil, o que há de racista em "A tia Anastácia subiu na árvore como um macaco."? Sóo fato dela ser negra, se fosse a Narizinho, a Emília ou o Pedrinho estaria tudo bem, pois afinal de contas eles são brancos. Acho uma estupidez e babaquice tremenda isso, daqui a pouco não poderemos usar a palavra negro e macaco na mesma sentença, pois tudo será racismo. Essa caça às bruxas está cada vez mais ridícula.

Comparar macacos e negros é ofensivo, sim, porque chamar um negro de macaco é uma das ofensas mais comuns. Um branco chamado de macaco pode até não ser ofensivo, mas se o contexto sugere macaco = estúpido, idiota, desengonçado, tenha certeza de que a pessoa se sentirá agredida. Mas ser branco já te coloca em posição de prestígio, daí uma ofensazinha não dói tanto... talvez.

Então, a decisão de colocar uma introdução comentando o racismo do texto é o mais válido. Censurar o livro é que não é. Dizer que Monteiro ou qualquer montro sagrado pode tudo é que é uma idiotice.

Coisas absurdas, como essas, infelizmente acontece... O canône é adorado como a um deus, mesmo nas faculdades públicas que tem fama de serem "esclarecida"...

Concordo que o livro não deva ser censurado, afinal, se for assim, teremos uma lista (não somente de textos literários)de livros e textos a serem "banidos"! Tem que se levar em consideração que a época em que o Lobato viveu, não era... digamos, de todo "estranho" essa apologia ao racismo, e que a percepção de mundo e a formação de um indivíduo muda de época em época. Julgar um trabalho literário com olhos contemporâneos é um erro primário.

O melhor, concordo com a Valéria, é a nota de explicação. Até porque, não adianta querer varrer para baixo do tapete os comportamentos erroneos e atitudes horriveis da nossa sociedade. Tratar um comportamento, uma ação, uma linha de pensamento que seja, racista como normal por se tratar de um canône, é revoltante... "Fingir" então que essa "coisa" nunca aconteceu em nossa história, na minha opinião, é pior ainda.

O que o Kadu quis dizer, e foi como eu entendi a frase tb, naquele trecho o autor não comparou a Tia Anastácia a um macaco por ser negra e sim pelo falo dela estar subindo na árvore! Se eu estivesse subindo na árvore ficaria "Lina Inverse trepou na árvore que nem uma macaca"
E qual seria o problema?

Pode até ter conteúdo racista nos livros do Lobato (nunca li nenhum), mas não achei essa passagem específica divulgada nos sites racista.

Bem, Lina, foram várias as passagens. Mas é, sim, diferente compararem alguém que é negro a um macaco e alguém que não é considerado negro. É o mesmo caso de colocarem uma imagem d eum negro comendo melancia nos EUA, ainda que inocente, ela se remete a toda uma série de representações racistas. Durante muito tempo, o rosto de personagens negras, inclusive a própria Tia Nastácia e o rosto de macacos eram desenhados da mesma forma. É por isso que a idéia de macaco e uma personagem negra em comparação pode, sim, ser muito ofensiva. Exemplos aqui: http://bit.ly/aFUjCU

Agora, é claro que o Tarzan ser "o homem macaco" remete a sua agilidade e inocência de bom selvagem. Mas o único outro caso de branco comparada sistematicamente a macaco para ilustrar sua burrice é George Bush. Ou seja, mesmo quando se trata de brancos, pode, sim, ser uma ofensa.

Vou dizer que sempre li essa passagem de que "tia Nastácia subiu na árvore que nem macaco" e nunca fiz a associação... porque ele descreve de igual maneira ridícula Dona Benta tentando subir no telhado também.

Mas enfim, não há como negar que no cânone se usa sim Tia Nastácia como alívio cômico, muitas vezes tendo por base a cor de sua pele.

No entanto, concordo com que o que deve haver é nota introdutória, professores que esclareçam e discutam o assunto, contextualizem a época.

Porém, também não acho que haja porque tanta celeuma. Apesar de ser um narrador por vezes ácido, Lobato sempre teve o cuidado de diferenciar o tratamento conferido à Nastácia por seus personagens -- apenas os mais "sem coração" tratavam-na mal(como Emília, a boneca "sem coração") e vilões.

Todos os personagens bondosos -- Pedrinho, Narizinho, Dona Benta, Visconde, o Burro Falante, Quindim (o rinoceronte) tratavam Tia Nastácia com a maior consideração e carinho. Todas as vezes que Emília xinga Tia Nastácia no livro, sempre é acompanhada de uma bronca de Narizinho, Pedrinho ou Dona Benta, acho importante lembrar.

Posso estar equivocada, mas pra mim esse negócio nunca se tratou de censura. Desde o início o que se disse é que o livro não poderia ser comprado por programas do governo, por ter conteúdo racista.
Falou-se inclusive na nota no início do livro explicando o contexto, como eles colocaram sobre a caçada, e em orientar os professores a fazer essa explicação, caso a leitura fosse feita em sala de aula ou fosse pedida por eles.

Mas posso ter perdido alguma coisa.

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