domingo, 30 de outubro de 2011

Comentando o filme O Conclave: Uma Prequel para The Borgias



Como se faz um papa? Quem ganha e quem perde? Essas são duas perguntas que o filme O Conclave (The Conclave) tenta responder. Fosse nos dias atuais, acredito que o filme seria um tanto inócuo, mas em um dos momentos cruciais da História da Igreja Católica (*Afinal, as Reformas Religiosas do século XVI tiveram bons motivos para acontecerem*), o confronto entre os cardeais e a luta desesperada para que o jovem Rodrigo Borgia – sim, o futuro papa Alexandre VI – mantenha não somente o seu cargo de Vice-Chanceler da Igreja, como a sua própria vida acaba empolgando bastante.

O filme começa em 1458, com a morte do primeiro Papa Borgia, Calixto III (1455-58), e o duplo drama, a eleição do novo papa, e a sobrevivência política de Rodrigo Borgia, um jovem de 27 anos, chamado com desprezo pelos outros cardeais de “cardeal-sobrinho”. Morto o tio papa, a situação dos sobrinhos fica muito complicada. Como Vice-Chanceler cabia a Rodrigo liderar o Conclave, mas as velhas raposas do Vaticano e outros bichos envolvidos no processo de eleição eram muito mais poderosos que ele. Rodrigo é (*muito*) ameaçado e adulado, e termina desempenhando um papel fundamental na eleição de Pio II, e garantindo não só sua sobrevivência política, mas iniciando um sólido percurso até que ele mesmo se torne papa.

O Conclave não estreou nos cinemas brasileiros, mas pode ser comprado por um preço bem acessível ou alugado em uma locadora. O filme lembra um pouco uma peça filmada. Há ação, violência, algumas locações abertas, mas é dentro do claustrofóbico Conclave que se desenvolve boa parte do filme. Não é um momento muito feliz da História da Igreja Católica e os papas do Renascimento não têm lá muito boa fama, especialmente Alexandre VI, o nosso Rodrigo Borgia. Mas é inegável que ele foi grande diplomata e que sobreviveu politicamente graças a muita astúcia.

Já o encontramos no início do filme nos braços de sua amante mais famosa, Vannozza de Cattanei (*que não parece bem uma condessa no filme*), pouco interessado na política da Igreja, e uma figura bem diferente dos cardeais de nossos dias. Aliás, com a morte do tio ele não é tratado como cardeal “de verdade” pelos outros cardeais e sua vida parece estar por um fio. A poderosa família Orsini só espera o momento para matá-lo, como faz com seu irmão que era o líder das tropas do finado papa. O ator espanhol Manu Fullola defende bem o seu Rodrigo e eu até fico com pena dele, especialmente quando se confronta e é quase engolido pelos cardeais Guillaume D'Estouteville (James Faulkner), Aeneas Sylvius Piccolomini (Brian Blessed) e Latino Orsini (Peter Guinness)

Dito isso, o legal do filme são os diálogos. Ameaças de morte explícitas, compra de voto, chantagens, falsas promessas, rola de tudo. Os cardeais são capazes de qualquer coisa, especialmente o francês Guillaume D'Estouteville, que quase foi papa, e praticamente diz “vote em mim ou...” , balançando o poder do Rei da França e tudo mais que pode sacar da manga. No intuito de cooptar os votos dos dois cardeais “gregos” promete até uma cruzada para recuperar Constantinopla, então recém conquistada pelos turcos.

No confronto, Piccolomini parece o melhor candidato, ou um homem melhor, ainda que D'Estouteville lhe atire no rosto que ele não é nobre e seja pouco refinado. E o pobre Borgia no meio, pressionado a conseguir o voto dos cardeais espanhóis para os franceses ou... Pois é, dá pena dele, e olha que o sujeito já não era boa coisa com seus vinte e poucos aninhos. Mas a cada nova eleição sem resultado definitivo a tensão vai crescendo, até a seqüência final angustiante.

Eu recomendo o filme por compor bem o quadro histórico, pelos diálogos, pelo clima claustrofóbico, e pelo duelo de grandes atores. Destaque para o final, o confronto entre D'Estouteville e Piccolomini e a vitória do último, pois depois de tanta maquinação e eleições infrutíferas a gente respira aliviada e Rodrigo Borgia, também, pois mudou de lado na hora certa e definiu o Conclave. Nem preciso dizer que o filme não cumpre a Bechdel Rule, mas aqui, explicasse, o clero católico é masculino e o Conclave é um filme que se passa quase que totalmente na reunião dos cardeais. Mas é um filme muito bom e bem simples ao memso tempo. Um bom aperitivo para quem depois pretende mergulhar na série The Borgias. Falando nisso, o diretor de O Conclave, Christoph Schrewe, dirigiu dois episódios da primeira temporada de The Borgias.

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