segunda-feira, 21 de maio de 2012

Comentando O Corvo (The Raven, 2012)



Sábado assisti O Corvo, filme estrelado por John Cusack e que conta os últimos dias de vida de Edgar Allan Poe e seu confronto com um psicopata que estava assassinando pessoas em Baltimore seguindo idéias que estavam nos livros do escritor. No geral, gostei do filme. Há um probleminha aqui e ali, mas é um entretenimento interessante. Eu o colocaria no mesmo grupo de O Lobisomem, um filme que tenta focar nos adultos, como doses de horror e violência. O Corvo pende para o gore em alguns momentos, afinal, essa era a tônica dos contos de Poe.


O filme começa contando que Poe foi encontrado em 1849 morrendo em um banco de praça e que ninguém nunca soube precisar a causa de sua morte. Eu li alguns contos de Poe – os do detetive Dupin, especialmente – e O Corvo, claro. Não sou especialista nem no autor, nem em sua obra, mas tinha conhecimentos suficientes para entender o filme. Eu imaginava Poe mais depressivo e retraído, ainda que destrutivo. A interpretação de John Cusack deu a personagem certo desespero e mau humor, mas, pelo menos no início, me pareceu um pouco próxima demais do Sherlock de Robert Downey Jr. Só no começo, depois, o excelente Cusack se ajustou.



Seu Poe bebe demais, se droga, vive de bicos e lamenta o fato da maioria das pessoas ignorar o seu trabalho, ou o melhor de seu trabalho. É introduzido, também, um interesse amoroso, Emily Hamilton, interpretada por Alice Eve. A moça é rica e seu pai odeia Poe. Em público Miss Hamilton finge desprezar Poe, mas em segredo mantém encontros amorosos bem íntimos com ele... Não me decidi se Alice Eve é bonita, ou não. Na seqüência do baile, ela está linda, mas em várias outras cenas ela me parece pálida demais, quase cadavérica. E não falo de quando o assassino a seqüestra... Ou vocês acham que colocariam uma mocinha no filme se não fosse para que ela caísse nas mãos do psicopata fã de Edgar Allan Poe? E, bem, ele se sente culpado e precisa salvar a mulher que ama, já que não conseguira salvar a própria esposa anos antes...



Falando na personagem de Emily Hamilton, aqui vejo um dos problemas da trama do filme. Não que ela ficasse deslumbrada por Poe, ele tinha, sim, várias admiradoras, mas porque sendo filha de um pai tão violento e controlador, ela andava por aí sozinha à noite para se encontrar com Poe. Daí, faz-se o contraste com a cena do baile na qual o pai exige dela um comportamento social perfeito e, provavelmente, que flertasse com os homens certos. Como uma mocinha que era a jóia do papai podia sair por aí pelas ruas escuras de Baltimore? E o absurdo dela pedir que o quebrado Poe lhe propusesse casamento... E vejam que a personagem não é uma desmiolada, então a história do "casamento" dificilmente pareceria razoável para alguém com um perfil tão sério. Mas precisávamos de uma mocinha, precisávamos de algum romance e, bem, criar personagens femininas coerentes não é um fundamental no qual os americanos se destaquem...

E temos o terceiro elemento importante do filme, o Inspetor Fields, interpretado por Luke Evans. Fields é o típico policial inteligente, observador e meticuloso. É ele que começa a perceber a ligação entre Poe e os dois primeiros assassinatos. Primeiro, ele desconfia do escritor; em seguida, quase o força a ajuda-lo; no final, eles se tornam amigos. A parceria entre John Cusack e Luke Evans é excelente. Ao longo do filme fiquei imaginando que assistiria um filme solo do Inspetor Fields sem problema. Gosto de histórias de detetive e Fields é o tipo de personagem boa o suficiente para conseguir se firmar sozinha. Fora isso, percebi o quanto Luke Evans é bom ator e bonito, também, claro. Lembrava vagamente dele, afinal, Os Três Mosqueteiros é tão ruim que o Aramis de Evans só me ficou na memória por sua cena ridícula multando cavalos... Bom ver o potencial do moço, lembrou a minha descoberta do Michael Fassbender graças ao filme O Centurião.



A trama dos assassinatos e as pistas me pareceram bem boladas, ou, pelo menos, me convenceram. Como eu sou fácil de levar com esse tipo de história, não quer dizer nada... Gostei, também, da ambientação gótica do filme. Tudo muito escuro, mórbido, os corvos sempre presentes. As cenas de perseguição foram muito críveis, ainda que os policiais me parecessem muito limpinhos e elegantes. O desespero de Emily Hamilton, mantida em terrível cativeiro pelo psicopata, as mortes carregadas de sangue, a súplica dos que encaravam seu fim nas mãos do assassino frio, tudo foi muito bem apresentado. Toda a seqüência do confronto na igreja, com a morte sangrenta do jovem policial (*o bonitinho Oliver Jackson-Cohen *) que Fields parecia tratar como assistente com grande futuro pela frente foi bem dramática. E o final, claro, a primeira parte e a última cena foram ótimos. O problema foi o meio...



Por que coloquei isso? Bem, Poe descobre quem é o assassino. Como é clichê nesse tipo de história, é alguém bem próximo dele. Vocês sabem como é... O Poe real morreu sussurrando insistentemente um nome... Não vou dizer qual, mas era o nome do assassino, mas era um sujeito brilhante e assustador. O problema, o maior problema para mim, é como um Poe muito debilitado, morrendo, conseguiu sair do prédio onde estava e ir morrer em um banco de praça. De resto, tudo OK. O desespero de Fields ao descobrir o assassino e chegar tarde demais (*afinal, ele estava ferido com um tiro no peito*) foi bem apresentado. O problema é que a seqüência em si foi confusa. Ação em muitos planos diferentes e um corte que não explica como Poe saiu do prédio... Enfim, se você assistiu ao filme, por favor, diga se concorda ou discorda. Mas a cena final do confronto entre Fields e o psicopata foi dez. Rápida e direta. E eu que já estava esperando a possiblidade de uma continuação... :)



Como sempre comento sobre a Bechdel Rule, devo ressaltar que o filme não consegue cumpri-la. Há duas personagens femininas com nomes – Emily Hamilton e a Sr.ª Bradley (Pam Ferris) – e elas conversam rapidamente, mas tenho quase certeza que é sobre Poe. Além disso, é algo tão corrido que nem conta mesmo. A maioria do elenco é masculina e ação é entre homens, com a donzela em perigo para ser salva. E temos participações especiais, Brendan Coyle – o Mr. Bates de Downton Abbey – faz um taverneiro e Charity Wakefield – a Marianne de Razão & Sensibilidade da BBC – faz uma breve ponta como uma criada. E, sim! Adorei o figurino do filme, um dos destaques sem dúvida. Eu recomendo O Corvo desde que você não tenha estômago fraco. Esse problema no final não estraga o filme, só o faz perder alguns pontos. Além disso, vale a pena assistir as atuações de John Cusack e Luke Evans. E, claro, acredito que muita gente (*as duas velhinhas acho que não.*) vá sair do cinema direto para a livraria e comprar alguma coisa de Poe para ler ou correr para a internet para achar pelo menos O Corvo. :)


4 pessoas comentaram:

Eu concordo com você, Valéria, quanto às incoerências do filme (nessa cena final, Poe está quase se estrebuchando na frente do assassino, mas depois tem tempo e força pra derrubar uma mesa, quebrar toras de madeira, carregar uma mocinha inconsciente nos braços, dentre outras coisas). Aliás, eu poderia citar várias outras, algumas relacionadas com os próprios contos. mas o pior pra mim foi o seguinte:

SPOILERS! PULE ESTA PARTE SE NÃO QUER SABER DE DETALHES!
Se o assassino é o assistente de impressão do jornal, que no começo do filme dá a impressão de que trabalha lá há algum tempo, a informação de que ele chegou do exterior há poucos dias não cruza direito. Aliás, como é que ele tinha tempo para trabalhar na impressão do jornal e trabalhar na coxia do teatro? E outra: como é que ele teria conseguido levar a mocinha para um cativeiro embaixo da redação, um lugar tão movimentado?
FIM DOS SPOILERS

No mais, também achei a atuação do Cusack fraca no começo, mas admito que ele melhora ao longo do filme. Por fim, destaque para o escrivão de polícia bonitinho, rs.

Sabe, Devil Inside, me incomoda menos essas incoerências do que ele se desmaterializar do prédio e se materializar na praça. Quanto ao trabalho no teatro, quem estava trabalhando lá era o marinheiro, não o assassino. E esconder a mocinha no porão da redação não me parece tão complicado, havia as tubulações e, provavelmente, entradas “secretas”. Mas você percebeu que ele tinha reconstruído o escritório do Poe no subsolo?

Eu pensei que o assassino e o marinheiro eram a mesma pessoa...

O filme não se propõe a oferecer "suspensão da realidade", por isso eu não consigo fazer vista grossa e imaginar que ele talvez tenha usado galerias ou usado uma suposta passagem secreta (se ele a tivesse escondido nas galerias subterrâneas ainda vá...); por isso considero apenas mais uma falha do roteiro mesmo.

A reconstrução do escritório do Poe ficou estranha mesmo, ele chegou a ter acesso à casa do Poe durante o filme?

O marinheiro foi o cadáver emparedado exatamente nas grandes tubulações que cruzavam a cidade possibilitando que o assassino se movesse bem rápido e sorrateiramnte. Essa é uma longa sequência dentro do filme.

Quanto a ser mostrador na casa de Poe, é desnecessário, eles se conheciam de antes dos eventos do filme.

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