Ontem terminei de ler o volume #14 de Black Bird. Demorei por vários motivos, na verdade, estava focada em outras coisas (*trabalho, outros livros e mangás, seriados da BBC, etc.*), mas, também, porque foi um volume que não me empolgou. Não foi ruim, dentro das minhas expectativas em relação a uma série que é bem rasteira em alguns momentos, mas poderia e deveria ter sido melhor. É nesse volume que Sho se despede e começa o arco final da história, que está quase se concluindo no Japão. Só que fora esses dois capítulos importantes, o resto são gaiden e dessa vez não tão inspirados quanto em edições passadas.
No volume #13, que acredito estar nas bancas brasileiras neste momento, Sho estava “morrendo” (*se desfazendo, seria melhor, já que ele tinha sido ressuscitado por meio de artes mágicas*), ele se declara para Misao e a moça, comovida e piedosa, tinha cedido seu sangue para ele. Tal traição, porque é uma traição mesmo, levou ao confronto final entre os irmãos. Deste duelo, somente um deles sairia vivo. Sabemos desde o início quem é, claro, mas seria um teste de competência para a autora, Kanoko Sakurakouji, construir um duelo épico. Bem, eu acredito que ela terminou por falhar nesse desafio.
Quando começa o volume, temos Sho – um dos homens mais bonitos da história e um dos mais populares entre as fãs japonesas, também – intacto e coberto de sangue, aos seus pés, um braço decepado. Começa o drama, seria o braço de Kyo? Misao prontamente nega, não é o braço do homem que ama, não é a mão que ela conhece tão bem. Essa cena é boa. De quem seria o braço? Do pai dos rapazes, ele se interpôs para impedir que um matasse o outro. Ora, daí começamos aquela seqüência clichê na qual o herói reconhece os méritos do vilão, que se mostra alguém honrado e injustiçado, daí, as suas ações cruéis.
Olha, pelo que sabemos da história que a própria autora contou, Sho era cruel e insano antes que Kyo se posicionasse contra ele. Suas ações covardes, a forma perversa como ele tratava os inferiores, não foi fruto da ação do protagonista. Sakurakouji forçou a mão para dar a entender que foi a competição de Kyo, a preferência do pai e, claro, a paixão que Sho sentia por Misao que o tornaram quem ele é. Não, foram as escolhas que ele fez. O pai se desculpar por preferir o caçula, até vai, ainda que tal preferência tenha sido fruto da percepção de que o filho mais velho e herdeiro era um desequilibrado. Sinceramente? O pai dos dois tengu teve discernimento, coisa que muita gente não tem.
Para enfraquecer ainda mais esse momento chave – a emoção foi no volume anterior mesmo – Kaede é desperdiçada. Não vou dizer como, mas o fato é que eu esperava que a moça tivesse um final mais interessante. Foi trágico, mas foi pequeno, simples demais. Coisa que já pontuei antes é que Sakurakouji precisa amadurecer. O sucesso de Black Bird pode ajudá-la, ou não, espero que ajude. Sho se vai pela sua própria degeneração do seu corpo, mantido por magia, e, também, pela espada vacilante de Kyo. A ajuda dos dai-tengu e, principalmente, de Misao foi fundamental no desenlace. No entanto, ele não o faz sem admitir antes que valeu se sacrificar por Misao (*volume #6*) e que uma parte do coração da moça sempre seria dele. Sai de cena uma personagem que poderia ter sido realmente memorável, se a autora tivesse sabido dosar sua “maldade” lá no início da série. Inexperiência é o problema de Sakurakouji.
Temos então o retorno de Misao para casa e alguns quadros muito bonitos, bem desenhados, mostrando a dor dos dois protagonistas. A tragédia de Sho vai marcá-los daí para diante, mas é um arco que se fechou, ao que parece. O outro capítulo de seguimento da história é o que dá início ao final da série. Kyo reassume seu papel de Sr. Usui, professor na escola de Misao, há algumas cenas de sexo e muita intimidade entre os dois, a protagonista faz aquele papel clichê de aluna pouco competente (*vide Miaka e Usagi*), e voltamos ao Senka Roku. Lembram que algo terrível irá acontecer com Misao? Pois é, a moça não morreu até agora. Qual é o risco que a senka maiden corre? Kyo levanta quatro hipóteses: 1. O tengu pode ser transformado de alguma forma, perder o controle e matar Misao; 2. Misao pode sofrer alguma forma de transformação e Kyo ser obrigado a mata-la; 3. Ele pode terminar exaurindo a moça e levando-a a morte; e 4. Kyo pode se tornar poderoso demais e matá-la sem querer (*durante o ato sexual, provavelmente*).
A autora não entra na armadilha da abstinência de novo. Os protagonistas se desejam e não vão abrir mão do sexo, mas o fato é que Misao parece começar a sofrer alguma sorte de transformação. Ela fica cada vez mais atraente, sensual e erótica aos olhos dos humanos, e tentadora – por seu cheiro – para os youkai. A coisa é tratada com humor e leveza, como se Misao tivesse amadurecido (*sexualmente*) graças a relação com Kyo, mas parece (*e precisa, claro...*) que vem tempestade por aí. No fim do volume, uma força estranha se manifesta e parece ameaçar Misao. O que será?
De resto, temos alguns gaiden, todos eles menos inspirados que a média da autora. Temos contato com os pais de Misao e a mãe da moça se dá muito bem com a Kyo. Um dos gaiden tem o objetivo de mostrar os tengu em roupas “civis”, por assim dizer e mostrar o quanto eles são bonitos. Há um gaiden, que deveria ser maior e melhor desenvolvido, mostrando como Ayame e Sagami se apaixonaram e casaram. Outro gaiden faz piada com o tamanho do pênis de Kyo e Buzen... Assim, nada realmente memorável. As tirinhas “Tell us, Mr. Usui” até são simpáticas, a própria autora diz que elas servem para tocar em questões que não caberiam na história. A melhor foi aquela na qual as alunas perguntam de o Sr. Usui (Kyo) seria “herbívoro” ou “carnívoro” e ele diz que come o que precisar comer... Parece que ele não entendeu, mas quando ele chama as meninas de “grama sem gosto”, percebemos que não é o caso...
Enfim, não costumo ir atrás de spoilers de Black Bird, acho que só fiz isso uma vez. Agora, estou no aguardo do volume #15 e espero que este arco final seja interessante. Eu realmente acho que Kanoko Sakurakouji pode se tornar uma grande mangá-ka, mas ela precisa ganhar experiência, precisa de orientação. O grande sucesso da série pode acabar passando a mensagem errada para ela. De qualquer forma, espero que Black Bird termine de maneira satisfatória. O fim no Japão está próximo.
1 pessoas comentaram:
Mal espero pelo final da série também.
Acho tão bonito pegar os primeiros mangás e ver como o amor do Kyo e da Misao foi se desenvolvendo...Parece tão real.
Outro mangá que você sente esse desenvolvimento afetivo é o Fruits Basket.
Por isso adoro Shoujos!
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