domingo, 5 de junho de 2016

Propaganda norte americana de X-Men: Apocalipse glorifica a violência contra as Mulheres?


Esta semana explodiu uma polêmica em relação ao filme X-Men: Apocalipse, ou, como eu chamo, “aquele que eu quero, mas não consigo tempo para resenhar de forma decente”, por causa deste outdoor com a foto que vocês vêem acima.  Quem me avisou, e eu não entendi muito bem até ler algumas matérias em inglês (*Ex.: The Mary Sue e Hollywood Reporter*) e esta aqui no Jornal Extra do Rio, foi a Ana Beatriz.  Preciso tentar comentar o caso antes que a coisa esfrie..

Vou começar situando a discussão.  Começamos com o imenso outdoor que a Fox usou – eu nunca prestei atenção nele aqui – para divulgar o filme nos EUA.  Nele, a personagem Mística (Jennifer Lawrence) aparece sendo estrangulada pelo vilão da vez, Apocalipse (Oscar Isaac).  Se eu visse esse cartaz isoladamente, nunca o chamaria de descontextualizado, só ficaria muito curiosa para saber se eles conseguiram (*e conseguiram, eu afirmo*) construir uma personagem tão poderosa de forma convincente a ponto de conseguir subjugar a Mística, que nessa trilogia não é capacho de ninguém.  OK.  Eu conheço X-Men, sei quem é Apocalipse e Mística e acredito, talvez ingenuamente, que boa parte da humanidade, também, e há o título no cartaz, o nome do filme.  Só que, lá nos EUA, a coisa não foi vista assim e cito o Extra:
Na última sexta-feira, a atriz Rose McGowan (de séries como “Charmed” e “Once Upon a Time”), em entrevista ao site “The Hollywood Reporter”, manifestou sua indignação com o cartaz: “Não há contexto na propaganda, apenas uma mulher sendo estrangulada. Sem esta contextualização, a imagem se torna ofensiva e, honestamente, estúpida”. A declaração de Rose desencadeou uma onda de comentários negativos à Fox na web.
Não conhecia a atriz, porque, bem, nunca me interessei por Charmed e não assisto Once Upon a time, que muita gente minha amiga gosta bastante.  Só diria o seguinte: contextualização, para mim, é tudo e sem ela qualquer coisa pode parecer e ser ofensiva.  Daí, sinto o terrível impulso de dizer que a atriz queria aparecer ao levantar esta bola.  Sim, eu não preciso concordar com tudo o que todas as feministas dizem, porque, bem, para quem não sabe, isso é impossível, pois o movimento feminista não é um bloco único.  Ora, eu olho um cartaz com o título do filme e as personagens, não vejo simplesmente um homem estrangulando uma mulher, até porque, no nosso mundo, homens não sào daquele jeito e mulheres não tem pele azul.  Só poderia fazer duas ponderações que me ajudam a entender, um pouquinho, o que McGowan colocou.  Vamos lá!

“Esta violência aos olhos dos meus filhos não é legal”: 
Protesto que me soa mais como falso moralismo e pedido de censura.
Entre as expressões muito usadas pelas feministas existe uma que é “trigger warning” (*aviso de gatilho*), isto é, um alerta que aparece antes de algumas imagens, ou textos, com o objetivo de não fazer uma vítima de violência reviver a situação terrível pela qual passou.  Há sites de notícia que colocam essas observações de alerta, também, ou seja, a idéia de evitar chocar ou trazer de volta recordações terríveis se disseminou como algo aceitável.  A Fox poderia – vejam bem, poderia, não deveria – ter mostrado empatia por mulheres vítimas de violência, imaginando o efeito que esta imagem poderia ter, no entanto, repito, havia um contexto, não é de forma alguma, uma imagem gratuita.  Percebem meu ponto?  Castrar demais é um problema, também.

Agora, eu poderia levantar minha crítica à propaganda também sob um viés feminista.  Apocalipse esculacha todo mundo, inclusive Xavier.  Por que usar a Mística na propaganda?  Por que ela é mulher?  Por que ela é a personagem desta nova trilogia mais amada pelos fãs?  Mostrar outras personagens na mesma situação, gente poderosa, igualmente conhecida, homens especialmente, poderia aumentar a expectativa em torno do vilão, mas só usaram a Mística. Nesse sentido, é lugar comum.  A mulher como vítima, é recurso corrente na propaganda.  No caso do Xavier, seria interessante usá-lo, também, daí, não teria como alguém apontar o dedo - com ou sem razão - PORÉM, e como alguém no Facebook apontou bem, homens heróis não aparecem em situação de degradação nos posteres, só de igual para igual com os vilões ou exaltando sua figura. Não há equivalência, nenhuma mesmo. Agora, havia um contexto e eu não posso perder isso de vista nunca.

O cartaz brasileiro do qual me recordo.
Mas como nos EUA esse tipo de coisa pode render muito e trazer prejuízos à imagem de uma impressa e ao bolso da mesma, a Fox se desculpou: “No nosso entusiasmo para mostrar a vilania do Apocalipse, sequer reconhecemos naquele momento a conotação perturbadora desta imagem durante o processo de impressão. Uma vez que percebemos como essa imagem pode ser insensível, nós rapidamente tomamos as medidas necessárias para remover esses materiais. Pedimos desculpas por nossas ações. Nunca iríamos perdoar a violência contra as mulheres”.  Se o fizeram, acharam que era importante e que outras vozes precisam ser ouvidas.

Voltando ao ponto, eu, particularmente, não vejo motivo para a condenação da Fox.  Considerem-me menos feminista por isso, se quiserem.  E reforço que contexto é tudo.  Se eu visse a propaganda, antes de pensar qualquer coisa referente à glorificação da violência contra as mulheres, me remeteria ao contexto que está claro: um super vilão e uma super (anti)heroína, ela muito poderosa e, ainda assim, impotente.  E sabem como o filme resolve isso?  Reafirmando a idéia de que os X-Men são uma equipe.  Nem maior telepata do mundo, Xavier, nem a nova e muito empoderada Mística, nem ninguém sozinho pode com Apocalipse, mas como grupo, trabalhando juntos, eles e elas – sim, o filme tem personagens femininas importantes para além da Mística – podem.  E isso, gente, torna X-Men: Apocalipse um filme muito legal e que, se não é feminista, dá às mulheres papéis importantes e nada convencionais.

3 pessoas comentaram:

Isso daí me cheira a polêmica criada. Veja bem, quantos de nós sequer saberíamos que alguém se ofendeu por esse outdoor se não fosse a Internet? Meu lado teoria da conspiração está começando a achar que alguém do estúdio amplificou a fala dessa atriz de propósito pra gerar publicidade gratuita.

Apocalipse bate em todo mundo sem distinção de gênero, idade ou condição física. Violência contra mulher? Fora de contexto pode parecer isso, mas acho que foi um baita close errado de quem fez essa crítica.

No mais, me incomoda mais os coleguinhas anti-feministas ou com tendências a isso se aproveitando dessa bola fora por assim dizer, pra botar as garrinhas de fora e falar: "É isso que o feminismo virou hoje em dia? É um troço ridículo mesmo" ou "Essas feministas não tem nada o que fazer não? Uma louça pra lavar?" e por ai vai.

Sobre a polêmica... joguei S.Fighter n vezes... Joguei com Ken e derrotei Chun Li n vezes! Logo, sou machista malvado!

Olha, eu concordo que a parte do contexto é realmente meio forçada porque, como você disse, X-Men é bem popularmente conhecido. Até aí eu estava de boa, mas dentre as críticas me lembrei de uma matéria da faculdade chamada "Discurso Empresarial" onde estudamos a construção de imagens para esse tipo de propaganda e é como você falou na segunda parte, a dinâmica dos atores na imagem coloca a mulher subjugada, fraca, e isso é algo que não vemos nos cartazes com personagens masculinos -estando sempre "pau a pau" com o vilão. Foi sob essa luz que eu comecei a me incomodar, porque mesmo conhecendo o contexto o cartaz me deixa a dúvida "Nossa, será que ela conseguiu vencer?" enquanto os cartazes com personagens masculinos sempre me passam aquela vibe "Nuss, homem aranha/thor/capitão américa vão quebrar o pau com esse aí, a luta vai ser boa".

De toda forma, também não acho que precisava de tanto alarde, mas também não acredito que esteja tão errado. O porre mesmo é o povo que se aproveita dessas críticas para diminuir a luta dos outros. Achei seu texto muito equilibrado no meio de tantas críticas fervorosas, parabéns ;D

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