domingo, 3 de julho de 2016

Comentando Procurando Dory (Finding Dory, 2016)


Ontem assisti Procurando Dory (Finding Dory) no cinema com a Júlia, minha filha de quase 3 anos.  Não vou mentir que iria ver o filme de um jeito ou de outro.  Gosto do que a Pixar faz, adoro Procurando Nemo (Finding Nemo, 2003) e, bem, o espetáculo visual está sempre garantido.  E é bom pontuar que o curta de animação, Piper, que precedeu o filme é a coisa mais bem animada em 3D que eu já vi, além de ser fofo toda a vida e, bem, eu ter considerado que, no geral, foi mais legal do que Dory em si.  Sim, gostei de Procurando Dory, mas foi um gostar morno, sem empolgação e que me fez perguntar para mim mesma “Era realmente necessário um longa-metragem para contar esta história?”.  Minha resposta no final da resenha.

O filme Procurando Dory começa um ano depois dos acontecimentos de Procurando Nemo.  Marlim e seu filho moram na sua velha anêmona. Dory virou vizinha deles e ajuda o Sr. Arraia, professor de Nemo, com as crianças, apesar da oposição de Marlim.  Dory, no entanto, começa a ter flashes de memória nos quais vê seu pai e sua mãe e detalhes de sua infância remota.  Após um acidente, consegue lembrar vagamente de onde nasceu e parte em busca de suas origens, com Nemo apoiando-a e Marlim fazendo de tudo para demovê-la de seu sonho.  Afinal, segundo o pai de Nemo, só se cruza o oceano uma vez, exatamente para não se ter que fazer de novo, e a Califórnia é do outro lado do mundo.

Como não amar a Dory versão bebê?
Procurando Dory fala de coisa importantes, sem dúvida, como coragem para enfrentar obstáculos, amizade, família, compreensão das diferenças, afinal, a protagonista, Dory, tem uma séria limitação que é a perda de memória recente.  Isso gera boas piadas, foi um dos suportes do filme original, mas produz, também, angústia e incompreensão.  O humor inabalável da protagonista, sua capacidade de se lançar aos desafios e usar o seu bordão – que ficamos sabendo que aprendeu com seus pais – “continue a nadar” é uma mensagem de otimismo e perseverança. 

Falando da questão da família, de certa forma Procurando Dory aponta para novos arranjos familiares.  E não estou falando do surto dos conservadores que identificaram na cena rápida de duas mulheres juntas sem um bebê, eu reforço, uma óbvia representação de um casal lésbico.  Aliás, nesse mundo onde vivo, duas mulheres jovens juntas – com ou sem um bebê – podem ser várias coisas, amigas que estão se divertindo em algum lugar, parentes (*duas irmãs, duas primas, tia e sobrinha*) passeando, e, também, um casal.  Custa deixar de ver sexo em tudo?!  Falta do que fazer...

O suposto casal de lésbicas que aparece em segundos do filme.
Quando pontuei novos arranjos familiares, me referia à relação de Dory com Marlim e Nemo.  Há amor, afeto, companheirismo.  Dory é a figura feminina de maior referência para Nemo, tal como uma mãe, uma irmã, ou uma tia.  No entanto, e isso o filme erode muito bem na sua narrativa, no início da película, nem Marlim, nem a própria Dory conseguem se ver como um núcleo familiar.  Independente de encontrar, ou não, os seus pais, a mensagem que me fica do filme é que Dory compreendeu que ela já tinha uma família e que ela era perfeita do seu jeito.

É importante ressaltar que Procurando Dory é um filme que cumpre a Bechdel Rule.  Há várias personagens femininas com falas e nomes, começando, aliás, pela protagonista.  É importante ver a Pixar colocando personagens femininas como protagonistas, aliás, no entanto, meu elogio para aí.  De personagens femininas com nome e falas relevantes temos Dory, que fala horrores, é verdade, Destiny, a tubarão-baleia amiga de infância da protagonista (*vejam aí mais um elogio à compreensão das diferenças*) e Jenny, a mãe da protagonista.  Becky não tem falas e há algumas personagens femininas com aparição relâmpago.  Agora, peguem a lista de personagens com nomes e deixem o queixo cair, porque, bem, eles são em sua maioria absoluta masculinos.

Destiny e Bailey.
Temos Marlim e Nemo, claro, como personagens com um bom espaço em tela.  O destaque do filme, desde os trailers é Hank, o octopus que, e isso é uma crítica ao filme, não teve sua fobia de retorno ao mar devidamente explicada.  Será que eu me distraí nesta hora?  Hank deve ter tanto ou mais tempo em tela do que Marlim e Nemo.  Em seguida, temos Bailey, a beluga, outro macho.  Fora o pai de Dory, obviamente, ainda temos os três leões-marinhos, as tartarugas e o Sr. Arraia.  E há ainda outros personagens menores.  

Resumindo, trata-se de um filme moderno, com uma protagonista feminina, mas a maioria das personagens e vozes que você ouve são masculinas.  Como ficaria isso em um gráfico relacionando as falas masculinas e femininas?  Será que só a tagarela Dory seria capaz de desequilibrar as coisas?  Duvido.

Hank e Dory garantem cenas hilárias.
Outra crítica ao filme é a repetição de cenas já vistas, como as tartarugas hippies na corrente oceânica.  Muda a corrente, afinal, agora estão indo para a Califórnia, mas é essencialmente a mesma coisa, as mesmas piadas com enjoos e vômitos.  Além disso, há Marlim e suas resistências, basicamente, cenas já vistas.  O roteiro patina em alguns momentos, parecendo mais uma sucessão de cenas e sequências legais, verdade, bonitinhas, ou de grande apuro visual, engraçadas, alucinadas, tudo muito bem animado, mas com um roteiro consistente somente para um curta metragem ou mesmo um especial. 

Sim, esta é a minha resposta para a pergunta do primeiro parágrafo.  Procurando Nemo é melhor, porque o que estava ali era realmente novo e o roteiro muito mais robusto.  Comparativamente, Zootopia, que eu nunca resenhei, foi superior em praticamente tudo.  Mais ambos padecem daquele mesmo problema, colocar uma protagonista feminina é um avanço, dado o machismo que impera nas grandes produções, mas a maioria das personagens com destaque e voz na história são homens, ou seja, ainda há muito que fazer.  

Dory arrumou um emprego como auxiliar do Sr. Arraia.
De resto, o filme deve fazer muito dinheiro e sucesso, afinal, o público tradicional da Pixar, os saudosos de Procurando Nemo e a audiência infantil vão compensar os investimentos da Disney nessa nova aventura marinha.  Quando sair o Blu-ray, comprarei e assistirei em inglês.  Agora, é aguardar a continuação de Os Incríveis.


2 pessoas comentaram:

Ainda tenho que ver Dory, mas um dos pontos que eu vi o pessoal elogiando foi a maneira que os pais da Dory lidavam com o seu problema de memória, sempre com amor, paciência, a apoiando. Isso já é um ponto muito bom, pra mim. Compare com Frozen, onde os pais da Elsa, ao invés de aceitar o "problema" de sua filha, a isolam do mundo até que ela aprenda a reprimí-los e ser "normal".

Enfim, gostaria de ver uma crítica para Zootopia, também. Acho que junto com o Detona Ralph, é o meu filme recente da Disney preferido, até o momento (estou pondo fé em Moana!). Achei um ótimo buddy cop film, e um jeito inteligente (para crianças, especialmente) de mostrar através dos animais como o racismo e o preconceito moderno é, com as microagressões do dia-a-dia, o bom e velho "não sou racista/machista/homofóbico/whatever, MAS...", e até o fato de que mesmo as pessoas boas, e pessoas que também são parte de um grupo discriminado, como a protagonista, têm preconceitos contra outros grupos enraizados no seu modo de pensar, e que isso precisa mudar.

Olá, junho. Zootopia é também meus filmes favoritos. Eu gostava de todo o filme apenas com Gazelle senti que não era muito bom caráter, por exemplo Nick Wilde muito bem feito, I Eu acho que para ter uma referência no mundo real quebra a dimensão utópica. Eu vi que a HBO vai passar Eu não sei se o lugar é dobrado ou tem a função SAP para colocar a língua original. Como eu passar vezes no caso de você querer ver. No geral, é dos melhores filmes de 2016, eu acredito que, depois de vários meses de bons comentários do filme é recomendado única

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