sábado, 18 de fevereiro de 2017

Orgulho, preconceito e… comunismo



O 67º Festival de Berlim termina amanhã e eu nem estava acompanhando o andamento da  premiação até me deparar com o artigo de Jorge Mourinha no jornal português O Público.  Ele trata do novo filme do diretor haitiano Raoul Peck, um sujeito polivalente que está concorrendo este ano ao Oscar de melhor documentário com I Am Not Your Negro, que está em cartaz no Brasil.

Segundo Mourinha, o diretor conta a história da amizade entre Marx (August Diehl), Engels (Stefan Konarske) e a esposa do primeiro, Jenny von Westphal (Vicky Krieps), como se fosse um requintado drama de época, daí o título se remetendo ao clássico de Jane Austen e a descrição a seguir “Era uma vez um jovem intelectual sem dinheiro que casou com uma linda esposa aristocrata, que deixou para trás a família desaprovadora para ir viver uma grande aventura de amor e provações com o homem que escolheu; e o jovem intelectual sem dinheiro trava-se de amizade com um jovem intelectual endinheirado que partilha dos seus ideais e das suas convicções e juntos decidem mudar o mundo”.


Eu poderia deixar este filme passar batido, são tantos os que eu nem percebo que existem, mas depois desta apresentação tentadora, como não ir atrás de Le jeune Karl Marx (O Jovem Karl Marx, duvido que este seja o título internacional, ou mesmo por aqui) quando o torrent estiver disponível?  Uma amiga fujoshi olhou a foto dos dois moços e já disse que está shippando.  De repente, até eu. :)  Segundo o autor do artigo, o filme fala menos de política e muito mais das pessoas envolvidas em fazê-la.

Já o diretor do filme explica a sua obra da seguinte maneira: “Durante dois anos trabalhei em Le jeune Karl Marx a pensar que iria fazer um documentário, ou um documentário encenado, mas acabei por desistir. Era uma história que precisava de ser contada numa forma de narrativa ficionada, para eliminar todo o ruído que se pudesse criar à sua volta e devolver a história ao fundamental: a amizade entre estes dois homens, o fato de que Marx era um pensador de gênio e que isso era reconhecido por Engels e por Jenny. E o fato de eles terem realmente mudado o mundo mas de não conseguirmos olhar para eles fora dos lugares-comuns viciados.”.  Será que deu certo?


Pelas outras falas do diretor no artigo, ele tem o objetivo de fazer um cinema engajado, mas subvertendo os seus modelos, afinal, quem espera ver um filme desse tipo sobre Marx e Engels?  Ao que parece, ele acredita e defende que as idéias originais de Marx e Engles foram distorcidas e que seu filme se presta, também, a lançar luz sobre a questão.  

Já para o Deutsche Welle ele afirmou que "A velha barba encobre não somente o rosto de Marx. No ano de 2017, ela também obscurece a possibilidade de uma discussão e uma reflexão cuidadosa", diz Peck, para quem, diante da arrebatadora barba de Karl Marx, esqueceu-se do cerne de sua mensagem. "Isso impede de descobrir a real contribuição deste pensador científico e político, seu extraordinário poder de análise, seus esforços humanísticos, suas preocupações legítimas."  Enfim, é interessante revisitar a amizade desses dois homens que de várias formas ajudaram a forjar o que foi o mundo no século XX.


De resto, parece que o filme foi muito bem patrocinado e conseguiu reproduzir a atmosfera do século XIX, as fabricas de Manchester, as ruas de Paris, enfim, tudo o que era necessário.  Resta, agora, esperar o filme.  No entanto, é interessante que Engels e Marx possam ser vistos em um filme como o que eram antes do Manifesto Comunista (1848): jovens que sonham.  Não preciso concordar com as idéias dos pais do comunismo, mas tenho profundo respeito pelo direito e até dever dos jovens de sonhar.  Isso faz falta, especialmente, em tempos tão mercenários como os nossos.


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