quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Comentando Kingsman: O Círculo Dourado (Kingsman: The Golden Circle, 2017)


Segunda-feira assisti Kingsman: O Círculo Dourado e sai feliz do cinema e com muita vontade de tentar rever o filme.  Sei que será difícil, mas é certeza que não deixarei de comprar o Blu-ray quando ele for lançado.  O filme é uma bobagem, assim como o primeiro (*resenha aqui*), só que muito bem executado, com atores de primeira linha se entregando aos seus papéis sem medo do ridículo e um roteiro mais complexo do que eu esperava.  Temos uma vilã do tipo mais clássico, mas ela não está sozinha, e confesso que só em mangá eu esperava tamanho escracho em relação a um presidente dos Estados Unidos.  Dito isso, discordo de todas as críticas que disseram que o filme era desnecessário, que Colin Firth não tinha função na história.  Não sei qual dos dois filmes é o melhor, nem pretendo ficar tentando descobrir, o que eu quero é mais filmes divertidos como Kingsman.

O Círculo Dourado se passa mais ou menos um ano depois do primeiro filme.  Eggsy (Taron Egerton), agora agente Galahad, já que assumiu o lugar de Harry Hart (Colin Firth), não é mais um iniciante e está envolvido em um relacionamento com a princesa Tilde da Suécia (Hanna Alström) resgatada pela Kingsman no primeiro filme.  Eggsy é atacado logo no início do filme por Charlie (Edward Holcroft), um dos candidatos à vaga na Kingsman e que terminou rejeitado.  Só que o rapaz trabalha para uma misteriosa organização e consegue hackear o sistema da Kingsman.  Agora, sua chefe, Poppy (Julianne Moore), sabe exatamente quem são os agentes da organização e sua localização.

Charlie e seu super braço, vingança pessoal
contra Eggsy (*assista ao primeiro filme*)
Um ataque fulminante destrói todos os agentes da Kingsman, incluindo o novo líder, Arthur (Michael Gambon), e a melhor amiga de Eggsy, "Roxy" Morton / Lancelot  (Sophie Cookson).  Sobrevivem Eggsy e Merlin (Mark Strong).  A mente científica da Kingsman decide então acionar um protocolo de emergência que nunca foi usado, o que acaba levando os dois para os Estados Unidos, onde terminam encontrando e recebendo o apoio dos “primos” norte-americanos da Statesman.  É unindo esforços com os americanos que os heróis acabam descobrindo que o Círculo Dourado é uma poderosa organização ligada ao tráfico internacional de drogas e que sua líder pretende redefinir a política mundial em relação ao tráfico de drogas se utilizando de uma arma que pode matar milhões de pessoas ao redor do mundo.  De quebra, Eggsy e Merlin terminam por descobrir que os Statesman salvaram Harry, mas que o agente veterano ficou com sua memória prejudicada.  Será que o Galahad original conseguirá voltar a integrar a Kingsman e ajudará a salvar o mundo mais uma vez?

Olha, eu tinha medo que Kingsman: O Círculo Dourado fosse inferior.  Ruim, não seria, não com um elenco capaz de brilhar mesmo que em cenas fragmentadas, mas se o roteiro fosse fraco, as coisas poderiam desandar.  Mas eis que Jane Goldman e Matthew Vaughn, que também dirige o filme, conseguiram montar uma história ao mesmo tempo intrincada e tão boba e divertida como a primeira.  Temos toda aquela gozação com os clássicos da espionagem ao estilo James Bond, os exageros, a hiper-violência.  Julianne Moore é a vilã mais fofa e cruel que já apareceu em tela.  Absolutamente sádica e, ao mesmo tempo, o seu mega plano é bem coerente.

O que restou dos Kingsman.
É até curioso que o plano de Poppy não seja dominar o mundo.  Com o humor que é a marca do filme, o que se faz é discutir a política antidrogas e, de certa maneira, expor a hipocrisia que a cerca.  Há drogas muito mais letais do que a maconha, a cocaína e outras, mas que são lícitas.  A vilã usa um exemplo exagerado que a turma da boa forma adora citar: o açúcar.  Obviamente, é um exagero, mas o que Poppy deseja?  Ela quer que seja interrompida a guerra às drogas no mundo e, para tanto, sua organização cria um vírus sintético e contamina os vários tipos de drogas.  Dessa forma muita gente adoece, inclusive gente comum, “de bem”, que ninguém imagina que possa ser um viciado, ou mesmo usuário eventual.  O próprio Eggsy, com amplo passado de ex-delinqüente, brinca que ele não tem tanta experiência com drogas assim como as pessoas imaginam.

Enfim, muita gente adoece e pode morrer a qualquer momento.  A própria Poppy, como a maioria dos chefões do tráfico de verdade, não consome drogas e não quer que seus comandados e seu refém, Elton John (*o próprio*), consumam, também.  E é nessa barganha com os grandes líderes mundiais, que o outro vilão se projeta.  Um tão terrível e insano quando Poppy, o presidente dos Estados Unidos.  O presidente americano (Bruce Greenwood), que parece ser uma sátira com o próprio Trump, embora eu ache que não daria tempo, decide enrolar a vilã e encarcerar todos os viciados.  Ao invés de ceder, ele pretende se livrar da "escória da humanidade", deixando que todos morram.  Quem cometeu um crime, precisa pagar o preço.  Ele é tão sádico quanto Poppy e tão ou mais poderoso que ela.  Agora, quem imaginaria dois vilões?  Ele parece saído de um mangá, porque só em mangá, ou anime (*sugiro Read or Die*), vi tanto escracho.  E há outra personagem que assume uma posição de vilão, mas revelá-lo seria spoiler.

Whiskey, o Statesman de maior destaque no filme.
A trama vilanesca é esta e cabe aos heróis vencer Poppy, já que eles não tem muita noção do que o presidente dos EUA está fazendo.  Somos então apresentados aos Statesman, que tem nomes de bebida: o impulsivo Tequila (Channing Tatum); a mente científica do grupo, Ginger Ale (Halle Berry); o experiente agente Whiskey (Pedro Pascal); e seu líder, Champagne (Jeff Bridges), ou Champ, como ele gosta de ser chamados.  Salvo pela personagem de Halle Berry, eles são a caricatura do caipira sulista, da mesma forma que os Kingsman são uma brincadeira com os “gentlemen” britânicos.  Se o ramo “fantasia” dos Kingsman é alfaiataria chique, o dos Statesman é fabricação de bebidas.  Enfim, a vontade era ver um pouco mais deles, só que o filme já ficou muito grande com mais de 2h20.

Os Statesman se colocam à disposição com todos os seus recursos e eles são mais ricos do que a Kingsman era, afinal, a colônia superou a metrópole faz tempo.  Precisam localizar Poppy e conseguir pelo menos uma amostra do antídoto.  Nesse intuito, Eggsy termina testado.  Ele ama a princesa Tilde, que foi uma grande surpresa, porque ela foi uma das coisas que eu não gostei no primeiro filme, mas um agente não pode se negar a fazer certas coisas.  Por isso que um Kingsman, ou um Statesman, não pode ter esposa, marido, família.  E, bem, Eggsy não é James Bond.  

Channing Tatum teve mais destaque em
 posteres e propagandas do que Pedro Pascal.
Uma das coisas bem trabalhadas do filme é o quanto o protagonista, mesmo um agente competente, é sensível.  Ele realmente desenvolveu um afeto filial por Harry, ele ama Tilde, ele sofre pelos amigos mortos e por seu cachorro, que também foi vitimado.  Ele precisa ser chamado à responsabilidade por Merlin e Harry.  Um agente deve colocar seu coração de lado.  Seria muito chato, pelo menos para mim, se Eggsy fosse aqueles heróis metidos à “fodões” (*perdão pelo palavrão*), insensível, pegador, violento.  E é engraçadíssima toda a seqüência em que Merlin diz que eles precisam agir e derramar lágrimas pelos companheiros, somente depois, em segredo, sem que ninguém veja.  Só que terminam os dois agentes afogados em lágrimas e embriagados com uma garrafa de Statesman... 

Falando em Merlin, ou melhor de Mark Strong, sua participação nesse filme é maior do que no primeiro e ele brilhou.  Como precisa sair a campo, o ator pode mostrar-se mais versátil do que quando ficou o tempo inteiro recluso como a mente dos Kingsman.  E Mark Strong é muito bom ator e é dele uma das melhores cenas do filme, já dando largada para a seqüência final.  E ele ainda cantou!!!   Houve gente reclamando que não há uma seqüência como a da igreja do primeiro filme, mas temos vários conjuntos de cenas muito bons.  O confronto no bar, quando os talentos com o laço do agente Whiskey são apresentados é muito legal.  O motivo do início da confusão me pareceu um tanto tolo, se bem que bêbado é capaz de tudo, mas o desenrolar da coisa compensou o seu ponto de partida um tanto capenga.  E a seqüência final teve Mark Strong, Colin Firth e Elton John.

O único cartaz com Elton John
e ele merece o destaque.
O que a gente pensa quando vê o nome de Elton John no elenco?  Figuração de luxo  Gente, ele tem várias cenas e papel na história.  Capturado por Poppy no meio da confusão armada pelo vilão do filme anterior, Valentine, o pobre Elton está nas garras da vilã desde então.  Obcecada pelos anos 1950, ela o obriga a tocar e cantar suas músicas e as de outros, além de submetê-lo a um regime de abstinência sexual e de drogas (*Sim, é sério!*).  Só que na seqüência final Elton John não deixa pedra sobre pedra e os heróis não teriam vencido sem ele.  Poderosíssimo e em salto plataforma.  Em um letreiro de cinema na vila da fantasia de Poppy está escrito "The Bitch is back!".  Seria para Elton John ou para Colin Firth?  De qualquer forma, Sir Elton e Mark Strong já valeriam o ingresso.

E tem o retorno do Colin Firth.  Quando soube que Harry Hart estava vivo, achei que seria péssimo para o filme, mas não foi.  O elo entre Eggsy e seu mentor é renovado.  Vemos, também, a tecnologia médica dos Statesman em ação, afinal, eles salvaram Harry da morte certa, além do drama para que ele conseguisse recobrar suas memórias e suas habilidades.  Ainda assim, ele nunca mais seria o mesmo, seja por conta das seqüelas, que não se resumem ao tapa-olho, típico ferimento do herói, por assim dizer, mas por rever alguns de seus princípios, especialmente, em relação à laços familiares e relações amorosas.  E, só para não perder a deixa, Colin Firth, assim como Mark Strong, está lindo, elegante e charmoso, além disso, ainda fala italiano em uma cena.  Para quem não sabe, ele é casado com uma italiana e, depois do Brexit, pediu nacionalidade do país.

Os heróis em Kiungsman são os meninos, não adianta.
Já terminando, o filme não cumpre a Bechdel Rule, nem de perto, nem de longe.  Há seis personagens femininas com nome, só que nenhuma conversa com a outra.  A vilã, que só interage com homens, a assessora do presidente dos Estados Unidos, chamada pelo sobrenome, Fox (Emily Watson), que também só interage com homens.  Lancelot é morta no início do filme.  Tilde é a namorada, ainda que muito simpática, assim como Clara (Poppy Delevingne), a moça de magreza anoréxica que Eggsy precisa seduzir, é somente a namorada de Charlie, o violãozinho que sobrou do filme anterios.  E Ginger Ale é a agente solitária, que fica no laboratório.  Quando os Statesman estão em uma reunião virtual, acho que vi uma mulher entre eles, mas é aquilo, representação mais que minoritária.  No caso dos Kingsman, era somente Lancelot mesmo.  Infelizmente, as mulheres são sub-representadas na série.

Concluindo, Kingsman: O Círculo Dourado é um delicioso filme pipoca.  Eu estou aqui tentando descobrir se Homem-Aranha foi melhor, ou Kingsman é superior.  Difícil.  A vantagem desse Kingsman 2 é não ser um filme de origem, mas Homem-Aranha teve aquela leveza e frescor dos filmes adolescentes dos anos 1980.  De qualquer forma, Kingsman tem um elenco mais robusto.  Engraçado que o último encontro que me recordo entre Colin Firth e Julianne Moore tenha sido no denso A Single Man, ver dois atores dessa estatura se entregando a um filme tão despretensioso sempre é divertido.  Ver que a coisa deu certo é melhor ainda.   E tem Elton John e Mark Strong, que já valem o ingresso.  Estou feliz.  Não precisava ter sido 3D, ele não serve para nada, poderiam ter encurtado a cena de perseguição no início, mas estou satisfeitíssima.


2 pessoas comentaram:

Que resenha de respeito, Valéria! Gosto demais de suas resenhas e análises de filmes, novelas, mangás etc, mas essa do Kingsman 2 foi mais do que excelente!!! Eu que já não vou ao cinema há tempos (acabo sempre esperando o filme "sair" na internet - torrent ou Netflix), fiquei com muita vontade de assistir na telona. Sei que a sua vida é bem atribulada, por isso sou grata pelo tempo que dedica a esse blog, assino pelo feed e não deixo de ler um texto seu!

Eu gostei muito do filme, e concordo com todos os seus comentários, o 3D foi lamentável e atrapalhou mais que ajudou o filme.
Me surpreende muito quando vi o Elton (não tinha visto que ele estaria no filme) e fiquei chocada com a participação tão ativa dele.
Com certeza muito divertido.

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