sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Artigo fala da influência de Lady Oscar na Itália


Ano passado, os italianos estão comemorando os 35 anos da primeira exibição de Lady Oscar, nome que a Rosa de Versalhes recebeu para sua divulgação na Europa.  A série estreou no canal Italia 1 em primeiro de março de 1982 e voltou a ser exibida de forma festiva em maio passado.  Necessário repetir – para quem não me leu escrevendo isso antes – que o que fez a fama da Rosa de Versalhes no Ocidente, especialmente, na Itália, foi a animação, que tem momentos memoráveis e comparado ao que se tinha na época, entendo todo o impacto da série sobre os italianos, franceses, e todos que puderam assisti-la na época certa.  O mangá saiu do Japão depois e é bem diferente – e superior em termos de discussão sobre papéis femininos – da série de TV. A própria autora do texto ressalta que o mangá tem um recorte mais maduro que o anime. [1]

Enfim, os italianos caíram de amores pela personagem, assim como haviam se apaixonado por Candy Candy.  Já vi corredor em maratona com cosplay da personagem, sujeito (*homem de novo, sim*) em show de calouros vestido como Oscar e cantado a segunda abertura da série no país (*cantada originalmente de Cristina D’Avena), fora a elegante propaganda de perfume que comentei recentemente.


O texto para a Fox Life, escrito por Maria Daniela Tritto, faz um mapeamento da influência de Oscar e, também, de Antonieta – mas aí não colocaria na conta da série de Riyoko Ikeda – na moda, na música, o cinema, na propaganda, como a do perfume Dange-Rose da Blumarine.  A autora aponta que Oscar era, ao contrário das princesas da Disney, mesmo a do chamado Renascimento (*Pequena Sereia, Bela, Pocahontas, Mulan etc.*), uma heroína moderna e trágica.  

A autora do texto dá destaque à coleção da Givenchy feita por Riccardo Tisci, que para ela é inspirada no estilo militar da personagem de Ikeda.  Não entendi se a influência foi assumida, mas uma outra estilista, Elisabetta Franchi, dedicou em 2016 toda uma coleção de moda à Oscar François de Jarjayes.  O texto segue citando outras casas de moda, ou estilistas que – possivelmente – buscaram em Lady Oscar alguma inspiração para suas criações.  



Terminando, não vou comentar a segunda parte da matéria, porque, como pontuei, Maria Antonieta é um ícone fashion independente do mangá de Ikeda.  A própria japonesa usou a biografia da rainha feita por Stefan Zweig como ponto de partida para a construção da sua Maria Antonieta.  Agora, Oscar é obra de Ikeda e a influência da Rosa de Versalhes na Itália, o apaixonamento dos italianos e italianas pela personagem, nunca para de me surpreender.

[1] Coloquei em nota para não quebrar o fluxo do texto, mas se A Rosa de Versalhes é uma série feminista, o anime não é, muito pelo contrário. É espetacular, é magnífico, me aproximou do homem com quem me casei, tem momentos em que supera o mangá, mas é machista pra caramba, em detalhes e no todo.  As japonesas perceberam isso de cara e o anime foi um fiasco na época da sua exibição inicial no Japão.  Até mudaram o diretor no meio da exibição e produziram uma quebra de roteiro tão grosseira que eu nunca vi nem na pior novela brasileira. Oscar é acusada de fazer a rainha abortar.  É o fim do capítulo 18, 19 ou 20, não tenho como checar.  Diretor é trocado, assume Osamu Dezaki, e esse detalhe, que não está no mangá original, é esquecido.  Tentem só imaginar se uma acusação como esta seria esquecida... A primeira parte da série tem tons aventurescos e até infantis em certos aspectos, a segunda parte fica sombria, mas o que perpassa todos os capítulos é a idéia de que Oscar estava no lugar errado, que, como mulher, ela não poderia, nem deveria, estar em um lugar masculino.  É soldado por imposição do pai; aproxima-se dos ideis revolucionários por causa de André; ouve do médico que está tuberculosa, porque adotara um estilo de vida impróprio (*só mulheres transgressoras deveriam morrer de tuberculose no século XIX...*), enfim, Oscar no anime é série e parece carregar o peso do mundo nas costas. Riyoko Ikeda não escreveu isso aí, não.  Sua Oscar é questionadora, ela ri, ela vai encher a cara nas tavernas, ela desafia o pai, ela convida André para ir ao seu quarto.  Oscar no mangá é outra e melhor.

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