segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Comentando o primeiro episódio de Little Women (BBC, 2017)


Assisti ao primeiro episódio da nova adaptação de Little Women (*Adoráveis Mulheres, As Filhas do Dr. March, Mulherzinhas, ou como quiserem chamar por aqui*) e acredito que mereça ser a primeira resenha do ano.  Trata-se da adaptação para comemorar os 150 anos do livro de Louisa May Alcott.  Verdade que passou na Inglaterra em 2017, mas nos EUA só será exibida em maio deste ano.  O primeiro livro foi publicado em 1868.  Resumindo, foi um bonito primeiro capítulo, o elenco funcionou muito bem e, no geral, respeitaram o livro.  Sim, eu li e mais de uma vez.  É um dos meus livros favorito, daqueles que eu sabia trechos de cor.  E assisti quatro adaptações, três deles para o cinema (*1933, 1949 e 1994*) e uma para a TV (*que eu preferia não ter visto.)*.  

Para quem não conhece a história, o livro de Luisa May Alcott conta a história de quatro irmãs, Meg (Willa Fitzgerald), Jo (Maya Thurman-Hawke), Beth (Annes Elwy) e Amy (Kathryn Newton), começando na adolescência, durante a Guerra de Secessão (1861-1865), e se estendendo até a idade adulta. A ausência do pai (Dylan Baker), um pastor que foi para a frente de batalha como capelão, as privações e até humilhações de uma vida de relativa pobreza (*elas um dia foram ricas*), o suporte da mãe amorosa (Emily Watson), o desejo de nunca se separarem, as dores e doçuras da idade adulta.  

Fazer Jo é sempre um grande desafio.
Comentando a versão atual, ela tem um tom intimista, reforçando o laço entre as irmãs, o amor que as une.  Vi um pouco da estética excessivamente limpa e branca da última versão do Estranho que Nós Amamos, mas com conteúdo.  Enfim, o que eu quero dizer?  Todas as atrizes, exceto Amy que, curiosamente, é a única loura no livro, são muito brancas.  Aliás, é a primeira Jo que vejo com cabelos claros.  Há muita roupa branca, anáguas, espartilhos, enfim.  Nos outros filmes prevaleciam os tons mais escuros, até porque, roupa branca dá trabalho em nossos dias e dava mais trabalho ainda antes dos recursos modernos de lavagem.  Fora isso, as March não são ricas, elas fazem boa parte do seu trabalho doméstico.

Falando do intimismo, além da sequência de abertura, com as irmãs em roupa de baixo e cortando mechas de cabelo para mandar para o pai, há cenas que me transportam para as adaptações par cinema e TV de Jane Austen. As confidências das irmãs Dashwood ou de Jane e Lizzie.  Houve uma cena de Jo e Meg conversando deitadas na cama.  Jo se desculpando com a acamada Amy e segurando-lhe a mão.  Foram cenas muito bonitas, delicadas e, bem, se não estavam no livro desta maneira, poderiam estar.  Mas senti falta das peças da Jo.  Não colocaram nenhuma... E, bem, elas não vão aparecer nos próximos capítulos.

Emily Watson talvez seja a melhor Marmee que eu já vi.
Acredito que de todo o elenco, gostei mais de Emily Watson, ela deu um tom perfeito para a sua Marmee, talvez seja a  melhor interpretação da personagem que eu já vi.  Ternura, firmeza e toda aquela ênfase em passar valores para as meninas em uma fase (*a adolescência*) e situação tão atribulada. Angela Lansbury estava magnífica como a terrível e rabugenta Tia March.  Sua interação com a jovem Jo produziu uma sequência muito boa, mas melhor ainda foi seu diálogo com a mãe das meninas, já no desfecho do episódio, quando a família precisa correr para que Marmee possa ir para Washington cuidar do marido enfermo.  A velha pergunta o que o sobrinho tem e Marmee avisa que não disseram no telegrama.  “Precisavam de uma mulher lá.  Ela saberia colocar os detalhes importantes.”.  No livro, a velha senhora não vai em pessoa e manda uma nota muito desagradável para a esposa do sobrinho.

Quem é muito simpático no seu papel é Jonah Hauer-King, que faz Laurie, o vizinho.  Pelo que observei nos capítulos 2 e 3, ele terá mais espaço do que deveria, especialmente no último capítulo, e em detrimento do Prof. Bhaer, o que me deixou bem chateada.  Laurie, ou Theodore Laurence, é o neto do vizinho rico das Mach (Michael Gambon), um senhor aparentemente rabugento e que, no início, parece muito duro com o neto, filho órfão de sua filha única e adorada. O menino tem um tutor, John Brooke (Julian Morris), que deve prepará-lo para ser admitido em Harvard.  O jovem professor termina se apaixonando pela mais velha das March, Meg, e o início do romance já aparece no primeiro episódio.

Houve críticas à escalação de Kathryn Newton.
O que dizer das meninas?  Maya Thurman-Hawke conseguiu dar um tom interessante para sua Jo, mas tendo visto tantas atrizes espetaculares no papel, eu esperava mais.  Só que não é culpa da menina, ela só tem 19 anos!  E não consegui descobrir com quem ela se parece mais, se com o pai Ethan Hawke, ou a mãe, Uma Thurman. Curiosamente, e posso estar enganada, mas não tenho conexão para checar, é a primeira adolescente a interpretar a personagem.  Até a atriz que faz Amy é mais velha que Maya Thurman-Hawke.  Falando em Amy, decidiram manter Kathryn Newton durante toda a série.  Como Amy tem somente 12 anos no começo da história, seria sensato fazer como no filme de 1994.  Seria, mas não foi.  Como Jo e Amy são as irmãs com personalidade mais forte e explosiva, ainda que opostas em seus sonhos e comportamento, as duas interagiram bastante e brilharam.  Kathryn Newton deu um tom mais que adequado para a pequena esnobe.

A atriz que faz Meg está somente OK.  Ela precisava ser mais bonita, ou parecer mais bonita, já que era a mais bela das irmãs e a velha Tia March esperasse que ela fizesse um bom casamento exatamente por causa disso.  Há pouco da Meg que lamenta não ser mais rica, ela era grande o suficiente para lembrar como era a vida da família antes da penúria econômica. No caso de Beth, a atriz parece mais velha do que deveria ser.  Comentei isso quando da escalação e confirmei assistindo o resultado.  Beth tinha uma saúde precária, deveria parecer mais frágil.  Mas é aquilo, há muito mais de Jo e Amy, assim como de Meg, no primeiro episódio.  A marca de Beth é sua timidez e dificuldade de interagir com estranhos. 

Annes Elwy taambém precisava ser
mais jovem para interpretar Beth.
Mudanças que não gostei.  Poucas, mas muito importantes.  Quando as irmãs vão ao baile, logo no início do episódio, Jo está com uma mancha de queimadura no vestido e Meg, muito ciosa dos modos e da imagem pública da família, proíbe Jo de dançar e a moça termina ficando meio escondida em uma sala da mansão onde ocorre a festa.  É lá que ela conhece Laurie e os dois se divertem muito juntos, ignorando absolutamente o baile em questão.  Na nova adaptação, que rompe com todas as outras neste aspecto, Jo é que não quer dançar e não há problema algum com seu vestido.

Outra questão mudada é a relação de Beth com o avô de Laurie. Ele a convida para tocar piano em sua casa, quando o neto comenta com ele que o piano das March está em péssimo estado.  A menina aceita, desde que ninguém a observe.  No seriado, o piano não tem problema algum e Beth tem que lutar contra a timidez, porque não tem coragem de ir até a casa dos Laurence. Desenvolve-se então todo um drama inexistente até que a menina vai até a casa do velho que se senta para ouvi-la. Foi uma mudança grande para algo totalmente diferente do livro.  Se o piano das March está em bom estado, toda a emoção de quando o velho presenteia Beth com um novo – caso esteja no seriado – será esvaziada.

Jo conhece Laurie.
Por fim, quando é preciso levantar dinheiro para que a mãe viaje para Washington, vários detalhes foram alterados, inclusive as tarefas dadas às filhas mais velhas.  Marmee não as manda rezar, mas lhes dá coisas práticas para fazer dentro dos preparativos necessários para a viagem.  E Jo acaba vendendo seu cabelo.  E, no livro, é algo doloroso para a menina, afinal, ela finge que não se importa, mas vive ouvindo que o cabelo é sua única beleza.  Daí, a demora para que ela retorne para casa, a ponto da mãe pedir que Laurie vá atrás dela.  Se no livro o corte do cabelo é um sacrifício, uma recusa da vaidade, no episódio, parece ser fácil, uma bravata, um exercício de orgulho.  E Jo volta rapidinho para casa.  Definitivamente, não ficou bom.

É isso.  Engraçado é ter assistido a primeira versão criança (*Episódio do anime Super Aventuras*), antes de ter a idade das meninas, lido o livro a primeira vez com meus 13, 14 anos, tendo a idade delas e, agora, já estar com a idade da mãe.  O tempo passa... Espero assistir aos capítulos 2 e 3 hoje.  A conexão não está me ajudando mesmo, então, fica difícil postar notícias e uma entrevista que está aqui guardada para publicar.  Se as coisas se estabilizarem, eu posto mais coisas no blog, mas, se continuar assim, será a conta gotas mesmo, infelizmente.  As resenhas – boa parte delas – são menos trabalhosas de publicar.

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