domingo, 21 de janeiro de 2018

"O que você acha que Jane Austen pensaria de..." Eu não acho nada!


Não pretendo reviver a série Me Perguntaram no Formspring, mas recebi uma pergunta no ASK que renderia um bom post.  Segue a pergunta é a resposta, depois, comentários:
Hoje eu assisti Orgulho e Preconceito e Zumbis e gostei pacas. É um bom filme de ação, tudo é muito rápido e acho as referências ao original legal. O que a senhora acha que Jane Austen pensaria a respeito de Orgulho e Preconceito e Zumbis? 
Impossível saber o que ela pensaria e, bem, não é um dos meus esportes favoritos ficar fazendo esse tipo de jogo de adivinhação, porque nunca se terá uma resposta. Como dizia a minha primeira orientadora, a Prof.a Andréia Frazão, só convocando a criatura em uma sessão espírita e perguntando. É possível? Aos meus olhos, não. 
Jane Austen tinha um grande senso de humor. Talvez, nos nossos dias, ela fosse mais tolerante com essas homenagens do que muitos/as de seus/suas fãs. Há quem não entenda que através de uma bobagem como Lost in Austen, ou Orgulho e Preconceito e Zumbis, uma pessoa possa chegar à Austen. 
De resto, Matt Smith é um desperdício naquele filme. Ele foi o primeiro ator com a idade certa e a altura certa,além de um grande talento, claro, a encarnar Mr. Collins.
Imagina esse Mr. Collins em uma adaptação
 de respeito de Orgulho e Preconceito?
Eu realmente acredito que o Matt Smith foi a melhor encarnação do Mr. Collins em um filme, ou minissérie. Engraçado é vê-lo tão detestável como o marido da Rainha Elizabeth em The Crown, quando a gente só o viu em papéis simpáticos. Ele é um excelente ator, mas trouxe a pergunta para cá,  porque muita gente fica ansiosa com o que determinado autor, ou autora, pensaria de sua obra adaptada e apropriada. Enfim, salvo se a pessoa estiver viva, Puder falar por si, ou tiver deixado algo registrado estabelecendo que sua obra é intocável e rogando pragas em quem ousar mexer nela, ou o inverso, liberando geral, não há o que dizer nesse aspecto.  

Na faculdade de História, e eu cursei um bom curso na área, os professores não davam trela para esse tipo de ilação em relação às personagens históricas. O que Maria Antonieta sentiu no caminho da guilhotina? Teve medo? Arrependeu-se de alguma coisa? Eu posso saber o que ela disse durante o julgamento, desconfiando, claro, de quem redigiu, um inimigo da ré.  Não posso afirmar que era amante de Fersen, pior ainda, se o amava (*com ele, eu arriscaria uma opinião...*). Posso? Fosse uma ficção, sim, eu poderia, já em um trabalho acadêmico, jamais.  Em um post sério para o Shoujo Café, também, não. Daí, não faz sentido, pelo menos para mim, dizer que Jane Austen iria se revirar no túmulo por causa desta, ou daquela adaptação de uma de suas obras.


Quem lê/assiste A Rosa de Versalhes tem absoluta
certeza de que A Rainha e Fersen eram almas gêmeas.
Vejo adaptações e outras formas de aproximação com um clássico, como homenagens. Podem me agradar, ou não, posso achar que certa passagem ficou bem, ou não, posso reclamar que tal ator, ou atriz não tem perfil, mas a adaptação nada tem a ver com o original, não irá impactá-lo, ainda que possa ser o mediador para que a gente chegue até o clássico.

Por exemplo, a primeira versão de Os Três Mosqueteiros que assisti foi um anime com cachorrinhos, Wanwan Sanjushi (ワンワン三銃士). Nesse anime, na dublagem que nos chegou aqui, pelo menos, Constance, a amada de D'Artagnan, chamava-se Juliette e eles terminaram juntos.  Quando assisti minha primeira versão cinematográfica do clássico de Alexandre Dumas, a com Gene Kelly, de 1948, tive que digerir o primeiro nome e, em seguida, que Constance morre.  Normal, acontece. A minha primeira leitura de Little Women foi de uma edição adaptada para o público juvenil, da antiga coleção Elefante da Ediouro, e nela Beth não morria. Heresia? Sim. Não darei essa versão para Júlia ler, quando ela tivesse idade, claro, mas essa adaptação não impacta em nada o original e é ele que importa.  Gosto do anime da Rosa de Versalhes (ベルサイユのばら), mas Oscar, para mim, é  a do mangá de Riyoko Ikeda.  .


A primeira edição que li de Little Women.
Enfim, em março estreia a novela Orgulho e Paixão, livremente adaptada da obra (*vários livros*) de Jane Austen. O que eu estou vendo de gente se contorcendo, praguejando e dizendo "estragaram meu livro favorito" não está no gibi. Parece que a novela da Globo vai fazer com que os livros de Jane Austen se evaporem da face da Terra e sejam substituídos pela releitura brasileira. Engraçado é  quando ainda vem uma e diz que estragaram seu filme favorito  porque, bem, toma uma adaptação, uma releitura, como se original, fosse. Curioso, não?  Como escrevi lá na resposta, se uma adaptação, mesmo que eu a considere ruim  ajudar alguém a chegar ao original, eu fico feliz. Achar que o ator x ou y não foi uma boa escolha, criticar um aspecto de uma obra, reclamar, enfim  está valendo, essa grita toda, no entanto, é  exagero.

2 pessoas comentaram:

Adorando seus posts sobre Orgulho e Paixão. Tenho estado um pouco crítica em relação a uns detalhes (nomes e escalação), mas extremamente ansiosa para me aventurar nesta releitura.

Encaro tudo como uma fanfic! E, assim, acho que vai ser beeeem divertida essa trama. Vamos aguardar!

Enquanto isso, sigo relendo as obras. As notícias da novela me fizeram mergulhar de novo nesse mundo de Austen. Como você disse, as adaptações sempre serão um canal ao original.

Rapaz, disse tudo o que eu pensava. Odeio essa gente que faz tempestade em copo d'água por causa de certas adaptações das coisas que elas gostam. O mais comum, por exemplo, são aquelas adaptações de desenhos antigos para geração nova, como foi o caso de Teen Titans GO! e o novo desenho das Meninas Super-Poderosas, por exemplo, e bem, eu admito que não gostei de alguns, outros fiquei calada e outros consegui segurar, mas não fiquei tipo "hur hur dur estragaram o meu desenho favorito", pois, ao meu ver, muitos dos criadores originais aparentam não se importar com isso, e mesmo se importassem, nunca iria mudar em nada na história original, e sem falar que algumas dessas histórias costumam ter universos alternativos, como é o caso de Teen Titans que é da DC Comics e ela sempre fez versões alternativas de suas histórias e personagens, então, qual é a surpresa o Teen Titans GO! existir? No máximo, seria só mais um universo alternativo

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