quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Shiina Karuho fala dos seus 12 anos trabalhando em Kimi ni Todoke [Entrevista Traduzida]


O Luiz Guimarães, que me deu de presente o bate-papo entre Riyoko Ikeda e Hagio Moto (*1-2*), me deu um outro presentinho, quer dizer, presentinho para todos nós.  Ele traduziu a entrevista da Shiina Karuho, autora de Kimi ni Todoke (君に届け), que saiu com a versão limitada do último volume da série.  A autora rememora os 12 anos de trabalho e os momentos especiais de sua principal obra.  Agradeço muito, muito mesmo, ao Luiz.  Ele vive me dando uma mão e, às vezes, como nesse caso, presentes que não tem preço!  💕

Como o volume #30 não foi publicado no Brasil ainda, há spoilers, mas não acho que seja muita coisa, não.  Olha, não acredito que a Panini irá lançar a entrevista por aqui, afinal, ela veio com a edição limitada que vinha, também, com um booklet com várias mangá-kas homenageando a autora, enfim... Na verdade, não há muita esperança de que a Panini do Brasil vá investir em shoujo mangá tão cedo...




Shiina Karuho - Entrevista Especial

Desculpem-nos pela demora! Após o término da serialização de Kimi ni Todoke, a Shiina-sensei fala sobre seu estado mental atual e as lembranças desses 12 anos de serialização.  Ela também conta uma história secreta da produção de Kimi Todo.

- Primeiramente, obrigada pelos 12 anos de esforço nessa serialização. Qual o seu estado mental atual?

[Shiina-sensei] Eu fiquei realmente aliviada por ter finalmente terminado. Como meus ossos estão enferrujados, a ponto do meu cotidiano estar até incômodo, eu vou esquiar esse ano!

- Além de esquiar, há algo que você queira fazer como prêmio por ter terminado essa serialização em segurança?



[Shiina-sensei] Há muitas coisas (risos). Eu quero expulsar todas as coisas desnecessárias que se acumularam dentro da minha casa e de mim mesma! Serei minimalista!! Além disso, eu quero caminhar um pouco ou praticar exercícios. Arrumar minha condição física. Quero andar pelas cidades das quais gosto observando a paisagem. Também quero fazer viagens familiares. Viajar com minha filha e minha avó, entre nós mulheres. De qualquer forma, quero desintoxicar minha mente e meu corpo!

- O que você sentiu ao desenhar o último capítulo?

[Shiina-sensei] As coisas até que ocorreram como de costume. Tenho a impressão de que eu estava desenhando tranquilamente, mas para me animar tinha deixado pronta uma playlist para usar enquanto fazia o último capítulo e houve momentos, sim, em que me empolguei junto com a música. As músicas foram ótimas! (Risos). Eu não fiquei sentimental em relação à obra, mas fiquei pensando no meu trabalho com minhas assistentes.



- Quando você passou a ter consciência de que iria escrever esse último capítulo?

[Shiina-sensei] Bem, eu sempre escrevia direcionando para o final, mas por volta do final do ano passado eu parei de usar o Twitter e em um âmbito pessoal passei também a trabalhar eliminando várias coisas inúteis. De fato, eu tentei me concentrar focando-me no último capítulo. Se eu realmente consegui me concentrar ou não é outra história.

- Desde quando você já tinha por certo a história que a levaria até o último capítulo?

[Shiina-sensei] O episódio da Ayane com o Pin e o fato de que acabaria algo importante na cerimônia de formatura eram coisas que eu já havia pensado há bastante tempo. Eu fui me direcionando ao final enquanto arrumava aos poucos para que as situações convergissem. No fim, para quem leu pelos personagens como um grupo, o volume 29 pode ser considerado o último. Para quem leu pela história da Sawako e do Kazehaya, há o volume 30. Foi esse o arranjo.



- Na estrutura do último capítulo, você se concentrou em algum ponto em particular?

[Shiina-sensei] Como eu já havia desenhado tudo que deveria anteriormente, quis que o último capítulo fosse mais de reminiscências. A idéia era que o último monólogo combinasse não apenas com os sentimentos da Sawako, mas também com os dos outros personagens como o Kazehaya, a Chizu, a Ayane etc.

- Ao ler, eu tive a sensação de que era uma mensagem da Shiina-sensei para os leitores também.

[Shiina-sensei] Talvez os meus sentimentos também estivessem colocados. Aquele monólogo foi o resultado de coisas que eu também, pessoalmente, me preocupei. Ao desenhar Kimi ni Todoke, as respostas surgiram e também pensei nelas ao olhar para dentro de mim mesma.


- Dentro desses 12 anos de serialização, qual episódio mais permanece com você?

[Shiina-sensei] Talvez seja a briga da Sawako com o Kazehaya! Ela não estava planejada, mas de uma conversa que tive com meu editor de repente ficou decidido que haveria uma briga. Porém, acredito que para os dois, superar essa briga trouxe coisas importantes. Foi bom eles terem conseguido brigar! (Risos). Além disso, a Sawako ir para o apartamento em que o Kazehaya mora sozinho também foi algo que desenhei após conversar com meu editor. Ainda bem que eu consegui desenhar isso. Pensei em fazer durante uma viagem de formatura, mas acho que ficou melhor sendo no apartamento do Kazehaya. Esses dois foram episódios que eu não consegui desenhar sozinha.

- Houve algum episódio que se desenvolveu para além do que mesmo você, como autora, havia previsto?

[Shiina-sensei] No final do final, eu completei o storyboard do último capítulo esquecendo de colocar um episódio que havia pensado fazia tempo. Só percebi isso depois de começar a desenhar o manuscrito, mas pensando bem me dei conta de que era uma cena que já não se fazia mais necessária. Isso foi algo muito inesperado para mim. Eu sempre desenhei procurando fazer com que a Sawako fosse reconhecida como uma garota normal e planejava colocar uma cena assim no final também. Mas depois eu percebi que a própria Sawako falou na cerimônia de formatura que “não se importava se a chamassem de Sawako ou Sadako”. Eu estava demasiadamente preocupada com isso, ainda que a Sawako não estivesse! Então foi bom eu ter esquecido, não é? (Risos)



- Há algum item essencial para você, sem o qual você não consegue desenhar?

[Shiina-sensei] Recentemente, não tenho conseguido mais manter uma distância do papel. Vista cansada… Por isso, antes de desenhar o manuscrito do último capítulo, fiz óculos para usar exclusivamente enquanto trabalho na mesa. Óculos para vista cansada...! Já é impossível para mim trabalhar sem isso…

- Nesses 12 anos em que desenhou Kimi ni Todoke, a sua forma de trabalhar ou pensar mudaram?

[Shiina-sensei] Eu tenho a impressão que a minha forma de pensar mudou. Minha forma de trabalhar mudou um pouco, porque minha filha nasceu em meio à serialização. Como eu não poderia trabalhar no meu próprio ritmo, tive que fazer as coisas quando podia fazê-las. Além da minha filha de repente ficar gripada etc!



- Por favor, mostre algum lugar do qual você goste no seu espaço de trabalho! 

[Shiina-sensei] A prateleira onde coloco as coisas de meu interesse e os produtos que ganhei dos meus assistentes, amigos, leitores e livreiros. Há várias outras coisas que recebi. É uma pena que eu não consiga colocar tudo nessa foto.

- Com o progresso da nossa época, mudaram as ferramentas utilizadas no trabalho?

[Shiina-sensei] A maior parte das ferramentas não mudou, mas como a ponta das canetas passou a ser do tipo chrome, eu mudei da tinta nanquim para uma que fosse compatível com ela. Com a digitalização, tirar fotos para amostragem e imprimi-las também se tornou algo prático. Os smartphones são algo pelo qual se deve agradecer.

- Quais você sente que foram os maiores frutos por ter desenhado uma obra como Kimi ni Todoke?

[Shiina-sensei] No passado, quando eu estava aflita sobre continuar ou não como mangá-ka, meu editor da época me disse que se eu “continuasse, as filhas das leitoras atuais talvez lessem minhas obras também”. Mas precisamente agora as pessoas me dizem que leem minhas obras entre mães e filhas. Eu acho que a serialização em si foi longa demais, mas acho também que por ter sido longa é que eu recebo essas palavras. Recebi o favor de mães e filhas lerem minha obra.



- O que não pode faltar na hora que você está trabalhando?

[Shiina-sensei] Houve um período em que eu comia muitos petiscos, mas ultimamente não tenho feito muito isso. Sempre há bebidas, como chá e café, ao meu lado. Bebidas quentes, no geral. Este ano bebi bastante puer como forma de dieta.

- Para a Shiina-sensei, que tipo de obra é Kimi ni Todoke? Por favor, diga o que está sentindo neste momento.

[Shiina-sensei] Ao olhar para trás, procurando cenas de reminiscências para o último capítulo, as respostas para minhas preocupações pessoais que já duravam há um ano estavam desenhadas por todos os lugares desde o princípio. Como eu sempre tenho a intenção de desenhar os personagens, não me justaponho a eles. Porém, às vezes encontro em personagens que acreditava serem completamente diferentes de mim coisas que talvez se pareçam comigo. De alguma forma, parece que por 12 anos eu desenhei pensando no meu eu de 12 anos depois. Isso causa uma sensação ruim (risos). Embora eu tivesse planejado desenhar para que os sentimentos fossem de várias pessoas, no fim do fim eu alcancei a mim mesma. É de fato uma sensação ruim… (risos)



- O “kimi” (você) em Kimi ni Todoke também incluía a própria Shiina-sensei, não é? (Risos) Ao terminar de desenhar, Kimi ni Todoke concluiu-se no formato que a sensei havia imaginado?

[Shiina-sensei] Tenho a impressão de que, mais do que havia pensado no início, a frase Kimi ni Todoke (Alcançando você/Chegando a você) se tornou maior em significado. Como foi-me permitido desenhar tudo que queria, chega a ser surpreendente que eu não tenha nenhum arrependimento. Isso me deixa feliz!

1 pessoas comentaram:

Agora que finalmente saiu o último volume aqui, vou começar a reler desde o início. Gostei muito do início da série e espero que isso se mantenha, apesar das críticas que vi por aí. Eu praticamente parei de ler lá pelo volume 10.

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