quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Marina Ruy Barbosa é Linchada Publicamente ou o Mito da Destruidora de Lares se Revigora Mais uma Vez


Não sou fá de José Loreto, Débora Nascimento, ou Marina Ruy Barbosa, aliás, além de serem três modelos de beleza televisiva, não vejo grande motivo para lembrar deles, no entanto, cabe analisar de forma feminista o imbróglio dos últimos dias.  Débora Nascimento e José Loreto eram um dos casais jovens modelo que a mídia tinha a oferecer, juntos desde 2012, com uma filhinha pequena, muito merchandising de produtos e serviços estava no seu destino.  Mas eis que no último fim de semana, a esposa coloca o marido fora de casa, anuncia separação e expõe que foi traída.  Morreria aí, não fossem celebridades, mas o mais curioso foi que começaram a caçar o "pivô" da separação, como se o cidadão não fosse responsável pelos seus atos e fim de papo.

O foco desvia dele, o marido, para
a possível amante, a mulher má.
Em uma virada muito curiosa, a maioria dos sites de celebridade passaram a noticiar que a vilã da história era Marina Ruy Barbosa, companheira de cena do rapaz na novela das 9 da Globo.  O nome do moço, muito menos famoso que ela, verdade, rapidamente desapareceu das manchetes e o dela passou estampar chamadas até de jornais impressos.  Outras celebridades, atrizes jovens, rivais no estrelato e nas redes sociais, começaram a expressar sua desaprovação e em uma versão moderna de apedrejamento, deixaram de seguir a ruiva no Instagram.  Era como se Ruy Barbosa tivesse encarnado todos os fantasmas da mulher má e sedutora das fantasias patriarcais.  Foi acusada, julgada e condenada sem sequer ser ouvida.  Não há certeza, admissão de culpa, o marido de Ruy Barbosa permanece calado, mas ela é o centro das atenções e do desprezo público, mesmo depois de negar qualquer envolvimento com o colega de trabalho.

Deixar de seguir, uma nova forma de apedrejamento público.
O suposto adúltero, porque ele nega, que fique claro, parece pairar acima da situação.  Foi seduzido, certamente, ou, como homem, não conseguiu resistir à tentação.  Nada mais normal.  Assim como no caso Grazi-Cauã-Isis, a culpa do fim do casamento perfeito é da "destruidora de lares", ou da esposa negligente, repete uma ladainha que vem desde os tempos de nossas avós.  Lamenta-se o casamento lindo desfeito, a pobre criança envolvida, há a torcida pelo perdão e, claro, queimem na fogueira a mulher má.  Às mulheres virtuosas, recomenda-se que não se misturem com ela.

Afinal, quem jurou fidelidade à Débora? 
Loreto ou Ruy Barbosa?
Em 2019, ainda somos impelidas a nos atirarmos contra outra mulher.  A odiá-la, a querer seu mal.  Não estou falando que devamos simpatizar com quem trai, mas veja que quem traiu a esposa foi quem lhe jurou fidelidade.  Não convém cair na armadilha mais uma vez.  O patriarcado se revigora ao explorar nossas fraquezas.  Jogando uma mulher contra a outra, garantida está a certeza de que não iremos perceber que o problema não está em nós, mas neles, que a responsabilidade primeira de uma traição não é da amante, mas de quem tem o compromisso conosco.  E que, claro, ninguém rouba marido de ninguém, eles não são coisas, eles fazem suas escolhas.  Homens precisam ser responsabilizados pelos seus atos e, não, tratados como indefessos, os eternos meninos, vítimas de uma mulher ardilosa.  É isso.  Texto curto.  O sobre o caso Grazi-Cauã-Isís serve para adensar a discussão, porque é como comer comida requentada mesmo.  Tristes tempos.

P.S.1: E, para quem não entendeu, talvez, eu não tenha sido clara, o objetivo do texto não é ficar demonizando A ou B, mas pensar como a sociedade e mídia demonizam A e, não, B.  Se você conseguir refletir sobre isso, acredito que o texto valeu a pena.

P.S.2: Loreto assumiu que traiu, saiu agorinha no jornal, a esposa e pediu perdão.  Reparem o tratamento amoroso da mídia, somente isso.

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