domingo, 1 de setembro de 2019

As mulheres invisíveis da Corrida Espacial: o caso das Tecelãs dos Primeiros Computadores das Naves Norte-Americanas


Agora, pela manhã, meu marido, que é aficionado pela corrida Espacial, veio me contar que havia assistido a um vídeo sobre os computadores da Saturno V  e que falava que as mulheres tiveram uma participação fundamental no processo.  Os computadores usados na época eram imensos, usavam diversos painéis de memória com anéis minúsculos que giravam, esses anéis de metal, que deveriam chegar aos milhões em uma nave, eram tecidos com todo cuidado e máxima precisão. Quem fazia esse trabalho minucioso e repetitivo?  Mulheres.  


Quando encontrei um vídeo mostrando o processo, não surpreende que assim como as mulheres computadores que faziam cálculos complexos antes das máquinas, as que foram mostradas no filme Estrelas Além do Tempo, eram negras.  Imagino que seus salários como funcionárias de fábricas de tecelagem emprestadas, ou contratadas, pelo programa espacial, fosse irrisório.  Sem elas, não haveria computadores, da mesma forma que outras mulheres, como as que contavam estrelas ajudaram a mapear o universo, elas viraram nota de rodapé de livros, ou uma anedota contada em algum vídeo sobre os computadores da Saturno V.  Uma curiosidade, porque, bem, o trabalho das mulheres nunca é tão importante quanto o dos homens, e se forem mulheres negras, ou latinas, ou de outra minoria qualquer, é menos importante ainda, se for preciso colocar uma mulher na foto, que ela seja branca.  

Tecendo os computadores do programa espacial.
Não estou fazendo pouco caso dessas mulheres, porque elas não estavam lá por motivo algum, elas lutaram para chegar onde estavam, mas estou evidenciando as hierarquias, todas as mulheres tem seu trabalho subestimado, mas se preciso elogiar uma exceção, que seja uma mulher branca. E, se possível, bonita e jovem, a não ser, claro, que ser velha e ter uma aparência mais séria seja fundamental para o argumento.

Galina Galishova trabalhando.
Mas eis que foi minha vez de surpreender meu marido, porque ele não sabia que a arquiteta da corrida espacial soviética, e sobre ela há muita coisa na internet, era uma mulher.  Galina Balashova, arquiteta e designer de interiores, foi contratada aos 26 anos para participar do programa espacial soviético.  Ela desenhava os interiores das naves, de forma que elas fossem funcionais, confortáveis e, sim, bonitas.  Desenhava exteriores, também, participava dos projetos.  Ela, que está viva, foi a designer dos interiores da Mir, a estação espacial da URSS.  Enfim, meu marido assistiu um docudrama super detalhado sobre a corrida espacial soviética tempos atrás e não havia uma notinha de rodapé para Balashova.  

É fácil encontrar os projetos de Balashova na internet.
É fácil esconder o trabalho das mulheres, especialmente, quando homens contam a História.  Por essas e outras, o nosso papel na História da Ciência parece tão pequeno, quando, na verdade, muitos processos, descobertas, e outras partes da pesquisa e da produção científica foram feitos por mulheres de todas as idades, nacionalidades e cores d epele.

3 pessoas comentaram:

Desconhecia totalmente o assunto. Irei procurar mais informações agora.

Como eu leio bastante sobre o projeto Apollo, já sabia dessa questão das memórias dos computadores de bordo da Apollo. As memória eram feitas por núcleos de ferrite, que tinham que ser entrelaçados por fios de cobre, um trabalho minucioso e delicado, quase como um crochê. E quem na época sabia tecer? As mulheres, claro. Por isso mesmo, as memórias eram chamadas informalmente de "LOL Memory" (Little Old Lady memory).
Mas não foi só aí que as tecelãs trabalharam no programa. Os trajes dos astronautas também foram costurados à mão, e eram bastante trabalhosos. A empresa que ganhou a concorrência para produzi-los era mesmo uma indústria têxtil, que fabricava sutiãs e outras peças de vestuário.
Além disso, já após o fim das missões à Lua, foi necessário produzir um escudo térmico para a estação Skylab, que era formado por várias camadas de tecidos especiais, também costurados à mão por costureiras.

Os russos, ao que parece, estão empenhados em silenciar as mulheres. Apesar de terem lançado a primeira astronauta em órbita na década de 60, de lá para cá, a coisa só piorou. Não há mais nenhuma astronauta em atividade, uma única que estava em treinamento foi dispensada, depois readmitida sob pressão, mas não tem previsão de voar.
Enquanto isso, nos EUA, pelo menos metade do corpo de astronautas da NASA é de mulheres. E tivemos astronautas estrangeiras também na ISS.

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