quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Alemã cria quadrinhos para falar do envolvimento da família com o nazismo


O Correio Braziliense, principal jornal da capital, trouxe uma entrevista com a quadrinista Nora Krug que teve recentemente publicado em nosso país o seu álbum Heimat — Ponderações de uma alemã sobre sua terra e história.  A capa é inspirada em uma famosa pintura do romantismo alemão, chamada Caminhante sobre o mar de névoa (1818) de  Caspar David Friedrich e um dos ícones do romantismo alemão.  Nesse quadrinho, ela volta ao passado e rememora a história de sua família, seus tios e avós, e suas relações com o nazismo.  Trata-se de uma abordagem crítica.  Ela diz que "Como alemã de uma geração pós-Segunda Guerra, cresci com o sentimento de culpa. Durante a adolescência, não se falava muito disso na escola, mas quando mudei para o exterior, me dei conta de que nunca havia abordado o tema de maneira mais séria”.


Ela toca em temas importantes, como a ideia repetida de que era impossível resistir.  Daí, ela comenta que só estudou dois movimentos de resistência com nazismo na escola, mas que 77 mil pessoas morreram por resistirem, então, há muito mais a se ver. Ela critica, também, a forma como a história é ensinada em seu país, de forma fria, focando em fatos descarnados e evitando qualquer envolvimento emocional.  Mais adiante temos:
"Como os millennials lidam com isso?
Não posso falar por todos, mas outro dia fui falar na escola em que estudei na minha cidade e eles foram tão resistentes na resposta: o que eles disseram basicamente é que não querem se sentir culpados, mas querem se sentir responsáveis. Querem ter certeza de que não vai acontecer novamente. E não querem se sentir culpados, porque não foram eles que cometeram as atrocidades. Acho que é uma das maneiras mais saudáveis de seguir em frente, porque a culpa com a qual cresci não é saudável. Acho que precisamos continuar a aprender sobre o holocausto, mas precisamos encontrar uma maneira mais construtiva de lidar com a história e não uma maneira que nos paralise. Espero que as novas gerações façam isso. Mas há sempre o perigo de que, quanto mais nos afastamos da geração que passou por isso, mais fica fácil esquecer o que aconteceu."  

Para ler a entrevista, é só clicar aqui.  Acho que vou tentar comprar o quadrinho.  Hoje, é urgente falar do nazismo, não somente na Alemanha, mas em todo o mundo.  As pessoas que viveram a guerra estão mortas, ou muito idosas.  Assim, os mais jovens terminam sendo alvo da desinformação e muitos não tem mais vergonha de mostrar a sua pior face.  É preciso falar para não esquecer, para ter vergonha, para não repetir.


Neste final de semana mesmo, na cidade de Unaí (MG), um homem, que agora sabemos ser rico latifundiário, saiu com uma braçadeira nazista na rua e foi até um bar.  Houve quem fizesse a denúncia, havia policiais no local, mas eles se recusaram a tomar providências, porque não viram nenhuma apologia ao nazismo naquele ato.  Nossa lei proíbe a exposição de símbolos nazistas, já houve livro recolhido por causa disso e muitos modelistas evitam colocar suásticas em seus aviões para evitar qualquer problema.  Talvez, os policiais soubessem que o homem é importante, talvez, simplesmente não se importassem. O fato é que é grave e um dos membros da família veio à público se desculpar alegando o de praxe, problemas psiquiátricos.  O fato é que há muita gente que admira Hitler e que seria nazista sem problema.


  Lembro que vários anos atrás um aluno desenhou uma suástica no caderno, eu o repreendi e ele me saiu com uma "Não há nenhum judeu na sala.", como se não houvesse problema, mas havia.  Eu agi como a professora chata, claro, eu me esforçava muito para mostrar, por exemplo, o caráter fascista (*não nazista, que é uma variante do fascismo*) do Integralismo brasileiro.  Plínio Salgado teve a ideia de iniciar o movimento depois de ter ido à Itália e entrevistar Mussolini.  E o que temos?  Integralistas fizeram uma marcha em São Paulo neste último fim de semana, também.  Um punhado de gatos pingados, mas, sabe-se lá, quantos podem sair do armário, ou aderir ao movimentos, ou outros semelhantes?


Percebem a importância de um sólido ensino de História?  Entendem por qual motivo certos grupos reacionários e perigosos querem controlar a narrativa histórica?  Sim, eles sabem a importância da disciplina, mas muita gente boa, que poderia fazer diferença, parece não se importar, ou, bem, achar que as coisas se ajeitarão pro si mesmas.  Não, elas não vão se ajeitar e se não fizermos alguma coisa, vai piorar e muito.

1 pessoas comentaram:

Obrigada pela dica incrível dessa HQ, Valeria! Coloquei na minha wishlist da Amazon!
Muito pertinente, assim como MAUS.

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