sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Autobiografia de primeira-dama da Indonésia vira mangá no Japão


Lembro que quando foi lançado o mangá Erabareru Onna ni Onarinasai  (選ばれる女におなりなさい) da mangá-ka Keito apareceram várias informações no Twitter, o traço é lindo, mas eu não sabia bem se era um mangá histórico, ou ficção e deixei de lado.  Na verdade, trata-se de um mangá histórico até certo ponto, porque é baseado na autobiografia de Dewi Sukarno, que encontrou a mangá-ka e tirou fotos com ela.  Mas quem é Dewi Sukarno?

O casal.
 Eu não sabia, também, mas ela é uma japonesa, nascida Naoko Nemoto, que conheceu o herói da independência e presidente-ditador da Indonésia em Tokyo, no ano de 1959.  Ela tinha 19 anos, ele, 57.  Daí vocês tiram que por mais conservado e bonito que ele pudesse ser, o raio shoujoficador fez um trabalho espetacular nele.  
É isso que eu chamo de raio shoujoficador.
A moça japonesa se casou com Sukarno, converteu-se ao Islã e se tornou uma de suas várias esposas.  Sim, fui checar se a Indonésia tinha banido a poligamia e a reposta é "não".  Sukarno foi um dos grandes líderes políticos de sua época, uma das mentes por trás da Conferência de Bandung, porém, obstruiu o quanto pode as reformas que poderiam aumentar os direitos das mulheres.

Rolou um raio shoujoficador na
protagonista, também, claro.
Até explicando, durante o processo de independência, a Indonésia foi o ponto de partida para a descolonização na Ásia, libertando-se dos japoneses (*ocupação*) e dos holandeses em 1945, o movimento de mulheres pressionou para que a poligamia fosse abolida.  Fatmawati, terceira e, na época, única esposa de Sukarno, além disso, ativista política, apoiava a reforma na legislação de casamento instalando a monogamia.  A Turquia poderia servir de modelo.

"Não irei depender de ninguém..."
A decisão de uma menina de 4 anos.
Sukarno, por desaforo, ou não, barrou a reforma na lei e ainda casou com mais duas mulheres, ainda que Fatmawati mantivesse seus status de primeira-dama.  Ela chegou a abandonar o palácio presidencial, para grande consternação da sociedade, porque ela era amada, tinha desenhado inclusive a bandeira do país.  Uma das jovens novas esposas foi divorciada e mandada para o exílio quando Sukarno ficou sabendo que ela demonstrara solidariedade para com Fatmawati e recebera representantes dos movimentos de mulheres.

O mangá conta a vida sofrida de
Dewi Sukarno desde sua infância.
Enfim, na Indonésia, maior país islâmico do mundo, em termos populacionais, é obrigatório que ambos os cônjuges tenham a mesma fé e o casamento religioso é obrigatório.  O casamento islâmico tem validade de rito civil, também, os das demais religiões, não.  Um muçulmano pode ter até quatro esposas, Sukarno casou-se nove vezes durante a vida, para se ter uma ideia, mas manteve somente quatro esposas simultaneamente.  Em 2008, os movimentos de mulheres pressionaram mais uma vez por uma mudança na legislação, proibindo a poligamia, mas foram derrotadas mais uma vez.  A poligamia é praticada também por não-muçulmanos no país, agora, provavelmente, independentemente da fé, a maioria da população deve viver em monogamia como na maioria dos países muçulmanos.
O amor da sua vida... 
Voltando para Dewi Sukarno, depois de viúva, ela foi morar na Europa.  Ela é rica, é uma socialite e não vejo nada de relevante na biografia dela que me atraia.  Sukarno se envolveu em vários escândalos, por exemplo, já quebrou um copo na cara de outra socialite, a neta do ex-presidente Sergio Osmeña, que tomou 37 pontos no rosto, pegou uma detenção de 34 dias por se recusar a cooperar com as autoridades norte americanas, mais tarde, fez um álbum para o mercado japonês com fotos seminua e mostrando suas tatuagens.  Esse álbum foi proibido na Indonésia e considerado ofensivo. Lembrem-se que ela se tornou muçulmana e sua imagem estava ligada a do fundador do país. 

A ilustração de propaganda tomou
essa foto como modelo.
Mas por qual motivo escrevi tudo isso?  Fiquei curiosa para saber quem era a mulher achei o traço bonito.  E morre aí.  O mangá está em publicação na revista Be Love, parece que terá mais de um volume, mas não tenho certeza, e já tem scanlations.  Enfim, a autora deve ter transformado o caso em uma grande história de amor.

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