segunda-feira, 11 de maio de 2020

The Great deseja transformar a vida de Catarina II da Rússia em Comédia


Quando vi o primeiro trailer de The Great, nova série do serviço de streaming Hulu, que estreia no dia 15 de maio, eu fiquei sem saber o que pensar.  Na verdade, fiquei meio chocada mesmo e até conversei com um colega professor para saber que impressão ele tinha tido.  Não foi muito diferente.  Mas depois de ver a descrição da série que apareceu no Omelete, precisava escrever um pequeno post.  


Eis o resumo da primeira temporada:  "uma história fictícia, divertida e anacrônica de uma jovem idealista e romântica que chega à Rússia para um casamento arranjado com o Imperador Pedro. Esperando por amor, ela encontra um mundo perigoso e depravado que decide mudar. Tudo o que ela precisa fazer é matar o marido, derrubar a igreja, enganar os militares e conquistar a corte".


Lendo isso, penso em um filme da Disney com direito a uma princesa loura quando a Catarina original era morena.  Tenho um livro sobre Cinema e História que resenha o filme  A Imperatriz Vermelha (The Scarlet Empress/1934), que trazia igualmente uma Catarina loura quando essa cor de cabelo era signo de sedução.  Nesse clássico com  Marlene Dietrich, Catarina, que dizia querer ser filósofa quando jovem, aparece dançando graciosamente e dizendo que seu sonho era ser bailarina.  Estereótipos de feminilidade e, claro, a construção da imagem de Catarina como uma mulher que venceu, porque usou a principal arma de uma mulher.  Seu cérebro?  Não, seu corpo.  O vermelho do título é outro signo que, no século XX, estava menos associado à violência e muito mais vinculado à sedução.


Em Elle Fanning, a lourice será a da princesa de conto de fadas mesmo, significa inocência e juventude. Se Catarina, que chegou na Rússia aos 15 anos, não fosse forte, decidida, inteligente e capaz uma jogadora agressiva, ela teria sido eliminada.  Ela não era uma moça tola, poderia até não ter completa noção do terreno no qual ia pisar, mas ela não era uma Maria Antonieta e a fama da corte russa, com seus assassinatos e reviravoltas de deixar a gente de queixo caído, deveria ser conhecida por toda a Europa.  Se ela fosse uma pobre mocinha inocente, ela seria destruída.  Eu comentei sobre isso em um post que fiz sobre o filme sobre o anúncio de um filme sobre Catarina dirigido por Barbra Streisand.  Como foi em 2015, talvez esse filme nunca saia.


Se a representação de Catarina me parece complicada, sendo humor, ou não, a do marido dela, Pedro III, me parece ainda pior.  Nicholas Hoult parece um menino maluquinho no trailer.  E o ator é simpático, não me lembro dele em um filme fazendo uma personagem sequer de moral dúbia.  Pedro III é descrito como adepto das bebedeiras, alguém que não era amado na corte e tratava muito mal sua jovem esposa.  E Catarina ainda tinha que suportar a presença na sua vida da Imperatriz Elizabeth, tia de Pedro, e que era quem mandava de fato na Rússia quando Catarina chega à corte.


Claro, muito do que se escreveu sobre Pedro teve o dedo de Catarina, que provavelmente foi responsável pela sua morte, mas ela, uma estrangeira e mulher, é contada como um dos maiores czares da Rússia, ele, não.  Parece que em biografias mais recentes, alguns historiadores defendem que ele foi um imperador iluminista e que, por isso, acabou perdendo o apoio da conservadora nobreza russa.  Eu precisaria ler mais sobre ele, agora se Pedro III for apresentado como um fofo sonhador, como se poderá justificar o golpe de estado dado por Catarina?


A Wikipedia diz que o objetivo da série é brincar com a história de Catarina, a Grande, fazer humor e recorrer à história quando bem entenderem.  Enfim, a ficção é ficção e precisa ser tratada como tal, o que importa é a como será a execução, mas, claro, sempre me pergunto sobre certas escolhas.  De qualquer forma, ano passado tivemos série sobre Catarina, este ano, outra, quem sabe, no ano que vem, esse filme da Barbra Streisand se torne realidade e com um tratamento feminista da personagem e uma atriz morena e sem jeitinho de princesa da Disney.


The Great terá dez episódios ao todo, não sei como será a exibição no Brasil.  Não sei, também, se a intenção é filmar a vida inteira de Catarina.  Se for, terão que mudar de atriz protagonista em breve.  A página oficial da série é esta aqui.  O novo trailer deixa bem claro o tom da série e que Pedro será maluquinho, cruel, mas adorável.

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