Harriet Jacobs (1813 ou 1815- 1897) foi uma escritora afro-americana e ativista da causa abolicionista e feminista. Nascida como escrava em Edenton, Carolina do Norte, ela foi sexualmente assediada por seu senhor, para tentar escapar do assédio, ela aceitou a proteção de outro homem branco e poderoso, mas a proteção durou pouco e o senhor buscou se vingar dela. Ele ameaçou submeter os filhos de Jacobs, ainda crianças à dureza das plantações. Jacobs fugiu, passou por vários esconderijos, teve seu filho e seu irmão vendidos, e passou sete anos escondida em um pequeno forro sob o telhado da casa de sua avó, onde ela nem conseguia ficar em pé. Jacobs fez furos no forro para ter condições de ler a Bíblia e os jornais, mas carregou sequelas de saúde desse período por toda a sua vida.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDSoCo0nqcJX6Zccf21LmRDwBeXacjvaE5_kt2LWDIWV6kUNrgd_ZA6yPGR0JUcO7_BfHc_5zLESCgqu0QCIkVmeYi87uO4V_rkLUN3ZFsSzxL_5vw5m7P0f89AjnhhKWMAe9A/w261-h400/392px-Gilbert_Studios_photograph_of_Harriet_Jacobs.jpg)
Depois desses sete anos, ela finalmente conseguiu escapar para Nova York, onde se reencontrou com seus filhos Joseph e Louisa Matilda e seu irmão John S. Jacobs. Ela encontrou trabalho como babá para os filhos de Nathaniel Parker Willis e entrou em contato com reformistas abolicionistas e feministas. Sua autobiografia, Incidents in the Life of a Slave Girl foi publicada em 1861 sob o pseudônimo de Linda Brent. Ela se dirigia às mulheres do Norte para alertá-las dos sofrimentos impostos às mulheres escravizadas, o assédio sexual e a negação do seu direito à maternidade. ![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTl1srkzkG2kVMMel7JItWB1K3QX0bURr3zWGjVp9GoLkwoxhbv7KvHjOh3cl1qPlEZtcH9KoYjGwgox3HoeN0zNZul14JtUS3hkoR8afDZth1qwB5j0nOJMXcgAKOyuG-2FP7/w264-h400/283076436.jpg)
Segundo a Wikipedia, o livro ficou muito tempo esquecido e só foi recuperado na segunda metade do século XX. A teoria é que a crítica ao patriarcado e a exposição crua de temas tão sensíveis fez com que o livro fosse considerado inadequado, ou menos importante que outros que denunciavam a escravidão, mas não faziam uma crítica sistêmica à opressão sofrida pelas mulheres. Eu peguei o livro para ler e, bem, uma das questões mais pungentes até o momento é a questão da violência sexual dos brancos contra as mulheres negras e de que os EUA são uma nação mestiça, à despeito de tudo o que os supremacistas brancos digam. Durante e imediatamente após a Guerra Civil, Jacobs foi para as partes ocupadas pela União do Sul com sua filha, organizando ajuda e fundando duas escolas para escravos fugitivos e libertos. ![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFzdpm_gYjQb5Rvn0JgtqRt79etXwcX5UbK0VWB5i7Hd3kq_GCWuDm1mGuKGt8GCr8T9QeGjhXoi-bYo6_ZNqs65eNuO2W2ab3tSJOQeBqWagY8olB2VsCf9XVagSkls31jQO_/w400-h216/unnamed+%252826%2529.jpg)
A adaptação para mangá desse livro importante estreou na revista seinen Comic Action em maio deste ano. A autora, Mariko Arai, baseia seu mangá na edição do livro de Jacobs traduzida por Yuki Horikoshi e publicada pela Shinchosha em 2017. Segundo o Comic Natalie (*via ANN*), antes de iniciar o mangá foi publicado um artigo da historiadora Jean Fagan Yellin contextualizando a escravidão e a Guerra Civil para o público japonês e explicando que o livro é verídico e, não, um romance. Aliás, uma das acusações feitas à Incidents in the Life of a Slave Girl era exatamente essa. O nome do mangá é Aru Dorei Shoujo ni Okotta Dekigoto (ある奴隷少女に起こった出来事) e acredito que ele merece ser lido. Há uma amostra do mangá aqui. O livro tem edição nacional.
0 pessoas comentaram:
Postar um comentário