O site Manga News publicou uma entrevista com mangá-ka Fujita, autora de Wotakoi, ou Wotaku ni Koi wa Muzukashii (ヲタクに恋は難しい). Não fosse o coronavírus, Fujita estaria no Salão do Livro de Paris como convidada da Editora Kana. O MN comenta que apesar dos cancelamentos, eles puderam mandar por e-mail algumas perguntas para a autora e elas foram enviadas em tempo para serem publicadas junto com o volume #7 da série, que acabou de ser lançada na França, estamos um volume na frente, aqui, no Brasil. A entrevista original está aqui. Assim como já fiz com outas entrevistas do Manga News, decidi traduzir esta, também.
MN: Que ideia engraçada te levou a imaginar um mangá em torno de otakus adultos?
Fujita: Na época, eu estava enfrentando um bloqueio quando se tratava de escrever um mangá que me motivasse a desenhar. Então acho que me voltei para um tema que era mais próximo de mim, pelo qual eu tinha maior compreensão e que me sentia capaz de desenhar: otakus.
MN: Qual foi o seu percurso até chegar nele?
Fujita: Consegui um diploma em arts, porque queria me tornar uma manga-ká, mas para viver tive que trabalhar como temporária por alguns anos. Mas a certa altura, percebi que todos os meus sempai do trabalho tinham conquistado um contrato e ido embora e que só havia o gerente que tinha mais experiência do que eu na empresa, o que me fez perceber a urgência da situação. Então trabalhei muito para completar um projeto de mangá, para apresentá-lo em Tóquio.
MN: Como você imaginaria a vida de dois otakus trancados em suas casas durante um confinamento? Basicamente, isso os mudaria de sua vida diária normal?
Fujita: Não acho que haja ninguém além dos otakus para se divertir durante um confinamento. Imagino que cada um faria o que quisesse, sozinho, às vezes junto, para "se divertir" esse confinamento.
MN: Originalmente, Wotakoi é um trabalho que era publicado na plataforma Pixiv, antes de seu trabalho ser descoberto pelas edições Ichijinsha e tornando-o seu primeiro mangá profissional. Quais são as grandes diferenças entre a versão Pixiv original e a versão profissional? O que você reformulou (modificou, enriqueceu, excluiu ...)?
Fujita: Na época do Pixiv, desenhava em papel para impressora com penas, praticamente na improvisação sem colocar um fundo, então o volume 1 foi feito um pouco como eu me sentia, bagunçado demais para um volume para ser comercializado. Por se tornar uma série de longa duração, graças ao apoio do meu editor, tento chamar mais a atenção do olhar do leitor.
MN: Naquela época, como era o contato com Ichijinsha? Você sabe o que atraiu o editor sobre o seu trabalho?
Fujita: Lembro que foi por meio de um MP no Pixiv. (*Não sei o que é MP.*)
MN: Graças ao posfácio do volume 1, sabemos que seus 4 heróis e as situações são baseadas em alguns de seus amigos otakus e fujoshis. De repente, em tudo isso, qual é a parte "real" e a parte que sai da sua imaginação? Onde termina a fronteira entre os dois?
Fujita: Na realidade, faço uma distinção nítida entre realidade e imaginação, mas no mangá, eu confundo a linha. Não é realidade, mas também não é inteiramente imaginário. Estou buscando isso.
MN: Ao apresentar personagens masculinos e femininos igualmente, a série pode realmente falar para homens e mulheres. O quanto você presta atenção a isso? Além disso, você sabe qual é a taxa de audiência masculina e feminina da sua série no Japão?
Fujita: Acho que há uma parcela maior de fãs do sexo feminino, mas estou muito feliz em ver que há uma certa proporção de fãs do sexo masculino também. Como gostaria de traçar um ponto de vista o mais neutro possível, procuro ao máximo colocar minha subjetividade no armário para tornar as emoções e ações dos personagens o mais realistas possível, com base nas opiniões de diferentes pessoas.
MN: Quando falamos sobre otakus nos mangás, muitas vezes encontramos personagens adolescentes, mas você escolheu, de sua parte, colocar em cena personagens adultos que ainda vivem suas paixões otaku mesmo já estando no mundo profissional. Por que essa escolha? Por que você achou importante mostrar otakus adultos que trabalham? E que visão temos hoje no Japão em relação aos otakus adultos? É fácil enfrentar isso na sociedade japonesa de hoje?
Fujita: Sem me limitar aos otakus, tenho a impressão de que não há muitas pessoas que saibam continuar a se dedicar a uma paixão mesmo depois de entrar no mercado de trabalho. Viver é trabalhar, interagir com os outros, aproveitar ao máximo o que você ama. Há muitas coisas difíceis também, mas se desenho esse tipo de adultos é sem dúvida porque para mim, os adultos capazes de viver o seu dia a dia equilibrando tudo isso me parecem atraentes.
Obrigado a Fujita, assim como a Stéphanie Nunez das edições Kana por administrar este intercâmbio!
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