quinta-feira, 15 de outubro de 2020

The Shadow in the Tower (1972) parece ser um a série interessante, especialmente, para quem se interessa pelo período Tudor

Graças ao site History of Royal Women, acabei de descobrir a série The Shadow in the Tower (1972) e que ela está toda disponível no Youtube.  Sem legendas, não sei se elas existem em algum lugar, ela funciona como prequel para  The Six Wives of Henry VIII, que eu nunca assisti, e Elizabeth R, que é uma das melhores séries da BBC e produção histórica que eu já vi.

Explicando o título do seriado, A Sombra da Torre, me obriga a falar um tiquinho da Guerra das Duas Rosas (1455-85).  Nesse conflito, e teremos um anime shoujo sobre essa guerra em breve, se enfrentaram as duas mais poderosas famílias da Inglaterra da época, os Lancaster e os York.  Ambas eram descendentes de Eduardo III (1312-1377), que viveu muito tempo e começou a procriar cedo (*com 16 anos*) e teve montes de filhos que chegaram até a idade adulta.  Seus descendentes terminaram banhando a Inglaterra com seu sangue, logo após a derrota na Guerra dos Cem Anos (1337-1453).

Pois bem, no finalzinho da guerra, os York tinham tomado o poder.  Eduardo IV (1442-1483) tinha morrido em 1483, ele havia destronado Henrique VI (1421-1471), que nunca reinou de fato, mas era o soberano legítimo.  Confuso?  Sim.  Daí, vocês já tiram que Eduardo IV, primeiro rei da Casa de York, nunca foi uma unanimidade.  Enfim, em 1483, o filho de Eduardo IV é colocado no trono.  Só que este menino, que tinha meros 12 anos e sua mãe, Elizabeth Woodville (c. 1437-1492)apesar de ser uma mulher formidável,  não conseguiu evitar que o tio do menino, futuro Ricardo III  (1452-1485), tomasse seus dois filhos, o menino-rei e seu irmão caçula Ricardo.  Eduardo V (1470-c. 1483) e Ricardo (1473-c. 1483) foram colocados na Torre de Londres, segundo o tio, para sua própria proteção, e nunca mais foram vistos.  Eles são chamados de "Princes in the Tower".  

Ricardo III acabou levando a fama como assassino dos sobrinhos, mas a verdade é que Henrique Tudor (1457-1509), um primo que voltou da França para exigir o trono como legítimo descendente dos Lancaster (*há controvérsias*), tinha tantos motivos para se livrar dos meninos quanto o tio rei.  Henrique derrotou Ricardo na Batalha de Bosworth Field e se tornou rei em 22 de agosto de 1485.  Ele se casou com uma das filhas de Eduardo IV e Elizabeth Woodville, Elizabeth de York (1466 -1503), selando a paz entre York e Lancaster.  

O problema é que havia muita gente mais próxima do trono que Henrique e a sombra da Torre, porque apareceram vários sujeitos que se apresentaram como o rei Eduardo V, ou seu irmão, ao longo do seu governo, perseguiram Henrique.  O rei, claro, não teve uma tarefa fácil, ele precisava fundar uma dinastia, se legitimar diante da nobreza inglesa e do resto da Europa, levantar as finanças de um reino cuja economia tinha sido destroçada pela guerra.  E, de certa forma, ele conseguiu.  Teve ao seu lado uma mulher formidável.  Não estou falando da rainha, apesar de Henrique e Elizabeth de York terem tido um casamento considerado amoroso e feliz para os padrões da época, mas sua mãe, Lady Margaret Beaufort (1441 ou 1443-1509).

Margaret Beaufort, interpretada pela atriz Marigold Sharman, é a figura feminina dominante em The Shadow of the Tower.  Basta você olhar para ela em cena e você tem certeza disso.  Beaufort, uma herdeira muito rica e estrategicamente importante, foi casada quatro vezes, mas só teve um filho, Henrique, quando tinha 13 ou 14 anos.  Eu prefiro acreditar que ela nasceu em 1443.  Há quem teorize que essa gravidez precoce a deixou incapaz de ter outros filhos, mas o fato é que ela é sócia do filho em seu projeto de poder.  Há historiadores ingleses que apontam que é muito provável que Margaret Beaufort tenha sido a mandante do assassinato dos príncipes da Torre, não seu filho, menos ainda Ricardo III.

Eu passei os olhos em The Shadow of the Tower e gostei muito do que vi.  Há os poréns, claro.  A produção parece ser mais pobre que Elizabeth R, que é uma produção histórica de primeira linha quando se trata de figurino.  The Shadow in the Tower não é tão fiel no quesito cabelo, vide Elizabeth de York (Norma West) na imagem do vídeo.  Na coroação, ou depois de ter tido seu filho, a rainha ter os cabelos soltos, era OK, no resto do tempo, não. Já os homens parecem usar mullets armados com laquê.  É uma escolha ruim.   Achei dois posts do Frock Clicks (*1 - 2*) sobre a série, mas não achei a parte 3.  Acho que elas não fizeram.

Agora, no geral, as atuações parecem excelentes.  James Maxwell como Henrique VII é arrebatador.  Acho que a série já vale por ele mesmo.  E Henrique apresentado como homem de família, filho que sempre ouve os conselhos da mãe, marido atento e grato, pai amoroso.  O luto dele ao perder o filho Arthur (1486-1502) e, mais no final do décimo terceiro episódio, a esposa são bem tocantes mesmo.

E a série acerta ao colocar Catarina de Aragão (Adrienne Byrne) ruiva e, quando ela chega, ela conversa em latim com os ingleses, como foi de fato, o problema são as legendas, porque nem sempre há quem venha traduzir.  E eles acertam ao abraçar a versão de Catarina de Aragão (1485–1536), a de que o casamento dela com o Príncipe Arthur (Jason Kemp) nunca foi consumado e, não, a história contada por Henrique VIII (1491-1547)muitos anos depois e que ele nunca teve coragem de jurar publicamente.  

E, se alguém não sabe por qual motivo eu tenho desprezo por The Spanish Princess, eis aí, o livro está aqui em casa faz anos, emprestei para uma aluna que gosta de séries históricas ano passado fazendo antes a ressalva.  Infelizmente, estão dando muito cartaz para a Philippa Gregory esses dias, qualquer coisa que ela tenha escrito periga virar seriado, pensei que essa desgraça tinha sido enterrada anos atrás com The Other Boleyn Girl. E quem cria as séries ainda faz essas atrocidades como Catarina de Aragão com armadura de grávida.  Isso é uma bizarra, mas o Frock Flicks falou muito bem sobre isso.

Engraçado é que conforme eles progridem para o que realmente chamamos de moda da Era Tudor, as roupas das mulheres e os cabelos melhoram consideravelmente.  Talvez, por estarem usando parte do figurino das séries que vieram antes.  Tentarei assistir o seriado e resenhar no futuro.  Há tanta coisa que assisti e não comentei... A série está toda no Youtube, para quem quiser.  Ah, detalhe curioso, o ator que faz Henrique VIII é mais velho que a atriz que faz sua mãe.  James Maxwell era de 1929 e Marigold Sharman de 1933.

2 pessoas comentaram:

Bem que podiam fazer uma série sobre mulheres meio apagadas na era Tudor, como a própria Mary I, as irmãs Grey, Katherine e Mary Grey perseguidas por Elizabeth I, ou até sobre Arbella Stewart (mais ai já não é mais era Tudor rs.

Assisti ao filme The Other Boleyn Girl já há um bom tempo e achei horroroso.

Conheci a Ana Bolena por The Tudors. Sei que há muitos problemas na série, que pouca coisa se salva dali, mas uma dessas coisas é a representação que fizeram dela. A Natalie Dormer estava espetacular no papel. Havia muita química entre ela e o Jonathan Rhys Meyers e você realmente acredita que o Henrique VIII, por mais que tivesse outras razões, seria capaz de romper várias normas para ficar com ela por estar perdidamente apaixonado. A audiência da temporada seguinte à decapitação da personagem parece ter caído, e não acho que seja pela piora do roteiro, mas porque a personagem foi muito apaixonante e não conseguiram emplacar as outras esposas como suficientemente interessantes. Eu terminei a série convencido de que ela foi o grande amor da vida dele, por ser uma mulher linda, sensual, inteligente por saber manter a atenção dele estando grávida... Além de conseguir manipulá-lo até certo grau quando percebe que ele está perdendo interesse nela. Fora que ela tem sangue quente e não é muito de levar desaforo para casa. Se não me engano, a Jane Seymour é colocada na série como a única esposa que ele realmente amou, mas ninguém ficou muito convencido depois do furacão que foi a Ana nas temporadas anteriores.

Daí você imagina minha decepção vendo a "versão" da Philippa Gregory. Pelo que me lembro do longa, toda a questão é colocada de forma bem rasa e moralista. Pareceu-me que o filme a estava colocando como a "vilã" que pagou por todo o mal que fez.

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