quarta-feira, 5 de maio de 2021

As muitas tragédias do início de maio. Quantas mães ainda terão que chorar?

Ontem foi um dia triste e trágico, para além dos três mil mortos que se tornaram usuais, que a pouca gente parecem incomodar, e eu não queria fazer post sobre nada disso, mas é necessário, enfim.  Comecemos por mais um atentado em uma escola.  Um adolescente de 18 anos, estou usando o termo para marcar a juventude do criminoso, invadiu uma creche na cidade de Saudades no interior de Santa Catarina.  Portando explosivos de pequeno impacto e duas armas brancas, uma delas foi anunciada como um facão, mas já se fala que era uma katana, uma espada japonesa, ele matou três bebês (Sarah Luiza Mahle Sehn, de 1 ano e 7 meses, Murilo Massing, de 1 ano e 9 meses e Anna Bela Fernandes de Barros, de 1 ano e 8 meses), uma professora de 30 anos (Keli Adriane Aniecevski) e uma agente de educação de 20 anos (Mirla Renner).  Um bebê sobreviveu e está internado.

A desgraça só não foi maior, porque as outras professoras e funcionárias conseguiram fechar as portas e impediram que o sujeito multiplicasse as suas vítimas.  O rapaz ainda tentou fugir, ou tirar sua vida, mas foi impedido por bombeiros.  Segundo eles, a primeira coisa que o assassino falou na ambulância foi um pedido de confirmação de que teria cometido cinco homicídios.  "Sua maior preocupação era quantas pessoas havia conseguido matar, demonstrando seu desprezo pela vida humana e a sua incapacidade de retornar, ao menos neste momento inicial e mediante as informações coletadas, ao convívio da sociedade, o que demanda seu encarceramento cautelar." (Caio Lemgruber Taborda, juiz da Comarca de Pinhalzinho) Imaginem o trauma da cidade que tem menos de 10 mil habitantes, sem delegacia, ou hospital próprio, e uma taxa de criminalidade de quase zero.

Eu me recuso a escrever o nome do assassino, suas motivações, sejam quais forem, não podem ser consideradas como mínima justificativa para um ato de violência como esse.  Eu já escrevi aqui que uma das coisas que esse tipo de celerado busca é a fama, nem que seja póstuma, por mim, esse tipo de criminoso deveria ser sepultado em túmulo anônimo, seu nome nunca enunciado na TV, ou escrito em matérias de jornal.  Felizmente, o criminoso da vez está morto e é maior de idade, o que quer dizer que terá que assumir uma pena pesada pelos crimes que cometeu.  A tragédia de Santa Catarina ainda não está esclarecida, ainda ouviremos bastante sobre o criminoso.  Ele tinha 11 mil reais guardados em casa.  Meu marido prontamente disse "Ele pretendia comprar uma arma.  Ainda veremos algum massacre com AR15, ou similares, em breve."  Sim, é possível.

Espero realmente que ele tenha sua vida devassada, porque talvez esteja ligado a algum grupo na deep web, e que seja exposto um problema de nossos dias, que é pessoas morarem dentro da mesma casa, filhos adolescentes, e os pais não terem ideia do que esse menino, porque normalmente é do sexo masculino, e mesmo quando adulto é dependente economicamente desses outros adultos, anda fazendo na internet.  Lendo as notícias, lendo mais sobre as vítimas, olhei para a jovem de vinte anos e pensei que ela poderia ser minha filha.  Pensei nos pais dela, perderam sua única filha, como a minha, uma menina esforçada e com um futuro promissor.  Pensei nos pais das criancinhas, pouco mais jovens que a minha sobrinha.  Imagino as mães nesse próximo domingo com seus braços vazios.  Na professora que foi a primeira atacada, talvez tenha deixado filhos, com certeza, deixou sonhos.  Eu estou fazendo ilações, admito, mas quem invade uma creche quer matar mulheres.  Todas as matérias falam da ação das professoras e funcionárias em proteger as crianças.  Se houvesse um homem envolvido, estaria tudo no masculino.

A outra desgraça do dia foi a morte de Paulo Gustavo, um dos mais brilhantes artistas de sua geração, de COVID-19, aos 42 anos.  Confesso que esperava esse desfecho, mas isso não me deixou menos triste.  O artista dias antes de ser internado tinha postado o seguinte "CADE A VACINA MEU DEUS? Se liga na aglomeração gente! Sair de casa apenas quem precisa TRABALHAR!".  Ele estava se cuidando, ele estava ajudando gente durante a pandemia.  Mesmo com todos os recursos possíveis, a doença o levou.  A morte de Paulo Gustavo veio no dia do início da CPI da COVID-19 na qual o ex-ministro Mandetta disse que o presidente recusou-se ONZE VEZES a comprar vacinas.  ONZE.

Eis que a morte de Paulo Gustavo gerou grande comoção, várias autoridades e políticos se pronunciaram, e o que o presidente fez?  Soltou uma nota capenga lamentando sua morte.  Ele que disse não ser coveiro e nada a fazer, expressou solidariedade pela morte do humorista que representava tudo o que os "conservadores" aliados do presidente abominam, era gay, casado e pai de dois filhos.  Era, também, um dos artistas mais amados do Brasil, inclusive por gente que (supostamente) abominaria sua orientação sexual e estilo de vida.  

Ao que parece, a manifestação do presidente pareceu hipócrita e gerou grande indignação.  Eu diria justa indignação, hoje mesmo, ele já estava agindo como se a COVID nada fosse e mandando o povo para a rua.  Mas espero que a agonia de Paulo Gustavo tenha dado um clique na cabeça de alguns.  Uma pessoa jovem e saudável e que estava se resguardando pode contrair a doença e morrer.  Se a doença escalar, mesmo com todo o dinheiro do mundo, talvez você não se salve.  Precisamos urgentemente de vacinas e de isolamento social.

Eu lamento muito a perda de Paulo Gustavo.  Estava assistindo uma série com ele no Globoplay chamada Além da Ilha.  Aqui, no Shoujo Café, tenho resenha de três filmes com ele, se não perdi algum, Minha Mãe é Uma PeçaMinha Mãe é Uma Peça 2, nas quais ele interpretava a sua grande personagem, Dona Hermínia, homenageando sua própria mãe, e  Minha Vida em Marte.  Confesso que nem sempre me agradava do humor dele, mas que o ator era irresistível.  Assisti Minha Mãe é uma Peça 3, mas de forma fragmentada.  Talvez, fosse hora de rever e resenhar, ou mesmo o Além da Ilha, no qual a personagem de Paulo Gustavo ganha na loteria e acaba se perdendo com uns amigos e indo parar em uma ilha misteriosa.

Mas não acabou.  Quase passou despercebido, mas ontem morreu, também de COVID, a mulher que recebeu o coração da menina Eloá, morta em 2008 pelo ex-namorado, porque a polícia não fez direito o seu trabalho, talvez por interferência do governador de São Paulo à época, José Serra.  Enfim,  Maria Augusta da Silva dos Anjos, de 51 anos, não resistiu à complicações da doença.  Quantos mais terão que morrer?  Quantos mais?  Anônimos e famosos.  Velhos, jovens, crianças.  Gente que se resguardou, cuidou de si e dos outros, e gente que se lançou na vida louca estimulada pelo presidente e outras autoridades por aí.  Quantos mais?  Se a vacina viesse na hora certa, talvez, muitas dessas mortes poderiam ser evitadas.  E deixo abaixo um vídeo com Paulo Gustavo par ao programa 220 volts falando da pandemia e como sobreviver a ela.  Eu não chorei quando vi a notícia da morte, como disse, já estava preparada para ela fazia semanas, mas esse vídeo me destroçou.


P.S.: Depois de terminar o texto, na verdade, agora pela manhã (06/05), vi que o delegado já começou a rastrear elos entre o assassino da creche e Suzano.  Os assassinos da escola paulista se tornaram celebridades e eu linkei meu texto do ano passado em que falo desse culto aos assassinos e o que acho deveria ser feito.  Pois bem, outra teoria da polícia é que a escolha da creche se deveu ao fato de ser de fácil acesso e de outras escolas estarem fechadas, ou com efetivo de alunos reduzido, por causa da pandemia.  Sabe-se, também, que ele escolheu atacar na hora do almoço dos bebês, quando estariam todos no refeitório, mas o almoço atrasou e muitas vidas podem ter sido salvas.  Colegas do assassino, gente que estudou com ele, comentam que ele tinha prazer em torturar animais.  E, repito, eram mulheres e bebês. É horrível, enfim.  Outra coisa, Realengo completou DEZ ANOS, isso pode estar também ligado a esse ataque e outros que possam vir.

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