quinta-feira, 6 de maio de 2021

200 Anos de Napoleão Bonaparte e alguns mangás que falaram dele

Ontem, 5 de maio, foi aniversário de 200 anos da morte de Napoleão Bonaparte (1769-1821).   Napoleão nasceu na Córsega, foi enviado para a França aos nove anos, entrou na academia militar aos dez.  Quando explodiu a Revolução Francesa tinha seus vinte anos e era tenente de artilharia.  Napoleão adere à revolução, mas percebe quando mudar de lado, afastando-se dos jacobinos.  General aos 26 anos por mérito em um momento no qual a França estava sob ataque de potências estrangeiras, admirado por seus soldados, conhece Josephine, uma viúva da guilhotina, mais velha que ele e muito bem relacionada politicamente.  A esposa lhe apresenta as pessoas certas e Napoleão termina chegando ao governo com o Golpe de 18 de Brumário, em 9 de novembro de 1799, apoiado pela alta burguesia e pelo Exército.  

Como  cônsul, junto com outros dois companheiros, promoveu uma série de reforças que ajudaram a moldar o que é a França hoje, confirmou os direitos de propriedade da terra dos camponeses (*um dos grupos que mais passou a apoiá-lo*), fez as pazes com a Igreja Católica nas condições que bem desejou, derrotou os inimigos em terra, não conseguiu dobrar a Inglaterra nos mares, mas tentou, também, restaurar a escravidão nas colônias.  Tropas napoleônicas demoraram a ser derrotadas na França, mas levaram um pau no Haiti.  Nosso código civil deriva do Código Napoleônico, uma releitura racionalizada do direito romano que retirou muitos direitos das mulheres, para elas foi um retrocesso, além de ter reforçado o poder do pai sobre seus filhos, mesmo maiores de idade (25 anos).

Em 1804, Napoleão decide ser imperador e perde parte da sua fanbase, dentre eles, Beethoven (*acima no traço de Naoki Urasawa*), que tinha composto sua terceira sinfonia, a Eroica, em honra dele.  Em 1806, obrigou o derrotado Sacro Império Romano a se dissolver, o que alguns historiadores veem como as sementes tanto da unificação da Alemanha, quanto da 1ª Guerra Mundial.  Conseguiu com isso desagradar a Prússia, que estava neutra, porque a liga de nações alemães que se formou permaneceu independente.  Durante o império, Napoleão começou a se preocupar com sua descendência.  Josephine (*imagem abaixo*) não lhe deu filhos, ele tinha pelo menos um bastardo, decidiu se livrar dela e casar-se com uma das filhas do imperador da Áustria.  Ameaçou bombardear Viena por uma noiva e casou-se com a irmã mais velha da futura Imperatriz Leopoldina, Maria Luísa, que lhe deu o seu desejado herdeiro.  

Como imperador, Napoleão comete erros, ninguém vai me fazer dizer que não.  Um deles, o Bloqueio Continental.  O objetivo era quebrar a Inglaterra e impulsionar a indústria francesa, não deu certo.  Os ingleses apreenderam navios franceses e de aliados, fizeram contrabando e aliados da França começaram a reclamar dos problemas que estavam sofrendo.  Outro erro, foi invadir a Península Ibérica, quando já tinha os espanhóis como aliados.  A guerra na região estendeu-se por anos, rendeu excelentes pinturas e desenhos de Goya, e obrigou a Família Real Portuguesa a partir para o Brasil.  Era isso, ou perder a colônia mais importante.  Não penso em D. João como um covarde, mas como um sujeito prático que jogou com Inglaterra e França o quanto pode e levou a melhor.  

Por fim, quando a Rússia perdeu a paciência por causa do bloqueio continental, montou um exército gigantesco e invadiu o país.  Erro, erro muito grande!  Os russos usaram a tática de terra arrasada, atacaram os suprimentos dos franceses e esperaram o inverno e ele veio e Napoleão não conseguiu ganho nenhum.  Fora isso, perdeu o apoio dos camponeses, maior grupo social da França, que passaram a ir para as guerras depois da Revolução Francesa.  Seus filhos foram para a guerra e não voltaram, a culpa foi de Napoleão.  Veio a primeira derrota, em 1814, e o primeiro exílio na ilha de Elba, bem perto da França, com direito a uma corte e recebendo as notícias que vinham do país, inclusive a insatisfação com a restauração do absolutismo.  Decidiu tentar a sorte e fugiu para a França, montou um exército e o chamado governo dos Cem Dias.  Foi derrotado definitivamente em 1815 na batalha de Waterloo, o que nos deu a maravilhosa música do ABBA (*e no clipe no final do primeiro Mamma Mia!*), e foi mandado para um exílio bem duro em Santa Helena, na costa da África e muito longe da França.  

Segundo se conta, a última palavra que disse antes de morrer foi o nome da primeira esposa, Josephine.  O resumo ficou grande, eu sei, e acredito que todo mundo já tenha ouvido falar dele, mesmo que tenha sido somente em uma piada, ou desenho animado.  As representações de Napoleão nas animações norte-americanas, que eu me lembre, normalmente são de deboche.  Não lembro de ter assistido nada que fosse mais realista, é sempre a aquela coisa do baixinho, que ele não era, ridículo e com ego enorme.  Eu conheci Napoleão, antes mesmo de estudar na escola, por um filme chamado Desirée, o Amor de Napoleão (1954), exibido na Sessão da Tarde.

Nesse filme, o foco é na primeira noiva de Napoleão, Desirée Clary (Jean Simmons) que teria sido abandonada por ele por um casamento politicamente vantajoso com Josephine (Merle Oberon).  Desirée se tornou, mais tarde, rainha da Suécia. Sim, ela fez um casamentobem vantajoso, também.  Já Napoleão tinha a embalagem de Marlon Brando quando ele estava no auge da sua beleza e sexy appeal.  Neste filme, Napoleão nunca amou Josephine e nunca superou sua paixão por Desirée.

Pois bem, fui tentar rastrear as representações de Napoleão nos mangás. Achei menos do que esperava.  Falo de mangás sobre ele, ou nos quais ele tenha papel fundamental.  Certamente, perdi muita coisa, mas foi o que eu consegui.  Napoleão deve aparecer em muitos mangás, começando pela Rosa de Versalhes (ベルサイユのばら), quando Oscar conhece o jovem Napoleão e prevê que ele terá um futuro brilhante.  Sem largar Riyoko Ikeda, ela fez um mangá biográfico sobre Napoleão chamado Eikou no Napoleon ~Eroica ~The Glory of Napoleon (栄光のナポレオン - エロイカ) publicado entre maio de 1986 e janeiro de 1995.  A série tem 14 volumes no original e foi republicada em uma versão bunko com 12 volumes.  Não sei se houve outras edições.  

Eikou no Napoleon segue a vida de Napoleão a partir da reação termidoriana de 1794, quando os jacobinos são derrubados do poder, e conta com a participação de personagens da Rosa de Versalhes, como Rosalie, Bernard e Alain.  É um mangá de Riyoko Ikeda que eu não tenho em casa.  Foi publicado na Itália, mas já era época de Real desvalorizado e eu não comprei.  Gostaria de ter esse mangá na minha coleção, ainda que já seja o traço de Ikeda que não me agrada muito.  Detalhe, este mangá foi publicado em uma revista feminina chamada Fujin Koron, cuja primeira edição saiu em 1916 e continuou sendo publicada de forma irregular, mas, ao que parece, até o século XXI.

Ainda nos mangás femininos, temos Bara no Josephine (薔薇のジョゼフィーヌ) de Ochiai Kaoru (roteiro) e Yumiko Igarashi.  A série tem quatro volumes e foi publicada na revista Princess Gold, que era o templo dos mangás históricos, em 2011.  Como é uma biografia de Josephine, tem que ter Napoleão.  O mangá foi publicado na França e está saindo na Itália neste momento, eu acho. 


Para quem reconheceu o nome Yumiko Igarashi, ela é a desenhista de CandyCandy (キャンディ♥キャンディ).  Nas capas e em algfuns quadros, Josephine parece com todas as meninas louras que ela desenhou na vida, especialmente, Georgie.  E Joséphine não era loura, não vejo sentido nessas ilustrações de uma personagem histórica super conhecida com o cabelo com a cor trocada.

Saindo do shoujo e josei mangá, encontrei três séries.  Marengo ~Napoleon ga Aishita Uma~ (MARENGO ナポレオンが愛した馬) de 2004, foi publicada na revista Super Jump  com dois volumes.  Pelo resumo que achei da série de Hiromi Yamasaki, o protagonista da história é um garoto egípcio que acompanha Napoleão depois da passagem dele pelo seu país.  O menino apareceria em um quadro real, não descobri qual quadro e seu nome seria Marengo.  Eu pensei que o mangá seria sobre a Batalha de Marengo na Itália, quando Napoleão derrota os austríacos.  E na única imagem boa que achei de mangá, Napoleão  ficou lindo, mas o menino protagonista parece ser genérico.

Outro mangá, e esse parece que muito importante, porque está junto com o de Ikeda no verbete japonês da Wikipedia sobre Napoleão é  Napoleon ~Shishi no Jidai~ (ナポレオン 獅子の時代) de Tetsuya Hasegawa.  A série, pelo que eu entendi, mostra a ascensão de Napoleão, chamado no título de "leão".  O verbete da Wikipedia desta série, diz que o autor usou um estilo de arte que lembrava o de Hokuto no Ken  (北斗の拳) e bebia diretamente na série de Riyoko Ikeda a ponto de apresentar sequências e acontecimentos que foram inventados por ela para o seu mangá, ou seja, não era vida de Napoleão.  Resumindo, parece que ele usou Riyoko Ikeda como sua fonte histórica.  A imagem acima, deve ser de Robespierre por causa da casaca listrada.

Shishi no Jidai teve 16 volumes e foi publicado entre 2003 e 2011 na revista  Young King Ours.   E essa série tem uma continuação em andamento chamada Napoleon ~Hadou Shingeki~ (ナポレオン~覇道進撃), que continua a história de Napoleão a partir de 1800 e já tem 20 volumes, ou seja, o cara gastou 16 volumes de mangá contando a trajetória de Napoleão até o início do Consulado.  Eu estou perplexa.  Eu já vi imagens desses mangás do Hasegawa e ele tem aquele visual bem modernoso, incorporando elementos contemporâneos à indumentária da época, enfim, é visualmente interessante. Abaixo, outro Robespierre.

Enfim, se você conhece outro mangá sobre Napoleão, ou que o tenha como personagem relevante e quiser colocar nos comentários, eu agradeço. 

3 pessoas comentaram:

Tenho uns poucos, muito poucos, volumes desse mangá de Napoleão que saíram na França. A arte é Hokuto no Ken total! O desenhista foi assistente do Tetsuo Hara.

E, sim, a figura marombada de óculos escuros é realmente o Rebespierre.

KKK sanditon foi renovada e agora tão prometendo (ameaçando o público) com uma terceira temporada
https://www.themarysue.com/jane-austen-adaptation-sanditon-renewed-for-a-second-and-third-season/amp/

fico tão feliz que você continue atualizando esse blog maravilhoso há anos!

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