sábado, 3 de dezembro de 2022

Comentando 200 M Saki no Netsu: Um início promissor para um mangá cujas personagens se comunicam muito mal

Estava passando pelo Bato-to e vi a recomendação do mangá 200 M Saki no Netsu.  A protagonista com dois sujeitos e havia a tag "smut" (obsceno, lascivo) e fui ver qual era a do mangá.  Quando olhei o nome da autora,  Toumori Miyoshi, de Akuma to Love Song (悪魔とラブソング), já imaginei que essa tag estava errada, trata-se de uma autora de shoujo que não costuma enveredar por essa seara. Há sexo no mangá?  Há, sim, mas não colocarei NSFW, apesar de acreditar que é material para maiores de 16 anos, que deve ser, aliás, a média de idade do público da revista Cookie, a mesma que publicou Nana.   Enfim, não se trata de um mangá novo, ele já vai no seu 6 volume, mas só temos (*em inglês*), três capítulos em scanlations, enquanto escrevia este texto, saiu o 4.  O resumo oficial da série é o seguinte:

Kikka Tsumugu (28 anos) mora sozinha no 2º andar de um prédio de apartamentos. Kikka trabalha como "wasai" (fabricante tradicional de roupas japonesas) em casa, trabalho contratado por Mashimo, seu ex-namorado do colégio. Um dia, Kikka foi selecionada para ser membro do conselho do complexo de apartamentos em que ela mora e conhece um colega residente chamada Hirara...!? Mashimo mora a 200 metros da casa de Kikka e Hirara mora 200 metros acima. O triângulo amoroso vertical e horizontal começou!

Comecemos pela mocinha, Kikka é tímida, extremamente doce e solitária.  Seus pais morreram cedo e ela herdou o apartamento deles, antes, ela era vizinha de muro de Mashimo.  Ela optou por não ir para a universidade e cursou uma escola profissionalizante capacitando-se como artesão de kimonos.  Ela é muito competente em sua arte e vive de forma bem confortável.  Kikka mal sai de casa e Mashimo, que a estimula (*na verdade, meio que exige*) a sair e fazer mais cursos de capacitação, a chama de hikikomori.  São considerados hikikomori, pessoas que se mantém em casa por mais de seis meses sem estarem se dedicando ao cuidado com crianças ou atividades domésticas, mesmo sem estar doentes.  Bem, não sei se Kikka pode ser qualificada como tal, afinal, ela trabalha em casa, fora isso, ela se sustenta e se mantém saudável física e mentalmente.

Além de trabalhar, Kikka assiste vídeos de cachorrinhos para alegrar seu dia.  É verdade que a ligação de Kikka com o mundo é Mashimo, funcionário da empresa que compra seus kimonos.  Por acaso, ele foi seu colega de colégio, seu primeiro namorado e com quem teve uma traumática primeira vez.  A lembrança dessa relação sexual pouco compensatória volta a mente da moça constantemente.  Os dois eram namoradinhos, ela não estava preparada, tudo começou por iniciativa dele (*que estava munido de uma camisinha*), mas em dado momento, o rapaz para e sai correndo.  A partir daí, Mashimo passa a evitar Kikka, que fica sem entender nada, só reaparecendo dez anos depois para contratar seus serviços.

Mashimo reaparece bem sucedido, seguro de si e vive cercado de mulheres bonitas.  Ele é muito ambicioso e pressiona Kikka para que ela se qualifique mais e saia da sua bolha, fazendo inclusive pouco caso dele.  Na verdade, e isso se comprova no capítulo 4, ele parece desejar reatar com a moça, mas quer moldá-la ao seu gosto.  Do jeito que está, ela não lhe serve, ou essa é a mensagem que ele passa.  Mashimo acredita que Kikka e ele irão se entender e que a moça nunca terá uma opção melhor. Uma amiga fez uma comparação com o Gaston de A Bela e a Fera e eu acho que é por aí mesmo. Ele planejou milimetricamente sua vida profissional, pretende casar até os 30 anos de idade, já escolheu inclusive a escola particular de elite que seus futuros filhos irão frequentar.  E Kikka nada sabe sobre seus sentimentos, ainda que ele lhe conte seus planos.

Um dia, Kikka conhece um vizinho e pensa que se trata de um adolescente.  Kikka fica fascinada pela beleza do sujeito e quase cai para trás ao descobrir que ele tem 38 anos. Ele parece amaldiçoado pela eterna juventude.  E a autora, não sei por qual motivo, a autora investe na linha do "ele é muito velho para mim", fazendo com que Kikka se encolha e imagine que não pode sequer sonhar com o sujeito.  Só que sonha e o acha fofinho como os cachorrinhos dos vídeos que assiste.  Acho que as capas do mangá trazem um gato e um cachorro às vezes, porque Mashimo é o gato preto (*arisco*), enquanto Hirara é o golden retriever (*ou seja, um cachorrão bonito e dócil*)

Hirara, é um famoso compositor de trilhas sonoras e tão recluso quanto Kikka.  Sabemso somente isso sobre ele e que, claro, ele mora no apartamento mais caro do complexo, a cobertura.  Ambos se aproximam, porque são colocados à força no conselho do condomínio.  Sim, é à força mesmo, ninguém pergunta se o morador deseja e a coisa vem quase como uma intimidação.  Kikka começa a assistir filmes, séries e comerciais com músicas compostas por Hirara, fantasiar com ele e desejar que as reuniões mensais do conselho do condomínio cheguem rápido.

No fim das contas, Hirara e Kikka se beijam e o homem a convida para que sigam para seu apartamento.  Eles acabam quase transando, digo quase, porque ele descobre que ela é virgem, ou assim parece, e decide ir mais devagar.  Temos nossa mocinha mais uma vez frustrada em uma relação sexual, desta vez, uma que ela tinha desejado conscientemente.  Hirara parece não querer comprometê-la, ou tem medo de se envolver com uma mulher inexperiente, de tirar-lhe a virgindade e sugerir que deseja uma relação duradoura, o fato é que ele tenta animá-la e é gentil com ela, mas sexo não rola.  

Já Mashimo, vê os dois juntos no mercado e vê que Kikka não está sozinha como sempre e esperando (*na imaginação dele*) por um estalar de dedos dele.  O capítulo 4 é centrado nos delírios dele, nos planos de futuro que incluem a moça sem que ela seja consultada e de como ele decide tentar melar o que ele acredita ser o romance da moça com Hirara.  Enfim, já nesse comecinho de mangá, conhecemos muito de Kikka e Mashimo, mas de Hirara quase nada.  De qualquer forma, até o momento, é o vizinho da cobertura o melhor dos dois, resta saber como a protagonista irá crescer e transformar sua vida em algo mais satisfatório para ela.

Agora, o que eu realmente não entendo é esta ênfase da autora de que há uma diferença de idade (age gap) muito grande entre Kikka e Hirara.  Ambos são adultos, ele parece dormir no formol, e estão aptos a decidir com quem querem se relacionar.  Dez anos não é algo tão grande assim, aliás, é o que temos em Nigeru wa Haji da ga Yaku ni Tatsu (逃げるは恥だが役に立つ) e ninguém fica escandalizado.  Este tipo de preocupação deveria existir em materiais que tratam de relações amorosas/sexuais entre adolescentes e adultos, mas não é o caso, Kikka é uma mulher adulta. E mais, um homem controlador e machista de 28 anos não é melhor do que um cara legal (*até o momento*) de 38 anos. É o único porém que eu tenho com o mangá até o momento.

Como só encontrei quatro capítulos em inglês, não tenho muito mais o que dizer.  Tomando pelo início, não imaginei que essa história pudesse render tanto, seis volumes até o momento.  É material que tem potencial para virar dorama e não me espantaria com um anúncio futuro.  A  série tem algum  conteúdo sexual e a autora desenha muito bem, então, é preciso ter cuidado com isso.  Os mangás da autora para a Margaret eram bem menos gráficos.  De resto, recomendo 200 M Saki no Netsu e quero ler mais.

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