Sábado passado, assisti Homem-Aranha: Através do Aranhaverso (Spider-Man: Across the Spider-Verse) com a minha filha. Como gostamos muito do primeiro filme (*resenha*), era uma ida ao cinema planejada com grande antecedência. O filme, claro, foi ótimo, não tanto quanto o primeiro, e explicarei por qual motivo escrevi isso em algum momento do meu texto, mas a experiência de assistir uma película que mistura com tanta competência vários estilos de animação, quadrinhos e o cinema live action é realmente fascinante. E temos de volta algumas das personagens queridas do primeiro filme, Miles Morales, claro, Spider-Gwen e Peter Parker, além de uma miríade de outros Homens e Mulheres Aranha. Minha maior frustração (*segunda maior, na verdade*) é não ter visto a Princesa Aranha (Spinstress) no meio da multidão. Vamos para uma pífia tentativa de resumo:
O novo filme começa na Terra-65 e vemos a solidão de Gwen, a Mulher-Aranha daquele universo. Em um confronto com um inimigo que ela sabe vir de outro universo, ela acaba tendo que se revelar para seu pai, um capitão de polícia, linha dura, que acredita que a personagem seja uma criminosa, e encontra com outros aranhas, que ela não conhecia, mas que são uma equipe que tenta controlar anomalias que podem causar instabilidade no Aranhaverso.
Voltamos para a Terra-1610, 16 meses depois do primeiro filme, e encontramos Miles Morales tentando conciliar sua vida como super-herói e uma família super protetora e intrusiva (*sim, pais MUITO chatos mesmo, ainda que eu possa entender as preocupações deles*). Um novo vilão o confronta, alguém que adquiriu seus poderes (*e perdeu sua identidade*) graças a um acidente causado por Miles. O novo inimigo parece ridículo, mas, ao longo do filme, será mostrado que ele pode ser um elemento extremamente perigoso e vingativo.
Enfim, Miles se sente solitário, pressionado e sente saudades de Gwen. Para matar as saudades, ele a desenha compulsivamente em um caderno de várias maneiras possíveis, mas sempre com muito carinho. E eis que Gwen desvia de uma missão e reaparece na sua vida. Ela não deveria ir ao encontro dele, mas a moça o vê como seu único amigo. Por causa desse encontro, ele acaba seguindo a moça para o quartel general da liga dos aranhas, um grupo liderado por Miguel O'Hara, o Homem Aranha do ano 2099, que tem como função controlar anomalias no multiverso.
Lá, Miles acaba compreendendo um pouco mais da sua situação como Homem-Aranha e é informado por O'Hara que existem eventos canônicos na vida de todos os homens-aranha, pontos que são inevitáveis como a morte do Tio Ben, da namorada (*Gwen Stacy, normalmente, mas pode ser Peter Parker, no caso de Spider-Gwen*) e a morte do capitão da polícia... Oh, Miles acaba descobrindo que seu pai, prestes a ser promovido irá morrer! Ele então é confrontado por Miguel O'Hara com a verdade, ele deve aceitar o que está escrito, ou poderá provocar a destruição de sua Terra Natal e, talvez, de todo o Aranhaverso. Só que o rapaz não se conforma com isso e, bem, terá que ser impedido de interferir.
Quatro parágrafos de resumo. Em linhas gerais, não dei nenhum spoiler significativo. Acredito que tudo o que eu escrevi é coisa mais que sabida por quem está disposto a ver o filme. O drama de Miles, seja como adolescente, seja como super-herói, é muito clichê e, ao mesmo tempo, quando bem contada pode ser muito tocante e foi, acreditem. Outro clichê está na construção de Miguel O'Hara, ele é uma personagem tipo, o cara endurecido por uma grande tragédia, que toma para si o dever de impedir que outros cometam os erros que ele mesmo cometeu, usando de todos os meios possíveis, mesmo os mais violentos. Sua função é fazer com que a lei seja cumprida, neste caso, assegurar que os eventos canônicos do Aranhaverso se concretizem em cada uma das suas Terras.
O que Miles acaba descobrindo, algo muito doloroso, e pode ser interpretado como um spoiler grande, por isso, pode pular este parágrafo. Não pulou? OK, ele é um erro, ele não deveria ser o Homem Aranha da Terra-65, ele não deveria ter sido picado, a aranha deveria ter ido para outra Terra que, por conta dessa confusão, não tem o seu super-herói. Miguel também o culpa pela morte do Peter Parker da Terra-65, porque não é possível existir dois Cabeça de Teia no mesmo universo. OK... Eu aposto que O'Hara está errado, ou mentindo mesmo.
A relação entre Gwen e Miles ganha um novo tom neste filme. Ele está apaixonado por ela, ela é sua Gwen, ou assim ele acredita, por isso mesmo, o medo de que aconteça um evento canônico aqui. Já ela, bem, eu acredito que goste dele não somente como amigo, seu único amigo, mas não sei o quanto vão investir nisso no próximo filme. Algo que é levantado pelos pais de Miles é o fato dela ser mais velha que ele. Se Miles tem 16 e Gwen se formou no colegial, ela tem pelo menos 19. Dentro das convenções de gênero, ou os dois têm a mesma idade, ou o rapaz é mais velho, nos Estados Unidos, pesaria o fato dele ser menor de idade e ela ser maior. Os pais de Miles a veem como uma possível má influência.
Do filme anterior, temos de volta o Peter Parker original, agora, menos largado, mais feliz e com uma filhinha com poderes de aranha. A menininha aparece nos trailers, não é um spoiler. Penny aparece, também, mas é coisa rápida. Dos novos aranhas relevantes, para além de Miguel O'Hara, temos: O Lego-Aranha, como alívio cômico, e para vender brinquedos. Temos Jessica Drew, a Mulher-Aranha que se torna mentora e Gwen e está grávida, algo notável, porque a gente conta nos dedos grávidas em animações e isso vale inclusive para os animes, ainda mais como uma personagem de ação.
Outro aranha, que causa inveja em Miles, porque foi chamado para a tal liga dos aranhas, é Pavitr Prabhakar é o Homen-Aranah indiano, que mora na cidade de Mumbattan ( Mumbai + Manhattan). E temos Hobart "Hobie" Brown, o Spider-Punk, que habita uma Terra com um governo autoritário, é anarquista e usa uma guitarra como arma. Ah, ele é um aranha muito legal, seja por sua incapacidade de se conformar, seja por ter o seu corpo particionado em vários estilos de animação para ilustrar bem isso. E Miles tem ciúmes dele, porque Gwen diz que participou de algumas batalhas com ele e dormiu na sua casa.
Que mais dizer? Temos muito mais diversidade no filme, personagens femininas ativas, coisa que já aparecia no primeiro Aranhaverso. O excesso de aranhas tem mais uma função cômica e ilustrativa do multiverso do que uma função real para o andamento da história. O centro do filme é o conflito entre o dever e o querer, a razão e o coração e, claro, fica em aberto se efetivamente os eventos canônicos são incontornáveis. E eu escrevi "em aberto", porque o filme foi partido em duas partes. Temos um encaminhamento na última meia hora do filme, que é muito longo, para uma tensão que não redunda em um final clássico aberto, mas um gancho mesmo. Eu não gostei disso.
Eu tinha lido que o filme era em duas partes, mas eu apaguei da minha cabeça, por isso mesmo, só percebi o que estava acontecendo quando o filme estava nos últimos minutos. Bem, complicado isso, porque é uma decisão meramente comercial. Poderíamos ter um fechamento para esse filme e uma cena pós-créditos apontando para uma continuação que fechasse pontas soltas. A escolha me pareceu mais comercial do que necessidade artística mesmo. Cinema é indústria, busca lucro, mas me pergunto se era necessário, porque renderia rios de dinheiro de qualquer jeito.
Aliás, se o filme tem cenas pós-créditos, não vi, porque minha filha estava dizendo que queria ir ao banheiro fazia um bom tempo. O filme poderia ser mais compacto e não foi. Claro que pesou nesse desconforto o fato de eu estar em um cinema que deveria ser melhor que os que eu costumo ir da rede Kinoplex, mas não era. Fui assistir no Cinemark do Shopping Iguatemi (DF), fazia muito tempo que não ia lá, desde que Júlia tinha dois meses em uma sessão do Cine Materna. Diferentemente do Cinemar do Pier 21 (DF), ou do Botafogo Praia Shopping, este tinha cadeiras pouco confortáveis e não tinha almofadas para as crianças. Como não frequento o Cinemark faz anos, qualquer um, não sei se eles agora têm salas de qualidade inferior e as especiais, se for assim, é lamentável. Aliás, mesmo para uma sessão de sábado, a sala estava somente meio cheia, a sala quase congelante. Deveria ter ido no Kinoplex mesmo, porque nem foi tão mais perto.
A experiência física desconfortável pode ter impactado, com certeza, o fez, a minha percepção do tamanho do filme. De qualquer forma, para além da mistura de estilos de animação com quadrinhos e cinema live action, achei muito legal a inserção nas linhas do Aranhaverso de cenas dos filmes com Tobbey Maguire e Andrew Garfield, de pedaços dos quadrinhos, inclusive dos primeiros, além de uma menção ao Homem-Aranha de Tom Holland e o Doutor Estranho. Imagino que não houve cenas dos filmes dele por causa dos rolos entre Sony e Disney. De qualquer forma, essa parte com as ceninhas foi muito legal mesmo.
É isso. A segunda parte do filme está prevista para março do ano que vem segundo me informaram. Não teremos que esperar anos, ainda bem, de qualquer forma, reforço que a escolha de partir o filme foi ruim, fruto da ganância mesmo, porque seria possível resolver de outras formas. Minha filha falou de como seria legal ter uma série sobre os aranhas do Multiverso, a introdução, com a história de Gwen, seria um episódio perfeito.
De resto, eu não tenho como avaliar a dublagem, talvez, mais tarde, tente assistir com o som original, mas a única coisa que me pareceu estranha, porque não me lembro de ter ouvido no primeiro filme, foi chamaram Gwen de Gwanda, ou algo assim. É do quadrinho? Isso existe? No Box Office Mojo não apareceu ainda a bilheteria brasileira, mas há site brasileiro que já publicou, ficou em primeiro lugar, claro, e não sei se Transformers vai destroná-lo esta semana.
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