domingo, 10 de dezembro de 2023

K-drama: As mulheres estão ultrapassando limites na TV (Artigo parcialmente traduzido)

Abri a BBC e havia um artigo intitulado K-drama: The women pushing boundaries on TV.  Segui a leitura e estava falando da influência do shoujo mangá nos primeiros doramas.  Eu coloquei uma imagem da atriz Uhm Jung-hwa no início do texto, porque a matéria da BBC abria com um vídeo.  A foto em destaque aparecia mais adiante no texto. Segue a tradução, depois eu retorno:

"Muitas séries de televisão coreanas - ou K-dramas - agora apresentam personagens femininas complexas e poderosas, refletindo mudanças importantes na sociedade e nos hábitos da mídia.

A atriz e cantora Uhm Jung-hwa foi chamada de "Madonna da Coreia".

Os K-dramas agora têm a mesma probabilidade de ter protagonistas femininos e masculinos. Um dos maiores sucessos deste ano, The Glory, era sobre uma mulher se vingando de seus agressores, e o imensamente popular Advogado Extraordinário Woo apresentava uma advogada autista.

Os papéis das mulheres no drama K nem sempre foram tão interessantes. Tradicionalmente feitos para serem assistidos por toda a família, hoje em dia os programas contam até com cenas de sexo esporádicos - e tabus como relacionamentos bissexuais e pessoas mais velhas tendo vida amorosa estão sendo quebrados.

“Na década de 1990, os dramas coreanos tratavam principalmente de chaebol – herdeiros ricos – que amavam mulheres pobres”, diz Hong Eun-mi, vice-presidente da Associação de Roteiristas Coreanos.

Dramas como Boys Over Flowers, em que herdeiros ricos e mimados se apaixonavam por garotas corajosas da classe trabalhadora, eram típicos. O gênero era conhecido como "Candy girl" - em homenagem ao anime japonês Candy Candy, sobre uma menina órfã alegre e trabalhadora esperando que seu príncipe a surpreendesse.

Uma pintura de Candy Candy está pendurada em uma galeria de arte de Seul

“Esse não é o caso agora”, diz Hong. “A protagonista feminina mudou – ela é muito independente, tem um trabalho profissional e não se incomoda muito com o casamento.”

E mesmo que os dramas ainda amem personagens ricos e poderosos, agora elas também podem ser mulheres - como em Crash Landing On You, um enorme sucesso global sobre um romance implausível e transfronteiriço.

A atriz e cantora Uhm Jung-hwa, uma das mulheres mais poderosas do entretenimento coreano, diz que os holofotes raramente brilhavam sobre as mulheres nos anos 90, quando os “objetivos de vida das mulheres se resumiam a encontrar o homem perfeito”.

“Agora podemos ver muitas personagens femininas fortes abraçando a vida com ousadia em seus próprios termos, e me sinto abençoada e feliz por poder contar histórias de mulheres, mesmo na minha idade.”"

A arte de Candy Candy é muito marcante.

O título da matéria me chamou a atenção, mas o que me levou a traduzir essa parte foi a citação à Candy♡Candy  (キャンディ♡キャンディ) e Hana Yori Dango  (花より男子/Boys Over Flowers).  Me agradou?  Não e vou explicar.  A ideia da matéria é mostrar que os papéis das mulheres nos K-Dramas se tornaram mais plurais e que, agora, elas não tem como objetivo único se casar. Há mulheres maduras, há jovens, há idosas como protagonistas. Elas tem profissão, elas podem ser bad ass (*basta continuar a leitura*) elas estão rompendo novas fronteiras e ajudando tanto a transmitir mensagens positivas sobre a feminilidade, quanto apontar para as transformações da sociedade coreana.  

Quando era pequena, Candy conhece um rapaz que ela irá chamar de "príncipe da colina" e deseja reencontrá-lo.

Bonito, sem dúvida.  Aliás, a telenovela brasileira durante muito tempo teve como função tanto retratar as mudanças na sociedade, quanto colocar em discussão questões relevantes para a sociedade e as mulheres (*divórcio, virgindade, violência doméstica, realização profissional tec.*).  O problema, para mim, foi acusar a influência do shoujo mangá como motivo para personagens sem grandes horizontes na vida.

Hana Yori Dango é o shoujo mangá mais vendido de todos os tempos.

Os dois exemplos citados são Candy, da série CandyCandy, um material de imenso sucesso, mas que é voltado para meninas no fim da infância e adolescentes e que faz parte de um grande filão de histórias sobre jovens louras órfãs na Europa, ou Estados Unidos.  Quando CandyCandy começa, a protagonista é um bebê e mais que ficar esperando seu príncipe, a mocinha se apaixona, tem amigos, sofre perdas (*a morte de Anthony, seu primeiro amor e até de amigos, o abandono de Terence*), ela estuda, se forma, se torna enfermeira (*estamos na I Guerra, 1914-18*) e somente lá, bem no final, ela conhece a verdadeira identidade do seu príncipe.  Não sei de onde em sã consciência decidiram ler Candy Candy como uma apologia ao conformismo feminino ao casamento.

Elenco da versão japonesa do segundo live action de Hana Yori Dango, neste caso, duas temporadas de dorama e um filme para o cinema.

Já Hana Yori Dango, com seus muitos volumes e adaptações para dorama, é mais do que uma história de Cinderela.  Tsukushi Makino não é passiva, ela quer ser independente, ela quer ganhar seu dinheiro, ainda que tenha lá o playboy apaixonado por ela.  E este rapaz terá que mudar pelo menos parte do seu comportamento para conseguir o coração da mocinha.  E, de novo, eles só ficam juntos lá bem no finalzinho, ou seja tem muito mais história do que casar com o príncipe encantado.

Elenco da primeira versão coreana em dorama de Hana Yori Dango.

Resumo desse meu blá-blá-blá e o seguinte, quer valorizar os K-dorama, talvez fosse melhor falar das próprias expectativas da sociedade que produziu esse material, das representações sobre o feminino e as possiblidades das mulheres naquela sociedade.  Culpar os shoujo mangá pela construção de representações passivas das mulheres é muita cara de pau, sabe?  Até porque a Coreia do Sul é uma sociedade tão ou mais patriarcal do que o Japão e o que o shoujo ajudou a fazer por lá foi dar material, mostrar caminhos que foram ampliados pelas próprias autoras locais.  Vide o sucesso das webcomics japonesas e outros manhwa sunjeong que fazem muito sucesso por aí.  Enfim, se alguém quiser, eu faço a tradução do resto do artigo, mas é preciso deixar o pedido nos comentários daqui, ou do Facebook.

1 pessoas comentaram:

Será q rolou uma rivalidade Japão x Coréia? Eu não me arrisco para dizer quem é mais conservador, mas tenho a sensação que novelas e os quadrinhos japonesas e coreanos estão evoluindo junto, cada um faz sentido na sua época. Suponho (pelas imagens) que estão comparando obras de épocas bem diferentes, o que é um pouco injusto. Se os autores tivessem a chance de reescrever as histórias, certamente mudariam muitas coisas...

Tive a oportunidade de reler depois de adulta as revistas "caprichos" da minha época e fiquei abismada. Na época aquilo era algo "moderno" e "ousado", hoje eu não compartilharia a revista com uma adolescente, porque acho que existem conselhos menos retrógrados.

Ps: Enquanto escrevia, me lembrei de um quadrinho que estou acompanhando (The Time When We Were Young), é uma paródia de hana yori dango e outros shoujos da época. É sobre uma editora e escritora premiada que revive as fantasias da sua adolescência quando liga o computador velho onde costumava escrever suas novels durante a adolescência, algo que ela tem vergonha. Ela é sugada para um mundo da sua imaginação onde ela é forçada a dar seguimento ao enredo para poder voltar a sua realidade.

É um deboche dos clichês: como a protagonista cairia e beijaria o mocinho -que é machista e possessivo-, seria sempre salva em uma situação de perigo, adolescentes bebem e nenhum adulto intervém, motos são estacionadas nas escolas, brigam de gangue são importantes para mostrar como o mocinho pode derrotar vários oponentes ao mesmo tempo, sempre vai aparecer um segundo cara para competir pela mocinha, etc. Apesar de estar cansada desse gênero dei muitas risadas e até onde li a protagonista não tem interesse amoroso nos adolescentes - ela só quer sair dali (um bom sinal, pq acho que não é sobre um romance com diferença de idade).

Achei interessante citar porque mostra como o mundo e nós mudamos rápido e amadurecemos. As coisas q faziam sentido passam a não fazer mais e quem sabe algumas violências romantizadas que passaram na nossa adolescência talvez não passem mais.

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