Sexta-feira, terminou na rede Globo a novela Terra e Paixão. Não vou me dar ao desfrute de comentar uma novela, que eu não assisti, mas eu acompanha as notícias, vídeos, enfim, as discussões sobre ela e sei que Kelvin e Ramiro foram alçados a condição de protagonismo por terem conquistado o coração de muita gente. De núcleo cômico, sua história foi se adensando e o primeiro beijo dos dois virou um evento midiático tal e qual o de Félix e Niko em 2014. Sabe aquela coisa de protagonista moral? Então...
É estranho é ver um beijo entre dois homens ter sido transformado de novo em um grande acontecimento de novo? Sim, mas é preciso observar o que aconteceu no Brasil nesta última década. É lamentável, mas oferece muito material para discussão. Mas eu fui assistir à sequência e percebi grandes diferenças em relação ao que já havia ocorrido antes em várias telenovelas do mesmo horário. Como muita gente pontuou, teve música e iluminação brega, tudo o que um casal hetero normalmente tem, e foi um beijão de verdade, que não aconteceu no último capítulo somente.
E estar no horário das 9 da Globo, mesmo com quedas de audiência, é visibilidade garantida. Orgulho & Paixão já tinha construído um belo romance entre dois homens, mas o que aparece na novela das seis, fica na novela das seis, agora, no horário nobre... E, repito, pensem nessa década sombria que vivemos e que ano passado mesmo na Câmara dos Deputados havia gente discutindo conceito de família e querendo o fim do casamento igualitário. É possível perder direitos, já escrevi várias vezes sobre isso, e, quando se perde, difícil recuperar. Quase metade dos brasileiros se diz contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo (*só para não complicar demais*)
As discussões sobre o beijo renderam bate-bocas intermináveis no Twitter e até tivemos intervenção de gente do meio político clamando que Ramiro, matador cruel à serviço do vilão, fosse punido, que não lhe fosse permitida a redenção. Só quem não conhece novela e, mais ainda, Walcyr Carrasco, para acreditar que ele não iria redimir Ramiro, juntá-lo com Kelvin e dar de ombros para a Bispa furando a censura imposta às representações LGBTQIA+ na emissora. Afinal, boa, ruim, ou mediana, Terra e Paixão entregou a audiência que a Globo precisava. No último capítulo, o grande casamento foi o de Kelvin e Ramiro, não o da mocinha titular da novela. E foi na prisão, tá? 😉
Já estendi demais o post, porque só queria recomendar o vídeo do Diversidade Nerd, que discutiu muito bem o casal e todos os limites e possibilidades que a representação do casal (*um gay efeminadíssimo com um homem bronco e criminoso que resiste a sua homossexualidade*) na tela. E eu concordo com ele e respeito muito, muito mesmo, a felicidade que parte da comunidade gay está sentindo com a forma como as coisas foram conduzidas. Há várias camadas a se analisar no caso Kelmiro e é preciso tentar compreender um fenômeno que, para alguns, é demonstração de desconhecimento da própria história das telenovelas.
@diversidadenerd Representação boa ou não? #novelas #noticias #kelmiro #casal #casamento ♬ Suspense, horror, piano and music box - takaya
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