Fui assistir Divertidamente 2 (Inside Out 2) com a Júlia hoje. Importante dizer que é uma continuação que funciona muito bem e não é somente um filme caça-níqueis como tantos outros que estão chegando aos cinemas nesses últimos tempos. Sim, apostar em produtos já conhecidos, em franquias, parece ser a saída segura para os estúdios. É medíocre, mas é como tem sido nos últimos tempos. De qualquer forma, eu fiquei positivamente surpresa ao ver as pessoas na minha sessão, que nem estava cheia, era a primeira da sala, havia umas quatro exibindo o filme simultaneamente, interagindo com o filme, vibraram, riram, torceram e, ao final do filme, aplaudiram. Dei uma volta no shopping e, ao passar de novo em frente ao cinema, ele estava cheio como não via desde Barbie. Bom sinal, eu diria. Vamos ao resumo?
Nesta nova aventura, Riley, a protagonista original, chegou aos treze anos e é oficialmente (*porque, na regra, a puberdade pode começar antes*) uma adolescente. Suas cinco emoções básicas - Alegria, Tristeza, Nojo, Medo e Raiva - terão que se ajustar à presença de novas emoções e tudo ficará caótico até que, no final, as coisas se arrumem em um novo equilíbrio. Novo, sim, porque nada será como antes.
As novas emoções representam, de certa forma, o caos que se instala quando Riley entra na adolescência, sendo o marco, os seus 13 anos. Ansiedade, Inveja, Vergonha e Tédio (*ou ennui, uma palavra francesa que descreve um sentimento que combina cansaço e tédio.*) aparecem no centro de comando da cabeça da menina e querem neutralizar, ou mesmo eliminar, as emoções básicas de Riley.
No mundo real, a garota está terminando o ginásio e logo estará no colegial. Riley, que á muito boa no hockey de gelo, é convidada pela treinadora das Fire Hawks para um acampamento de três dias que pode definir antecipadamente se ela entrará para o time do seu futuro colégio. A menina é muito fã de uma das jogadoras deste time, Val Ortiz, que entrou nas Fire Hawks quando era caloura. Tudo ia muito bem até que suas melhores amigas lhe dizem que não irão para a mesma escola que ela, Riley fica arrasada, por outro lado, a possibilidade de entrar para o time de hockey do colegial faz com que a menina abra as portas para que a ansiedade tome conta dela e modifique o seu comportamento.
Mais uma vez, Divertidamente dá o protagonismo para as personagens femininas. No primeiro filme (*resenha*), tínhamos Alegria e Tristeza no centro, com Nojo e Riley para fechar o elenco. Agora, entram em cena mais duas emoções "femininas", por assim dizer, Ansiedade e Inveja. Talvez Tédio, também, não sei, se for pela dublagem original, seria. Como já ficou desenhado no primeiro filme, que é de 2015, a puberdade é um período de turbulência, de insegurança e as emoções básicas querem se agarrar às estabilidades da infância.
Pensei naquele papo que alguns repetem como um mantra de que a personalidade se define até os 5 anos, algo que é usado para desaconselhar, inclusive, a adoção tardia. Recentemente, vi uma psicóloga falando em 15 anos. O fato, e sou leiga no assunto, é que eu acredito que estejamos sempre nos redefinindo, se não no todo, pelo menos nas partes, conforme passamos pelas experiências da vida. No filme, Alegria lidera as emoções básicas em uma tentativa de livrar Riley de suas memórias tristes, vexatórias, assustadoras, isso, claro, a impede de amadurecer.
E é essa tentativa de proteger a garota que abre espaço para que a Ansiedade produza tanto estrago, acredito, afinal, Riley não consegue olhar para o futuro sem sentir uma grande insegurança. Como será a vida no colegial? Ela vai ficar sozinha? Fará novas amigas? Entrará para o time de hockey? E se não conseguir? Aliás, o filme não explora, mas deveria, o pai chega a dizer que, se a menina fosse aceita nas Fire Hawks, será um primeiro passo para uma bolsa de estudos na faculdade.
Só que a chegada das novas emoções, lideradas pela Ansiedade, instaura um caos que desequilibra totalmente a menina. Houve um momento do filme em que cheguei a ficar nervosa com os efeitos da ansiedade em Riley, achei que a menina fosse enfartar. E temos, mais uma vez, uma jornada pela mente da garota na qual Alegria crê estar salvando a protagonista das emoções que considera invasoras. Ao longo dessa travessia difícil, percebemos como o cérebro de Riley é plástico e vai se reconfigurando conforme ela passa por novas experiências, nem sempre prazerosas, e como ela reage a elas.
No geral, este novo Divertidamente é bem satisfatório, mais uma vez, Alegria precisa aprender a ser menos egocêntrica e aceitar as mudanças. Agora, algumas coisas ficam frouxas, claro. Onde estavam essas novas emoções nos cérebros dos adultos? Do pai e da mãe de Riley? Se elas serão presença na cabeça da menina, deveriam ter sido pacificadas na cabeça dos mais velhos. A Ansiedade do pai e da mãe dá as caras na sala de comando, mas é somente isso.
Outro ponto, fraco do filme, é que lá no original, Riley mostra interesse pelos garotos, mas o Desejo (*ou mesmo o Amor*) não dá as caras no filme. Aliás, como ela passa boa parte do tempo no acampamento do time de hockey, ela só está entre mulheres. Ainda assim, não são discutidos nem sexualidade, nem papéis de gênero em nenhum momento. Nada, nada, passa tudo batido. Se há adolescentes mais novas e mais velhas, alguma coisa teria que vir à baila, mesmo que de forma marginal, mas é como se essas coisas não fizessem parte da vida das meninas, parecem todas assexuadas (*não assexuais, vejam bem, não falo da orientação sexual*).
Em um momento do filme, é dito por Alegria que Riley superou as boy bands. Aos treze anos? Já? E há uma personagem de videogame que está no cofre dos segredos, ele era um dos crushes da menina. Era, vejam bem, não é mais. E não temos muito de camaradagem entre as garotas, também, o relacionamento entre as mais novas e as mais velhas não é horizontal, mas se enfatizam aqueles clichês de filme high school norte-americano, aqueles comportamentos um tanto tóxicos, como o culto aos populares, que muita gente quer importar para o nosso ambiente escolar. Nada disso, claro, estraga o filme.
De resto, como tenho uma filha na puberdade, ainda que ela tenha dez anos, reconheci em alguns comportamentos de Riley, a minha Júlia. Como minha filha ficou quietinha, acho que ela se viu no filme, também. A reação da plateia, formada de crianças principalmente, adultos e alguns poucos adolescentes mostrou que Divertidamente 2 atingiu o alvo. E temos cena pós-crédito, mas nao foi nem a volta da Nostalgia, uma emoção que aparece rapidinho em dois momentos do filme, nem um novo sentimento, mas outra coisa. Me decepcionei um pouquinho.
Quanto à dublagem, ela é excelente, como é comum nos filmes da Pixar e da Disney, mas tão carregada de gírias de nosso tempo que me pergunto quantas delas serão ainda usadas daqui dez anos, menos até. Sei que a ideia é se comunicar com om público, mas é o tipo de coisa que me preocupa um tanto. Ah, sim! E não houve um curta no início do filme. Isso, sim, me decepcionou.
É isso. Se você tiver a chance, assista Divertidamente 2, porque é um filme que faz justiça ao original. Nem sempre é assim. Pelo que consta, já está assegurada uma nova continuação. Vamos ver se Desejo vai aparecer na sala de comando, ou se vão evitar lidar com algo que, desde o primeiro filme, já parecia estar às portas. Foi bom voltar ao cinema, eu estava com saudades.
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