sábado, 6 de setembro de 2025

A Revista Ribon está completando 70 anos: destaques dos anos 1950, 1960 e 1970.


A revista Ribon (Shueisha) é uma das três grandes antologias para meninas mais jovens (*9-13 anos*) do Japão, junto com a Nakayoshi (Kodansha) e Ciao (Shogakukan).  A Ribon está completando 70 anos este ano e as comemorações começaram no ano passado.  Publicada pela primeira vez em 3 de agosto de 1955, era a irmã menor da extinta Shoujo Book, que era para um público mais velho.  Desde a sua criação, a Ribon tem publicado grandes sucessos de público.  Vou fazer uma série de posts sobre o aniversário da revista, usando como base matérias japonesas sobre os 70 anos da revista.


Nos anos 1990, era a revista shoujo mais vendida do Japão, com 2 milhões e meio de exemplares por volume.  O pico foi edição de fevereiro de 1994, lançada no final do ano anterior, que atingiu 2 milhões 550 mil exemplares vendidos. Era a época de sucessos como Marmalade Boy (ママレード・ボーイ), Hime-chan no Ribon (姫ちゃんのリボン) , Gokinjo Monogatari (ご近所物語) e Kodomo no Omocha (こどものおもちゃ). Ela era o mais próximo da Shounen Jump, também da Shueisha, que, sendo semanal, vendia essa média por semana, com picos de 3 milhões, com a diferença de que homens não compram a Ribon.  O declínio de vendas começou em 2002 e, hoje, a revista somente vende 110 mil cópias (*dados de janeiro-março*), mesmo com a internet, é uma queda absurda.  


O Yahoo Japan fez uma série de matérias falando da revista Ribon e de como ela lançou tendências e foi importante, estou comentando a primeira delas, que segue até os anos 1970.  A matéria abre mostrando que a revista estava em sintonia com os novos tempos, que era o da transformação e criação de revistas femininas que substituíam contos por mangás. Um de seus primeiros sucessos, Bonko-chan (ぼんこちゃん), de Toshiko Ueda (*uma AUTORA*) era protagonizada por uma menina cheia de energia e carisma, como as que apareciam nos filmes voltados para o público infanto-juvenil e que, segundo Deborah Shamoon, influenciaram muito na criação de uma cultura feminina que, mais tarde, iria se tornar hegemônica nos mangás.  


Outro marco da revista em seus primeiros tempos foi a publicação de Maki no Kuchibue (マキの口笛), de Miyako Maki, em setembro de 1960.  Este mangá de balé inspirou a criação da boneca Licca, a Barbie japonesa, e o início dos concursos de desenho nos quais as leitoras enviavam suas criações com sugestões de roupas para a protagonista.  Foram três volumes ao todo.


Na edição de junho de 1962 começou a ser publicada Himitsu no Akko-chan (ひみつのアッコちゃん), de Fujio Akatsuka.  A série dará origem ao segundo anime de garota mágica, em 1969.  O artigo do Yahoo enfatiza que a mãe da protagonista era dona de casa e que a maioria das mulheres adultas que apareciam nas séries da Ribon era "do lar".  Enfim, era o modelo de família visto como ideal e não havia interesse, pelo menos nesse momento, de oferecer outras possibilidades de ocupação para as mulheres.  


Na edição de julho de 1966 estreou Mahoutsukai Sally (魔法使いサリー), de Mitsuteru Yokoyama.  Sally foi a protagonista do primeiro shoujo anime, que era um mahou shoujo, que estreou em dezembro do mesmo ano.  Sally é uma aluna do quinto ano, mas, na verdade,  ela veio de uma terra mágica, e seus colegas de classe não sabem que ela é uma bruxa.  O verbete da Wikipedia diz que, no mangá original, ela não se chamava Sally, mas  Sunny.  A série teve forte influência de A Feiticeira, série norte-americana que fazia muito sucesso no Japão.  


O segundo shoujo mangá de esportes estreou na Ribon em setembro de 1968. Viva! Volleyball (ビバ!バレーボール), de Ide Chikae.  A série veio na esteira da vitória da seleção feminina de vôlei nas Olimpíadas de Tokyo de 1964. Ide Chikae continua ativa até hoje, faz muito mangá Harlequin.  Ela é mãe da mangá-ka Kayono, que anda desaparecida.


Em abril de 1970, estreou um dos primeiros mangás da Ribon com uma protagonista adulta e com uma profissão: Kyaa! Sensei (キャー!先生), de Morita Jun.  A protagonista da série é uma professora recém-nomeada de 20 e poucos anos, talvez moderninha demais, a julgar pelas ilustrações que eu encontrei. A matéria do Yahoo enfatiza que essa mudança está ligada ao avanço do movimento feminista no Japão e, certamente, está correta.


Em 1972, Mutsu Ako estreou na revista, mais tarde ela seria a principal responsável pelo que se chamou de Otome-Chic (otome-chikku/乙女ちっく). Essa informação importante não está na matéria do Yahoo, ela veio daqui, mas qualquer pesquisa chegaria nessa informação. Mutsu ganhou popularidade escrevendo séries sobre o cotidiano e a vida amorosa de adolescentes comuns, mas que eram estilosas e bonitas. Outras mangá-kas associadas a esse gênero foram  Yumiko Tabuchi (estreou em 1970) e Hideko Tachikake (estreou em 1973), todas elas produziam para a Ribon.  A Wikipedia diz que todas essas autoras foram influenciadas por Yumiko Ōshima, que é uma das artistas do Grupo de 24 (24年組/Nijuuyo-nen Gumi).


Outro marco destacado pelo Yahoo é a estreia de Designer (デザイナー), de Yukari Ichijo, em fevereiro de 1974.   ichijo estreou em 1968 na Ribon.  Há vários posts sobre ela no blog.  Ela poderia escolher a Nakayoshi ou a Ribon, tinha convite para as duas, mas a revista da Shueisha pagava o dobro da rival.  Designer tinha uma protagonista adulta e é uma série que, nos dias de hoje, muitos provavelmente estaria em  uma revista josei, só que elas não existiam nos anos 1970.  Ami é uma modelo no auge da fama, mas nunca conheceu os pais. Um dia, ela descobre a identidade da mãe (Reika, uma poderosa estilista/designer) e o choque lhe causa um acidente de carro que destruirá sua carreira para sempre. Ami então decide se tornar estilista, graças ao apoio de Toki, uma jovem empreendedora que lidera um império financeiro...  Certamente essa cronologia voltará a falar de Ichijo por causa de Yuukan Club (有閑倶楽部), outra série icônica da Ribon.


E o último destaque desse primeiro post é Utai Wasureta Isshousetsu (歌い忘れた1小節), de Ako Mutsu, que começou a ser publicado em setembro de 1979.  O primeiro capítulo do mangá está aberto aqui.  O resumo da série é o seguinte: Um romance puro que retrata as turbulências da adolescência.  Os estudantes do ensino médio Sachi e Kurataro são melhores amigos desde o ensino fundamental. Eles têm uma conexão especial um com o outro, mas nunca conseguiram expressar seus sentimentos. No entanto, o relacionamento deles fica tenso quando Sachi faz uma viagem sozinha... Uma história de amor feminina, contada por Mutsu Ako.  É nessa parte que a matéria fala do Otome-chic e cita Yumiko Tabuchi e Hideko Tachikake.  O Yahoo pontua que as séries dessas autoras eram a zona de conforto para as leitoras que não queriam ler séries com protagonistas fortes, seja lá o que isso signifique.  😊 Mas olhando o verbete Otome-chic da Wikipedia japonesa, dá para entender melhor. As séries dessas autoras são focadas no dia a dia das adolescentes, sem grandes dramas, tragédias, falando de e para meninas comuns, enfim.

Pelo que eu vi no Comic Vine (*que tem um enorme acervo de capas de revistas*), até novembro de 1968 as capas traziam ilustrações realistas e, a partir do número seguinte, elas passaram a trazer mangás em destaque.  Em um próximo post, a gente continua a cronologia usando como base essas várias matérias do Yahoo sobre os 70 anos da Ribon,  elas vão me servir de guia.

3 pessoas comentaram:

Valéria, o título não deveria ser "A Revista Ribon está(...)"? Gostei da matéria, legal saber desses primórdios do shoujo!

Obrigada por avisar! Eu nem tinha percebido ainda. 😱

Parabéns, Ribon!

Valéria, tem uma ótima seção sobre otometique nesse post: https://osharenippon.tumblr.com/post/736120846408646656/the-golden-years-of-shoujo-manga-part-3

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