Mais um Natal, aniversário de Jesus, porque, acreditando nele ou não, essa data festiva existe para marcar seu suposto aniversário. Queria muito estar feliz fazendo essa postagem, infelizmente, não estou. Só consigo pensar nos feminicídios em que eu tropecei de ontem para hoje. Mulher decapitada na rua em Brasília, homem que trucidou com facão e martelo a esposa e três enteados crianças, sujeito preso por matar a esposa e deixa seu filho MORRER DE FOME, mulher grávida de cinco meses estrangulada pelo marido e, por fim, a morte de Tainara Souza Santos. Ela foi a mulher arrastada por um ex-raivoso, perdeu as duas pernas e estava internada fazia 25 dias. Ela deixou para trás dois filhos ainda crianças. Vocês têm noção do quanto a violência contra as mulheres está escalando? Que só no dia de Natal, sem procurar nada, eu tropecei em três feminicídios violentos? E eu tenho certeza de que amanhã haverá mais.
E eu estou aqui chorando por alguém que eu nem conheço, porque tudo isso é muito, muito revoltante. E o ódio que matou Tainara, mata outras mulheres todos os dias e em todos os lugares do mundo. Mata todas nós um pouquinho. E políticos de extrema-direita menosprezam a vida dessas mulheres, riem em debates quando o tema é invocado, querem nos tirar o mínimo, que é a Lei Maria da Penha.
E esse ódio mata de formas cada vez mais cruéis, porque esses feminicidas não querem SOMENTE matar, como se fosse pouco, eles querem destruir essas mulheres, privando-lhes até da possibilidade de um funeral digno. Me lembrei de uma das piores impiedades, hybris, da mitologia grega, que era desfigurar o guerreiro. É isso, desfigurar, destruir aquilo que exteriormente essas mulheres têm de mais belo, aquilo que esses desgraçados cobiçam, tomam posse e se dão ao direito de destruir.
Enfim, mas eu vou deixar a minha mensagem de Natal, a que eu escrevi para o Facebook e Instagram, porque minha raiva está aqui borbulhando e ainda que esse sentimento me ponha em movimento, é possível sentir outras coisas, é preciso sentir outras coisas. Segue minha mensagem de Natal:
"Não importa se você acredita ou não, mas trata-se de uma festa de aniversário de uma criança que não tinha lugar para nascer. Ele nasceu em um estábulo, em uma manjedoura. A data, 25 de dezembro, é meramente simbólica, porque, como meu primeiro pastor dizia: Natal é quando Jesus nasce no nosso coração. Sempre é Natal para alguém, portanto.
Mas vou me fixar na ideia da falta de lugar. Enquanto alguns têm muito e outros têm pouco, há quem tenha quase nada. Separe um momento da sua festa, caso você esteja fazendo uma, claro, para pensar naqueles que nada têm. Que não tem lugar para nascer, para repousar a cabeça, que tem fome e frio, que estão ameaçados pela guerra e sem esperança no futuro. Ninguém precisa ser religioso para isso, só precisa ser humano, mesmo.
Se indignar com as injustiças, lutar por um mundo melhor para todos, todas e todes, porque somos todos nós humanos e eu não vou excluir ninguém, desejar paz na Terra, nesta aqui mesmo, e que as crianças, todas elas, possam ter um futuro melhor é ter espírito de Natal."

















































0 pessoas comentaram:
Postar um comentário