Ontem a Globo fez uma matéria canalha dizendo que os aposentados e pensionistas brasileiros, a maioria ganhando um salário mínimo, são os que têm mais direitos no mundo e que eles são maior problema para o país que a corrupção. Logo, melhor que morram, é a idéia. Mas eis que por mais minguados que sejam nossos salários, pelo menos temos, sim, muitas proteções, e uma legislação bem menos sexista que em muitos países "ditos" do primeiro mundo.
Hoje saiu uma matéria da BBC sobre a preocupação do aumento nos divórcios no Japão entre os casais mais velhos e de meia idade, porque simplesmente as mulheres, que abriram mão de suas carreiras ou nunca puderão ter uma, vão poder receber pensão. Com a aposentadoria chegando para a geração pós-II Guerra, os baby boomers, muitas mulheres vão se ver obrigadas a conviver com os maridos, que durante toda a sua vida foram completos estranhos, que sustentavam a casa e se mantinham ausentes, enquanto suas mulheres administravam tudo, família, recursos, investimentos em lazer etc. Claro, que um fracasso na educação dos filhos, era vista como uma falha de caráter para a esposa, que também não tinha direito a exigir à fidelidade e afeto, somente respeito. Foi detectado até uma doença de fundo psicológico causada pela presença dos maridos aposentados em casa, noticiado também pela BBC
Bem, por que o governo tem medo? As mulheres não tinham direito a nada e tinham que permanecer em um casamento infeliz por conta disso. Situação ótima para manter as mulheres sob controle. Mulheres infelizes que não raro perseguiam as noras para torná-las tão infelizes quanto elas foram e continuavam sendo. Muita gente estranha, meu marido disse que era exagero de mangá-ka, a situação miserável da mãe de Kira em Mars, mangá que já deveria ter sido publicado por aqui. A coitada não tinha nem pensão do marido morto, nem direito à pensão do segundo marido que havia abusado sexualmente de sua filha. Quando adoece por trabalhar horas e horas em um subemprego (*mulher, meia-idade, baixa qualificação etc*), ela tem que aceitar o estuprador de volta em casa, para não morrer e deixar a filha no total desamparo. Parece Brasil, aquele Brasil das misérias...
O governo japonês certamente tem medo de ter que lidar com homens deprimidos e sem direção na vida, adoecendo e gerando encargos para o Estado. Só que é uma mudança importante. No Japão, por exemplo, a pílula anti-concepcional, que dá o controle do seu corpo às mulheres, somente foi liberada em 2001, se não me engano, embora o aborto, bem mais prejudicial à saúde física e mental das mulheres, fosse liberado. Argumentavam que era imoralidade. Leis sexistas pululam por aí, uma japonesa divorciada tem que esperar seis meses para casar de novo, um homem pode casar imediatamente. De acordo com uma amiga que faz Direito, a lei brasileira neste caso ainda é mais esdrúxula, pois determina nove meses. Só que nossos juízes e juízas em geral são mais racionais e aceitam um teste de gravidez como prova que libera a mulher
Dito tudo isto, não pensem que concordo com a matéria da Globo. Nossos aposentados, em sua maioria, são gente que sofre, que ganha mal e não tem apoio quando adoece. Fora que a matéria focou no aposentado e pensionistas comuns, não nos marajás que se aposentam depois de dois mandatos, por exemplo.
1 pessoas comentaram:
Nunca foi novidade que a Globo compartilhasse idéias com Fernando Henrique Cardoso, chamar logo de cara de vagabundo seria menos poético. É mais lógico culpar o aposentado do que o próprio sistema que permite que a economia seja tão sensível à esses "gastos".
Toda vez que leio algo sobre as leis japonesas me assusto mas, enfim, vivemos num mundo em que, de um lado mulheres fazem petições por direitos como o aborto e de, outro, só na última semana meninas estão livres de sofrer uma mutilação clitoriana. É assombroso que ainda hoje, mesmo com tantos problemas ainda temos o fantasma do conformismo a nos rodear.
Postar um comentário