Queria assistir Kick Ass primeiro, mas estreou em um punhado de cinemas aqui em Brasília e eu teria que ir para longe e sei que amanhã vou estar uma pilha de nervos. Talvez, Toy Story 3 passe a frente. É o tipo de material que recebe a melhor dublagem que se pode fazer aqui no Brasil, então, até vale a pena. Segue a resenha da folha de São Paulo.
Emocionante, longa compõe a melhor trilogia do cinema
Centrado no medo do envelhecimento, "Toy Story 3" tem traços de filme de prisão e cenas assustadoras
RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA
Obsolescência. Um dos maiores palavrões da língua portuguesa. Não existe um tema mais caro à Pixar, a maior e melhor produtora de animações do cinema hoje: o drama de se tornar obsoleto, ultrapassado, descartável. O tema está em "Toy Story", de 1995, e na sequência de 1999. E, de forma direta ou não, em "Os Incríveis" (2004), "Carros" (2006), "Wall-E" (2008) e "Up - Altas Aventuras" (2009). E ressurge agora, com força, em "Toy Story 3". No primeiro filme da trilogia, o caubói Woody (voz de Tom Hanks) e outros velhos brinquedos temiam que seu dono Andy os abandonasse com a chegada do moderno astronauta Buzz (Tim Allen).
No novo filme, com a ida de Andy para a faculdade, Woody e os outros temem terminar no sótão ou, pior, no lixo. Por uma série de circunstâncias, vão parar em uma creche dominada por um urso de pelúcia do mal. A partir daí, "Toy Story 3" se torna um filme de prisão, com cenas bem mais assustadoras que os outros dois da série, mas também com o sensacional alívio cômico fornecido pela participação da boneca Barbie e de Ken.
O sucesso do filme, assim como o da obra da Pixar, reside em alguns paradoxos: faz um divertimento voltado para crianças (mas sempre interessante para adultos) centrado no medo do envelhecimento, da morte. O descarte -seja de um brinquedo, um automóvel ou um robô- nada mais é do que uma representação dessa ideia. E a posição sistemática da Pixar contra o descartável não deixa de ser uma atitude política numa sociedade de consumo predatório.
ARTESANATO PERDIDO
A produtora se vale da tecnologia de ponta para fazer a defesa de valores antigos (não antiquados), para resgatar um artesanato – de roteiro, de construção de personagens, de fluência narrativa – que Hollywood parece ter perdido. O esforço é mais uma vez bem-sucedido em "Toy Story 3", um complemento tão emocionante e engraçado quanto seus dois antecessores – o que transforma a franquia da Pixar na melhor trilogia da história do cinema. Em outras séries, de "Star Wars" a "O Poderoso Chefão", de "Homem Aranha" a "Shrek", há sempre ao menos um elo fraco. Aqui não.
Editor dos dois primeiros filmes (e codiretor do segundo), Lee Unkrich assumiu sozinho o timão de "Toy Story 3" e manteve a mistura de imaginação e precisão que fizeram a fama de seu mentor John Lasseter.
Na Hollywood de hoje, o mais colaborativo projeto cinematográfico é também um dos mais autorais, com muito mais personalidade do que a maioria dos diretores americanos pode ostentar. Por fim, o começo: "Day & Night" (dia e noite), o curta da Pixar que abre a sessão de "Toy Story 3", é não apenas espetacular, como um dos poucos filmes que justificam plenamente o uso do 3D.
Centrado no medo do envelhecimento, "Toy Story 3" tem traços de filme de prisão e cenas assustadoras
RICARDO CALIL
CRÍTICO DA FOLHA
Obsolescência. Um dos maiores palavrões da língua portuguesa. Não existe um tema mais caro à Pixar, a maior e melhor produtora de animações do cinema hoje: o drama de se tornar obsoleto, ultrapassado, descartável. O tema está em "Toy Story", de 1995, e na sequência de 1999. E, de forma direta ou não, em "Os Incríveis" (2004), "Carros" (2006), "Wall-E" (2008) e "Up - Altas Aventuras" (2009). E ressurge agora, com força, em "Toy Story 3". No primeiro filme da trilogia, o caubói Woody (voz de Tom Hanks) e outros velhos brinquedos temiam que seu dono Andy os abandonasse com a chegada do moderno astronauta Buzz (Tim Allen).
No novo filme, com a ida de Andy para a faculdade, Woody e os outros temem terminar no sótão ou, pior, no lixo. Por uma série de circunstâncias, vão parar em uma creche dominada por um urso de pelúcia do mal. A partir daí, "Toy Story 3" se torna um filme de prisão, com cenas bem mais assustadoras que os outros dois da série, mas também com o sensacional alívio cômico fornecido pela participação da boneca Barbie e de Ken.
O sucesso do filme, assim como o da obra da Pixar, reside em alguns paradoxos: faz um divertimento voltado para crianças (mas sempre interessante para adultos) centrado no medo do envelhecimento, da morte. O descarte -seja de um brinquedo, um automóvel ou um robô- nada mais é do que uma representação dessa ideia. E a posição sistemática da Pixar contra o descartável não deixa de ser uma atitude política numa sociedade de consumo predatório.
ARTESANATO PERDIDO
A produtora se vale da tecnologia de ponta para fazer a defesa de valores antigos (não antiquados), para resgatar um artesanato – de roteiro, de construção de personagens, de fluência narrativa – que Hollywood parece ter perdido. O esforço é mais uma vez bem-sucedido em "Toy Story 3", um complemento tão emocionante e engraçado quanto seus dois antecessores – o que transforma a franquia da Pixar na melhor trilogia da história do cinema. Em outras séries, de "Star Wars" a "O Poderoso Chefão", de "Homem Aranha" a "Shrek", há sempre ao menos um elo fraco. Aqui não.
Editor dos dois primeiros filmes (e codiretor do segundo), Lee Unkrich assumiu sozinho o timão de "Toy Story 3" e manteve a mistura de imaginação e precisão que fizeram a fama de seu mentor John Lasseter.
Na Hollywood de hoje, o mais colaborativo projeto cinematográfico é também um dos mais autorais, com muito mais personalidade do que a maioria dos diretores americanos pode ostentar. Por fim, o começo: "Day & Night" (dia e noite), o curta da Pixar que abre a sessão de "Toy Story 3", é não apenas espetacular, como um dos poucos filmes que justificam plenamente o uso do 3D.
TOY STORY 3
DIREÇÃO Lee Unkrich
PRODUÇÃO EUA, 2010
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO ótimo
DIREÇÃO Lee Unkrich
PRODUÇÃO EUA, 2010
CLASSIFICAÇÃO livre
AVALIAÇÃO ótimo
2 pessoas comentaram:
Só existe um crítico que vale a pena ser lido quando o assunto é Pixar: Michael Barrier. Todos os outros são meros deslumbrados que não enxergam um palmo na frente do nariz... infelizmente.
O que um grande filme, mesmo que alguns não convenceu definitivamente acho que mais gostou, se para mim foi inesquecível da primeira parte. A Disney conseguiu de novo, de novo e mudou-nos cativou com esses brinquedos tão caros.
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