sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Comentando o capítulo 1 de Bridgerton (Netflix/2020): Nenhuma mocinha merece um irmão como aquele.

Esta será uma resenha bem rapidinha, mas eu estava bem ansiosa para a estreia de Bridgerton e fiquei muito frustrada quando deu meia noite e a série não entrou.  Sim, eu sei, questões de fuso horário, mas vi o primeiro capítulo cedinho de manhã.  Para quem não sabe, a série, que começa em 1813, contemporânea, portanto, dos romances de Jane Austen, é baseada na série de romances de Julia Quinn e produzida pela poderosíssima  Shonda Rhimes.  O primeiro capítulo foi simpático.  Se eu não me segurar sigo assistindo tudo de enfiada como foi com o Gambito da Rainha.  Só que queria assistir Soul e tive que parar.  Sim, vai ter resenha de Soul amanhã, provavelmente.

Essa primeira temporada da série segue o livro The Duke and I (O Duque e Eu) e conta a história de Daphne Bridgerton (Phoebe Dynevor), que é apresentada na sociedade e provoca grande repercussão por ser elogiada pela rainha (Golda Rosheuvel).  No entanto, seu irmão mais velho Anthony (Jonathan Bailey), que herdou o título de visconde do pai, decide obstruir boa parte dos pretendentes fazendo com que a moça passe de grande promessa a fiasco da temporada.  Concomitantemente, o duque de Hastings, Simon Basset (Regé-Jean Page), retorna à Inglaterra e está disposto a não se casar e deixar que seu título morra com ele.  Hastings é um dos melhores amigos do irmão de Daphne e os dois acabam entrando em um acordo, fingirão que estão envolvidos, ele para se livrar de pretendentes e ela para atrair de novo a atenção de homens interessantes.

O capítulo #1, que apresenta todas as personagens relevantes da série, termina nesse pé.  Ao longo do episódio, temos a narração de Lady Whistledown (Julie Andrews), que publica uma espécie de jornal de fofocas capaz de destruir reputações, ou construí-las.  Se Daphne começa como sensação da temporada, a moça logo é suplantada por uma beldade vinda do interior, Marina Thompson (Ruby Barker).  A jovem fica hospedada na casa de um parente, Lord Featherington (Ben Miller), cuja esposa cafona, Lady Portia (Polly Walker), está desesperada para conseguir um casamento vantajoso para suas três filhas, Penelope (Nicola Coughlan), Prudence (Bessie Carter) e Philipa  (Harriet Cains).  Como fazer isso se todos só tem olhos para Marina?

Ao longo do episódio, temos a exposição de uma série de informações sobre papéis de gênero tradicionais estabelecidos na Inglaterra da Regência.  Um homem pode esperar e escolher, especialmente, quando tem um título.  Já uma moça bem nascida não tem outra opção a não ser o casamento e ele não pode demorar.  Para se casar bem precisa aparentar pureza, passar longe de escândalos e ter um bom dote. Daphne parece estar no caminho certo, não fosse seu traste de irmão.  Para mim, ele é a personagem mais intragável da série até agora.  


O rapaz é um libertino, mantém uma amante (Sabrina Bartlett) faz muito tempo e mal vem à casa da família, onde a mãe (Ruth Gemmell) reside com seus irmãos e irmãs.  São dele, aliás, as cenas de nudez e sexo do episódio, não fossem essas sequências, o seriado teria uma classificação indicativa bem mais baixa.  Enfim, o sujeito desconfia de todos os homens que se aproximam de sua irmã, porque, claro, ele conhece muitos deles na intimidade e por se tomar como exemplo.  Quando é pressionado pela mãe a mudar de atitude, ele decide apressar o casamento da moça sem levar os desejos dela em consideração.

Se a atitude de Anthony em relação à amante, incluindo aí o fato de não a considerar uma dama, é aceitável dentro das convenções da época, empurrar a irmã de forma precipitada para um sujeito que ela detesta, não é.  Daphne teria tempo, não era necessário resolver as coisas em uma temporada só.  O seriado precipita as coisas justificando que ela ficaria manchada, ou algo assim.  A pobre Daphne termina perseguida por um pretendente mais velho e desagradável (Jamie Beamish), mas que tem o consentimento de seu irmão.  O sujeito parece bonzinho diante de todos, mas quando consegue ficar à sós com a moça, mostra quem verdadeiramente é.  O que só reforça que o irmão de Daphne é um pomposo imbecil e péssimo juiz de caráter.


Já de Hastings, sabemos pouco.  No livro, e eu só li o início, a história começa contando o nascimento dele e a relação péssima do moço com o pai.  O primeiro capítulo só sugere as coisas, ele perdeu a mãe muito cedo e nunca se deu com o pai.  Há um diálogo muito bom entre ele e o irmão de Daphne sobre a obrigação de gerar descendência.  Hastings está decidido a não se casar, Anthony, também.  O primeiro o alfineta perguntando se irá ficar para sempre com a amante, ele diz que pode fazer isso, porque tem irmãos que podem gerar filhos por ele.  E, sim, era uma opção, mas não é algo comum, nem do agrado da mãe do rapaz, a Viscondessa Viúva.

Voltando à Hastings, o moço, Regé-Jean Page, é um ator belíssimo.  Olhar para ele já vale um pouco da atenção à série.  E achei muito interessante colocarem em cena um elenco multirracial sem se importar com isso. Mas Bridgerton é uma releitura do período, com muita cor, misturas de épocas diferentes, e por aí vai.  Quem entende de música percebeu inserções de material contemporâneo na série, eu não conseguiria perceber nada se não fosse algo muito evidente.  Sou um zero à esquerda nesse quesito.

Diferentemente do novo Emma, o colorido é mais para criar um tom de fábula mesmo, porque o figurino é bem livre, por assim dizer, começando com a rainha usando uma moda de trinta anos antes e várias moças de cabelo solto.  E Hastings, não sei por qual motivo, não usa gravata.  Isso meio que me dá nervoso.  Enfim, há duas cenas cretinas envolvendo espartilhos no episódio.  A primeira com uma das moças Featherington sendo estrangulada para ficar com uma cintura absurdamente fina por ordem da mãe.  Essa cena é clichê, está em vários filmes, mas não faz sentido algum nesse período, porque os vestidos império/regência não eram acinturados.  Ninguém poderia apreciar a cintura da moça, porque o traje não enfatizava isso.

A segunda cena não é menos cretina.  A protagonista está usando stays (o espartilho da época) sem chemise (*a camisa de baixo*) e há um close nos machucados na pele da moça.  Claro que machuca, por isso que não se usa desse jeito direto sobre a pela.  É uma metáfora para a situação ruim na qual ela se encontra, pressionada a casar e com o irmão atrapalhando todas as possibilidades decentes que ela tem.  Agora, poderiam fazer a coisa de outro jeito, porque é um erro bem grosseiro mesmo.

É isso.  Uma review sem spoilers.  Gostei muito da atriz que faz a Penelope, que é tiranizada pela mãe por ser gorda e ler demais, e da irmã Bridgerton tomboy,  Eloise (Claudia Jessie).  Espero terminar de assistir a temporada esta semana e pretendo fazer uma grande resenha juntando todos os outros capítulos se conseguir.  Vou tentar terminar o livro, também, mas tentar separar as duas coisas, porque adaptação é adaptação, não tem obrigação nenhuma de seguir fielmente o original. De resto, com sua pegada pós-moderna, Bridgerton tem tudo para ser um sucesso.

3 pessoas comentaram:

Eu estou amando a série ! Vejo muita gente criticando por não ser fiel aos livros, mas estou nem aí, eu me divertindo e me emocionando está ótimo ! Mas realmente o Anthony está bem chatinho, fora que ele parece sempre desarrumado: descabelado e com cara de quem correu uma maratona. Eu espero muito que a Netflix não cancele a série para chegar no meu livro favorito : o conde enfeitiçado, que é a história da Francesca. Gente, e esse Simon gato com voz de veludo ? Já quero 😂

Eu ameiiiii olhei tudo em 1 dia . Não consegui me conter 🤪

Eu também detestei as cenas de espartilho. Tanto por serem clichês quanto por serem mentirosas.

PS: Anthony protagoniza o meu livro preferido da série, "O Visconde Que me Amava", mas nessa temporada ele estava insuportável mesmo.

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